Aposentadorias perdem até 40% do poder de compra em 10 anos
Inflação de produtos e serviços acima da média que corrige os benefícios do INSS vem corroendo capacidade de consumo dos idosos
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Viagens, plano de saúde, saídas aos finais de semana para comer fora e ainda reservar um “dinheirinho” no final do mês para usar em situações de emergência. Esses são alguns exemplos que fazem parte do passado daqueles que, por anos, trabalharam para garantir uma aposentadoria mais confortável.
Em uma década, segundo relatos de aposentados e pessoas da família, a perda chega a ser de cerca de 40%.
“Meu marido, que era motorista, aposentou há 22 anos, por tempo de serviço. A gente chegou a ter três carros, Fiat Uno, e agora não temos mais condições, pois o poder de compra caiu muito”, contou a dona de casa Rosana Passos Fraga, 66 anos.
Um servidor público aposentado, 68 anos, que pediu para o seu nome ser preservado, já viajou para 20 estados brasileiros, mas admitiu: “O cenário mudou em 10 anos. Tive uma perda de 40% do poder de compra. Só com medicamentos, gasto entre R$ 800 a R$ 1 mil por mês, fora alimentação”.
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Janio Araújo, presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados Pensionistas e Idosos no Estado, divulgou um levantamento, que mostra as perdas do poder de compra. Entre os dados da pesquisa, está o da redução do poder de compra da cesta básica, medida pelo Procon São Paulo.
Nesse caso, o dado mostra que em 2017 o salário mínimo dava para comprar o equivalente a 1,44 cesta básica. Já em 2022, o salário não paga nem uma completa (0,99). A redução foi de cerca de 31%. O levantamento aponta que 70% dos aposentados recebem um salário mínimo.
“A grande luta é a recuperação do poder de compra que foi perdido no decorrer do tempo porque as aposentadorias são corrigidas pela inflação, ou seja, você está recompondo as perdas salariais. Então, não melhorou o poder de compra dos aposentados em nada”.
O presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-ES), Claudeci Pereira Neto, frisou que nos últimos anos o salário mínimo não teve ganho real, pois não teve reajuste acima da inflação (IPCA).
“O índice é calculado levando em consideração uma cesta de bens e serviços. Só que os aposentados têm um consumo específico. Itens como alimentos, medicação e planos de saúde, por exemplo, tiveram reajustes muito acima da inflação. Por isso eles sentem que conseguem comprar cada vez menos”.
Sem parar de trabalhar
Para o aposentado Jaelson Jorge, de 62 anos, deixar de trabalhar não foi possível, mesmo após a aposentadoria. “Trabalhei muitos anos no comércio, em duas empresas, durante todo o tempo. Mas, como o valor do benefício é baixo, não é possível deixar de trabalhar, já que não dá para comprar muita coisa”, disse.
Ele revelou que passou a trabalhar para um condomínio após a aposentadoria e usa o valor para manter as demais despesas da casa e de um veículo. “Percebo, sim, que o valor que recebia há alguns anos, quando me aposentei, dá para comprar cada vez menos. Não dá para contar só com a aposentadoria”.
Acabaram as viagens
Aposentado há 11 anos, um beneficiário do INSS de 62 anos contou que sempre teve investimentos que complementaram sua aposentadoria. Mesmo assim, ele sente que hoje não é possível fazer tanta coisa com o valor recebido.
“Trabalhava na área da metalurgia em uma grande empresa. Após começar a receber o benefício, fui para ilhas do Caribe, viajei muito. Hoje, mantenho investimentos para complementar a renda, mas não consigo mais ter o padrão de vida de 10 anos atrás”.
OS NÚMEROS
Aposentados no Estado: 699.024 beneficiários o INSS tem o Espírito Santo
Salário mínimo
70% dos aposentados sobrevivem com um salário mínimo, segundo dados do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos.
Cesta básica
Entre os dados que comprovam a queda do poder de compra dos aposentados está o da cesta básica, medida pelo Procon São Paulo.
A cesta, além de produtos alimentícios engloba produtos de higiene e limpeza.
Quantidade de cestas básicas compradas com 1 salário mínimo
2017: 1,44 cestas básicas
2018: 1,35 cestas básicas
2019: 1,27 cestas básicas
2020: 1,04 cestas básicas
2021: 1,01 cestas básicas
2022: 0,99cestas básicas
Reajustes do salário e inflação entre janeiro /2020 e maio/2022
Salário mínimo: 16,65%
IPCA: 20,54%
Alimentação: 32,47%
Alimentação no domicílio: 40,06%
Arroz: 50,09%
Feijão preto: 45,95%
Feijão carioquinha: 37,16%
Óleo de soja: 160,14%
Carnes: 32,33%
Leites e derivados: 43,04%
Leite longa vida: 56,47%
Margarina: 49,10%
Aves e ovos: 44,91%
Frango em pedaços: 47,25%
Ovo de galinha: 42,60%
Café moído: 85,51%
Farinha de trigo: 59,27%
Fonte: INSS e levantamento Desvalorização do salário mínimo, do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos.
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