O super-herói
Comentários sobre o futebol, os clubes e os craques do esporte mais popular do planeta
Gilmar Ferreira é jornalista esportivo com passagem por veículos como O Dia, Jornal do Brasil, Lance! e Extra. Reconhecido por sua apuração e análises sobre futebol, foi também comentarista da Rádio Globo. Atualmente, é colunista do jornal Tribuna e do Tribuna Online, onde escreve sobre clubes, bastidores e o cenário do futebol brasileiro.
Há seis anos, Gabriel Barbosa estabeleceu a média de 0,86 gol por jogo, marcando 25 vezes em 29 partidas da Série A vestindo a nove do Flamengo. Fato isolado. Na era dos pontos corridos com 20 clubes a média estabelecida pelos artilheiros oscilou entre 0,45 e 0,75 - o cruzeirense Kaio Jorge, por exemplo, lider desta edição, tem hoje 0,61. Queda significativa se levado em conta que nas dez edições anteriores do Brasileiro, a média de gol por partida dos maiores goleadores esteve entre 0,70 e 1,16.
A baixa no aproveitamento ajuda a entender um pouco da carência que afeta até a seleção. Como já dito neste espaço, os artilheiros brasileiros deixaram a desejar nas três últimas edições da Copas do Mundo (2014, 18 e 22) e a falta do camisa nove confiável ainda é um problema para Ancelotti.
Por razões incertas, os centroavantes brasileiros perderam o carisma. Há quem culpe os sistemas de jogo, há os que responsabilizam o trabalho na formação e tem ainda aqueles que atribuam ao êxodo cada vez mais precoce.
Para efeito de comparação, três das principais ligas europeias têm artilheiros com média superior a um gol por jogo. O norueguês Erling Halland tem 1,27, com 14 gols em onze jogos do City na
Premier League; o francês Kylian Mbappé tem 1,08, com 13 gols em 12 jogos do Real Madrid na Liga espanhola; e o inglês Harry Kane registra 1,3 com 13 gols em dez jogos do Bayern na Bundesliga. Médias muita parecidas com as que o Brasileirão registrava no futebol do século passado.
E não é saudosismo - é mesmo constatação. Reinaldo teve 1,55 de média (28 gols em 18 jogos) pelo Atletico/MG em 1977; Zico, mesmo sem exercer a função de centroavante, fez média de 1,10 (21 em 19) em 84; e Serginho Chulapa fechou o campeonato de 1983 com média de 1,05 (22 em 21).
Neste século 21, o único o único a quebrar a barreira de um gol por jogo foi Romário, com 1,16 - 21 gols em 18, na edição de 2001. Ou seja: há 24 anos não temos um artilheiro com mais gols do que jogos disputados.
Não é possível que essa carência não tenha relação direta com o jejum de 24 anos da seleção brasileira em Copas do Mundo. Fica a impressão, ao menos para mim, que ficaremos sempre no “quase” até que tenhamos a prova real de que é possível ser feliz sem um nove eficiente, com faro de gol e alma de super-herói.
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