Corrida pelo Nobel da Paz 2026
Novo acordo de paz entre Israel e Hamas desafia líderes a equilibrar diplomacia e segurança
No domingo (12), escrevi um artigo, que me pareceu moderadamente otimista, sobre o novo acordo de paz entre o governo israelense e o Hamas. Meu raciocínio se baseava em três premissas. Primeiro, é melhor ter um plano de paz do que não ter nenhum. Melhor ainda se o plano tiver o apoio da opinião pública mundial.
É essencial que o plano tenha total comprometimento do presidente norte-americano, que terá certamente desafios e precisará de virtude e fortuna para administrá-los.
Sempre foi assim. Em 1967, depois da guerra de Suez, Dwight Eisenhower precisou ameaçar Ben-Gurion com a imposição de sanções econômicas para que os israelenses se retirassem da península do Sinai e da faixa de Gaza.
Em 1975, Gerald Ford chegou a proibir a venda de armas, até Israel completar a segunda retirada do Sinai. Jimmy Carter exerceu pressão para que Menachen Begin assinasse, em 1979, o acordo de Camp David, que registrou, aliás, o primeiro reconhecimento do Estado de Israel por um país árabe, o Egito.
No entanto, as ocupações israelenses nunca cessaram; na verdade, aumentavam quando as atenções americanas se deslocavam para outros objetivos. Em 1987, a primeira intifada mudou a toada. A rebelião popular contra as forças invasoras foi tão intensa que forçou a saída de tropas israelenses de Gaza e da Cisjordânia. Foi uma vitória para os palestinos e levou às negociações de Oslo.
Destas negociações, o primeiro dado marcante é que foram realizadas em segredo, na capital norueguesa, durante dois anos, 1992 e 1993. O documento final era muito bem concatenado. Continha um cronograma para o processo de paz e previa o estabelecimento de um governo palestino interino, em Gaza e Jericó.
Celebrizado pela foto do aperto de mão entre Yasser Arafat e Yitzhak Rabin, com Bill Clinton ao fundo, no gramado da Casa Branca, o acordo assinado em 13 de setembro de 1993 gerou grande expectativa e foi ampliado pelo que ficou conhecido como Oslo II. Entre suas disposições, este segundo acordo, assinado em 1995, reconhecia o governo autônomo da Autoridade Nacional Palestina.
Os acordos de Oslo despertaram esperanças de paz, mas desencadearam também ondas de ódio e violência entre radicais do Hamas e da direita israelense. É nesse contexto que o notório general israelense Ariel Sharon, líder do Likud, toma a iniciativa de visitar, em setembro de 2000, a Esplanada das Mesquitas em Jerusalém, local sagrado para judeus e muçulmanos. Era uma ação de marketing político, e como tal foi bem-sucedida, pois Sharon seria eleito Primeiro-Ministro em fevereiro de 2001. Para os palestinos, porém, tratava-se de uma provocação. Os protestos se multiplicaram e desaguaram na segunda intifada, que durante cinco anos produziu milhares de mortos e redundou na retirada dos israelenses de Gaza, em 2005.
O escritor e jornalista Nathan Thrall, vencedor do prêmio Pulitzer do ano passado com o livro “Um dia na vida de Abed Salama”, na versão em português, faz observações interessantes na mais recente edição do New Yorker. Judeu, nascido nos EUA e há mais de quinze vivendo em Israel, Thrall sublinha não querer justificar o atentado de 7 de outubro de 2023, mas observa que, até hoje, a única forma de os palestinos atraírem os israelenses para a mesa de negociações tem sido o recurso a ações terroristas. Anota também que a violência militar tem gerado acusações de genocídio, mas na prática não ocasiona maiores prejuízos para Israel, visto que permanecem intactos seu acesso a armamentos americanos e ao comércio com a Europa.
Por fim, cita pesquisas segundo as quais 82% da população de Israel são hoje a favor de uma limpeza étnica na região, ou, pelo menos, aceitam amplamente a hipótese da expulsão dos palestinos. Ou seja, embora os centros urbanos ecoem os protestos internacionais contra as ações das forças armadas israelenses, a grande maioria da população A corrida pelo Nobel da paz 2026 é solidária com a política de Netanyahu.
Conclui-se que se Trump quiser de fato assegurar o êxito do seu plano para o Oriente Médio, terá de fazer um esforço enorme para disciplinar judeus e palestinos. E se conseguir de fato executar os vinte itens do cronograma, merecerá o Nobel da Paz.
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