Remédios nascem, morrem e ressuscitam
Confira a coluna desta terça-feira (18)
Exercendo a medicina há meio século, eu tenho visto medicamentos serem lançados com a mesma rapidez que são retirados do mercado. Algumas drogas vieram para ficar, outras são removidas devido ao aparecimento de efeitos colaterais graves e sérias contraindicações.
Entretanto, existem fármacos que entram, saem e depois retornam. Tratam-se daqueles remédios em que se descobrem novas indicações, servindo para tratar outras patologias.
O exemplo mais conhecido é o da droga talidomida. Lançada em 1957 como hipnótico e sedativo, prometendo ser menos perigosa que os barbitúricos, esse fármaco foi até mesmo recomendado de modo específico para uso durante a gravidez.
Comercializada com sucesso, a primeira suspeita de teratogenicidade da talidomida surgiu no início de 1961, com relatos de um aumento súbito na incidência de focomelia, que significa “membros de foca”, anomalia congênita que impede a formação normal de braços e pernas. Esse defeito de nascimento era, até aquele momento, quase desconhecido.
A droga foi retirada do mercado no final de 1961, quando 10 mil recém-nascidos apresentaram malformações. Embora o mecanismo teratogênico ainda não seja compreendido com clareza, acredita-se que a inibição da formação de vasos sanguíneos esteja envolvida.
A experiência dramática com a talidomida levou à reavaliação generalizada de muitos outros fármacos e a criação de órgãos reguladores.
Atualmente, o uso da talidomida ressurgiu para várias aplicações muito especializadas, sendo prescrita em dermatologia, hematologia e oncologia. A lenalidomida, análogo da talidomida, é utilizada no tratamento do mieloma múltiplo, por exemplo.
A criação de fármacos efetivos e seguros é difícil e dispendiosa. Mesmo depois de testados e aprovados, alguns remédios produzem idiossincrasias, predisposição particular do organismo, fazendo com que um indivíduo reaja de maneira pessoal à influência de medicamentos.
Diante disso, algumas drogas vêm para ficar, enquanto outras têm vida curta. Curiosamente, alguns fármacos que foram abandonados acabam reabilitados para novas indicações médicas.
Uma via alternativa visando propor um novo tratamento consiste em testar drogas que já foram submetidas para outros tratamentos.
Esse reaproveitamento tem sido utilizado para fármacos que falharam devido à falta de eficácia ou presença de toxidade. Várias drogas foram redirecionadas para novos alvos.
As sulfonamidas, utilizadas no tratamento da febre tifoide provocam hipoglicemia. Esse efeito colateral acabou sendo ponto de partida para o lançamento de derivados das sulfas, denominados sulfonilureias, em pacientes diabéticos.
Paracelso afirmava que todo medicamento é veneno, sendo a dosagem é que faz uma substância ser veneno ou remédio.
Este aforismo continua sendo válido, embora sabe-se que até mesmo com dose terapêutica, um fármaco pode agir como peçonha.
Remédio é uma taça de esperança que pode conter decepção no fundo.
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