Cuidado individualizado aos idosos que tratam o câncer
Coluna foi publicada nesta quarta-feira (04)
Atualmente, o Brasil conta com 31,2 milhões de pessoas consideradas idosas, segundo o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa faixa etária representa 14,7% da população total, com aumento de cerca de 40% entre 2012 e 2021.
Paralelamente ao crescimento da população idosa, o câncer surge como uma das principais causas de morte nesse grupo populacional. De acordo com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), as doenças neoplásicas são a segunda maior causa de falecimento entre os idosos, atrás apenas das doenças cardiovasculares.
Esses dados ressaltam a importância da capacitação dos profissionais de saúde para tratar o câncer na terceira idade, utilizando técnicas cirúrgicas e medicamentos mais modernos que podem oferecer tratamentos transformadores e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Nesse cenário, a oncogeriatria se destaca pela capacidade de desenvolver estratégias de tratamento que consideram as particularidades do organismo das pessoas acima de 60 anos. Embora não seja uma especialidade médica formal, essa formação combina a experiência do geriatra com a do oncologista, permitindo uma avaliação de saúde mais abrangente do idoso, prevenindo complicações e antecipando situações críticas.
Essa abordagem permite identificar as melhores formas de prevenir, diagnosticar e tratar o câncer em pacientes idosos, considerando não apenas as mudanças fisiológicas associadas à idade, mas também ligadas às características individuais de cada paciente.
A avaliação oncogeriátrica considera aspectos nutricionais, cognitivos, comorbidades, funcionalidade, doenças preexistentes, grau de autonomia, condição física geral e rotina farmacológica, incluindo possíveis interações medicamentosas. Como se pode notar, é um cuidado de natureza completa, que tem como objetivo uma visão integrada do cuidado e da atenção à saúde do idoso.
A oncogeriatria se configura como um diferencial no tratamento do câncer para os idosos, e o sistema de saúde brasileiro precisa se adaptar a essa realidade. Estima-se que, em 2050, aproximadamente 30% da população brasileira será composta por idosos, enquanto a Sociedade Americana de Câncer projeta aumento de 77% nos casos de câncer em todas as faixas etárias.
Portanto, a oncogeriatria deve focar no bem-estar do paciente de maneira abrangente, considerando o quadro de saúde individual e a evolução de novos quimioterápicos e procedimentos cirúrgicos. Integrando os esforços da geriatria e da oncologia, a medicina pode oferecer respostas mais eficazes para o tratamento do câncer em pacientes da terceira idade, abordando as dimensões médica, social e funcional. Com o crescimento da população idosa no Brasil, incorporar a oncogeriatria como parte de uma estratégia de promoção da qualidade de vida é uma necessidade urgente para as próximas décadas.
- Juliana Alvarenga é oncologista clínica pós-graduada em oncogeriatria