ArcelorMittal estuda novo investimento no Espírito Santo
Decisão sobre instalar um laminador de tiras a frio em Tubarão pode sair este ano. Estrutura tende a atrair novas indústrias ao Estado
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Agregar valor ao aço produzido no Espírito Santo. É com esse objetivo que a ArcelorMittal estuda implantar em sua unidade em Tubarão, na Grande Vitória, um Laminador de Tiras a Frio (LTF) e galvanização.
A viabilidade do investimento no Estado está em análise, e a decisão pode sair ainda este ano. Caso seja aprovado o projeto, as obras começarão em 2025, com operação prevista para 2027.
Esse foi um dos pontos tratados pelo CEO da ArcelorMittal Aços Planos América Latina, Jorge Oliveira, em visita à Rede Tribuna para entrevista no quadro Histórias Empresariais. Ele se mostrou otimista com relação à decisão de implantar no Estado o novo LTF.
A siderúrgica planeja “verticalizar a produção”, ou seja, produzir um aço mais elaborado, fino e resistente, que pode ser usado, por exemplo, para fabricar carros e eletrodomésticos. Hoje, a produção em Tubarão é de aços laminados a quente, menos elaborados, que são enviados a outras unidades para passar por novos processos.
Ele frisou que o LTF no Estado, se confirmado, atrairá várias indústrias, dinamizará a economia capixaba e criará mais empregos.
Jorge Oliveira falou ainda da busca pela diversidade no quadro de funcionários da empresa e contou sua trajetória. O vídeo na íntegra pode ser conferido no portal do Tribuna Online no YouTube.
PERFIL
Jorge Luiz Ribeiro de Oliveira
- É CEO da ArcelorMittal Aços Planos América Latina e vice-presidente da ArcelorMittal Brasil. É natural de São Fidélis, no Rio de Janeiro.
- É graduado em Engenharia Metalúrgica pela Universidade Federal Fluminense e participou de Programas Executivos na Kellogg School of Managment, nos Estados Unidos, e Insead, na França.
- Iniciou sua carreira na ArcelorMittal Tubarão há 34 anos como estagiário de engenharia.
- Em 1989, ele se tornou gerente de seção dos altos-fornos. Antes de sua função atual, Jorge foi presidente e diretor-executivo da AM/NS Calvert, nos Estados Unidos.
A Tribuna – A ArcelorMittal Tubarão responde por 13% de toda a riqueza criada no Estado, ou seja, 13% do PIB capixaba. Então, nada melhor do que ouvir a história dessa companhia.
Jorge Oliveira – Esse estudo (do PIB) foi feito por economistas do Estado e da Ufes. Esse impacto foi comprovado e a gente, entre diretos e indiretos, emprega cerca de 10 mil pessoas aqui em Vitória.
A nossa organização no Estado, a ArcelorMittal Tubarão, vai completar em 30 de novembro 40 anos de operação. Começamos a definição do projeto da CST na década de 1970, a construção entre o final da de 1970 e início da de 1980. Iniciamos operação em novembro de 1983, então 2023 é um ano importante com o nosso aniversário.
Começamos como empresa estatal, um grupo brasileiro chamado Siderbrás, que organizava as várias siderúrgicas. Nascemos como uma parceria entre o governo brasileiro, uma empresa do Japão chamada Kawasaki na época, e uma da Itália chamada Italimpianti.
Começamos nossa operação e em 1992 passamos por privatização, o que trouxe para a gente uma nova fase muito importante de investimentos.
Após a privatização, em 2004 nos transformamos em Arcelor, um grupo europeu que adquiriu a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) na época e, em 2003, nós nos transformamos em ArcelorMittal, com a família Mittal, de um grupo siderúrgico também europeu, que adquiriu a Arcelor. Passamos a ser ArcelorMittal em 2006.
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Como o senhor explicaria ao público, que não conhece bem a empresa, o trabalho feito pela ArcelorMittal?
A gente é uma produtora de aço. O aço faz parte da nossa vida. O aço está no automóvel que a população usa, na geladeira e no eletrodoméstico, de forma geral.
Está nas construções, nos galpões e nos edifícios. A produção de aço é um processo de transformação de minério de ferro. No caso da nossa organização, aqui no Estado, o minério vem de Minas Gerais e a gente também compra pelota do nosso parceiro, a Vale.
O aço é produzido, encaminhado para outros processos e tudo isso gera uma atividade econômica e gera emprego...
Com certeza. Esse PIB gerado pelo impacto nosso, só neste ano, por exemplo, até o momento, já fez compras no Estado de cerca de R$ 3,7 bilhões. É cerca de 80% da nossa demanda de materiais e serviços.
As nossas compras permeiam a maioria dos municípios do Estado. A gente compra onde tem a aquilo que pode nos servir, não só na Grande vitória, mas em qualquer outro município que tenha algo que nos atenda.
A empresa estuda a viabilidade da laminação a frio no Estado. Há um cronograma para o caso de isso ser confirmado?
Está numa fase de estudo. Esperamos ter sinalização da viabilidade nos próximos meses... Espero que ainda ao longo deste ano para entrar no processo de aprovação.
Estamos num debate, e a ideia é ter uma laminação a frio com produtos revestidos, ou seja, uma galvanização, também no Estado a ideia é instalar aqui (a empresa já opera com esse tipo de linha na unidade Vega, em Santa Catarina).
É um projeto que a gente enxerga que estará operando em torno do ano de 2027. E esse projeto, ele tem um potencial de alavancagem de uma série de novos negócios dentro do Estado.
No segundo semestre do ano que vem, sendo aprovado, no início de 2025, começa a obra efetivamente. Aí é mais ou menos dois anos a dois anos e meio de obra. Por isso estimo em 2027.
O que é esse projeto?
A parte mais fina da bobina quente (aço que é hoje produzido em Tubarão) precisa passar para determinadas aplicações para um afinamento da sua espessura. Para trazer espessura é da ordem de 0,3 a 0,4 milímetro.
Aí é um processo de laminação a frio, que é um processo de rolo de laminação, onde faz a prensagem de forma contínua, o afinamento no material e pode aplicar o laminado a frio direto, por exemplo, na fabricação da geladeira.
É esse mesmo produto laminado a frio e tem um processo a frente de galvanização. Passa num banho mesmo, líquido, por exemplo, de zinco, para aumentar a vida útil, a resistência e a corrosão.
Quantos empregos criaria esse projeto em Tubarão?
É precoce falar neste momento, mas seria em torno de 250 a 300 empregos. Acredito que deve gerar na operação entre diretos e indiretos, na operação do dia a dia. Já na obra é precoce também, mas dá para estimar em torno de 1.000 a 1.500 pessoas.
CURIOSIDADES
Novo produto para evitar corrosão
O novo produto, Magnelis é produzido em linha de galvanização por imersão a quente, cujo banho de metais fundidos possui composição de zinco, diz Jorge Oliveira.
“Tem uma característica que vai fazer uma defensa metálica, tem que fixar, furar a peça para se encaixar uma na outra. Esse produto contém magnésio nele e é autoimune. Com isso, bloqueia aquele ponto que vai gerar uma corrosão”.
Entrou via concurso público na então CST
Jorge Oliveira contou que entrou na empresa na época da Companhia Siderúrgica Tubarão (CST), ou seja, por concurso público.
“A empresa estatal trabalha em turnos. Na época trabalhei em turno vendo como é que é a vida na empresa, aprendendo o dia a dia, fazendo a conexão do que se aprendeu na escola. Do que se estuda se utiliza um pouco, aplicando no dia a dia da empresa”, contou.
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