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Colunista

Leitores do Jornal A Tribuna

“Ai de ti, Camburi” esmiúça as relações humanas contemporâneas

“Ai de ti, Camburi” mistura ficção, crítica social e reflexão sobre a vida contemporânea feminina

Maria Isolina de Castro Soares | 27/10/2025, 13:20 h | Atualizado em 27/10/2025, 13:20

Imagem ilustrativa da imagem “Ai de ti, Camburi” esmiúça as relações humanas contemporâneas
Maria Isolina de Castro Soares é professora aposentada do Ifes campus Colatina |  Foto: Divulgação

Ai de ti, Camburi (Edufes, 2024), de Andréia Delmaschio, foi a obra vencedora do V Prêmio Ufes de Literatura na categoria romance. A trama, o conflito que se desenrola, a criação das personagens, o ambiente e outros elementos presentes em uma narrativa da modalidade romance, todos muito bem desenvolvidos, mergulham o leitor em um texto que é muito mais do que uma obra de ficção que resvala para o autobiográfico.

Ensaio etnográfico? (existe isso?) Ensaio sociológico? O olhar com que a autora desnuda a nossa sociedade, nossos hábitos, o sistema capitalista, a hipocrisia nos relacionamentos, o dia a dia do trabalho, principalmente da mulher (correria, cuidar dos filhos, ver casa, comida, ter satisfação emocional e sexual, lazer, dar atenção à família, aos amigos…) avulta e forma uma visão crítica, sarcástica, de uma ironia reveladora dos contrastes da sociedade, da luta da mulher, do persistente machismo (machismo inclusive introjetado por personagens femininas, como Mira, protótipo de um tipo de mulher que se quer submissa ao homem).

O desnudamento da vida contemporânea se faz em diálogo constante com a filosofia, a sociologia, a psicologia, a literatura, as artes, revelando pesquisa de elementos que dão um suporte firme à visão de mundo que a narradora revela. Assim, há situações intertextuais em que aparece o punctum em descrições da paisagem, como se um olhar captasse exatamente o que faz a diferença naquele cenário; situações de ato falho da psicanálise, que ressaltam a confusão emocional da personagem masculina; a má consciência nietzschiana, ressaltando o sentimento de culpa e a impossibilidade de fugir da situação estressante… O diálogo com as diferentes modalidades de conhecimento humano é constante, e o leitor quer reler a obra para conferir o que, a uma primeira leitura, lhe escapou.

As questões colocadas sobre ficção e realidade, sobre autoficção, sobre as implicações de se sentir reinventado na escrita, o que se sente, o que as personagens podem fazer e dizer, o tudo virar papel, afinal de contas, dão mais um viés especial à obra

O extremo cuidado com a linguagem dá um alento ao leitor, que encontra, no texto, um perfeccionismo que não se tem encontrado em muitas obras contemporâneas de sucesso.

O título e a referência à crônica de Rubem Braga e às passagens bíblicas reforçam o desencanto com rumos da sociedade contemporânea, mas não há desalento na narradora, apenas consciência dos inúmeros problemas que têm se agravado com a disseminação cada vez maior, aqui e lá fora, de ideias retrógradas, conservadoras, abrindo espaço para grupos extremistas se solidificarem. Ao olhar o entorno com atenção de pesquisadora, Andréia Delmaschio constrói um romance de resistência.

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