Da teoria à prosperidade: o Nobel que o Brasil precisa ouvir
Pesquisa premiada destaca a inovação e o empreendedorismo como motores do crescimento econômico
Os pesquisadores Joel Mokyr, Phillipe Aghion e Peter Howitt receberam o Prêmio Nobel de Economia de 2025. Mokyr usou observações históricas para identificar os fatores necessários para o crescimento baseado em inovações tecnológicas.
Aghion e Howitt desenvolveram um modelo matemático que demonstra, de forma rigorosa, como a inovação, o empreendedorismo e a destruição criativa sustentam o crescimento econômico de longo prazo. Seu trabalho deu precisão científica a ideias originalmente formuladas por Joseph Schumpeter, nas décadas de 1930 e 1940, quando introduziu o conceito de destruição criativa como motor essencial do progresso econômico. Essas ideias foram posteriormente ampliadas por Peter Drucker, a partir da década de 1950, quando destacou o papel sistemático da inovação e do empreendedor como agente de mudanças dentro das organizações e da economia.
As contribuições de Schumpeter e Drucker, de grande importância, eram em sua maioria qualitativas e conceituais. O avanço alcançado por Aghion e Howitt foi transformar esses conceitos visionários em um modelo analítico mensurável, no qual a inovação é tratada como um fator endógeno — ou seja, algo que nasce dentro da própria economia, impulsionado por conhecimento, pesquisa, desenvolvimento e incentivos institucionais.
A relevância dessa pesquisa vai muito além da teoria: ela oferece aos formuladores de políticas públicas um instrumento para compreender e mensurar como os investimentos em inovação se traduzem em produtividade e prosperidade. Aghion e Howitt construíram um modelo testável para explicar o crescimento econômico. O principal recado é claro — o crescimento resulta de políticas de criação de um ambiente que premie a criatividade, a competição e a busca pelo conhecimento.
As lições são diretas e urgentes. O Brasil precisa construir políticas de longo prazo que estimulem o empreendedorismo, reduzam a burocracia e promovam a inovação em todos os setores. Em vez de proteger indústrias ultrapassadas ou conceder incentivos baseados em alianças políticas, o Estado deve fomentar ecossistemas regionais de inovação, aproximando universidades, centros de pesquisa e empresas. Investir em educação técnica e científica, ampliar o acesso a capital de risco e facilitar a difusão tecnológica são caminhos essenciais para romper o ciclo de baixo crescimento e dependência de commodities.
Da mesma forma, é fundamental valorizar o erro e o risco — características intrínsecas ao processo inovador —, e abandonar a visão punitiva que ainda domina o ambiente regulatório e empresarial brasileiro. Um país que teme o fracasso acaba por sufocar o empreendedorismo e afastar talentos.
O trabalho de Aghion e Howitt reforça que prosperidade não se constrói apenas com capital ou infraestrutura, mas com ideias, instituições e indivíduos capazes de transformar conhecimento em progresso. Para o Brasil, a mensagem é inequívoca: o futuro dependerá menos de políticas de proteção e mais de políticas de criação. É pela inovação que o país poderá alcançar um crescimento duradouro e competitivo.
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