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Doutor João Responde

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Colunista

Dr. João Evangelista

O rajado pernilongo da dengue

A ciência não é perfeita, mas seria ilusão acreditar que poderemos encontrar na ignorância, o que ela não nos pode dar

João Evangelista Teixeira Lima | 09/05/2023, 13:39 h | Atualizado em 09/05/2023, 13:40

Imagem ilustrativa da imagem O rajado pernilongo da dengue
João Evangelista Teixeira Lima é clínico geral e gastroenterologista |  Foto: Arquivo/AT

Prazer, meu nome é Aedes aegypti. Nasci na superfície da água que brilhava dentro de uma esquecida lata velha, lugar em que também proliferaram milhares de irmãos meus.

Neste local, cresci e fiz-me gente, quero dizer, mosquito. Esvoacei pelos ares, cavando honradamente a vida, como qualquer outro ser. Pousei em portões e paredes e, de pouso em pouso, atravessei os umbrais das casas, esperando a chegada da noite, para roubar o sangue dos moradores, deixando, como recompensa, um filhote de vírus.

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Meus avós contam que existiu um médico chamado Oswaldo Cruz, cuja existência foi dedicada a atanazar nossos parentes, pelo simples fato deles ofertarem febre amarela para o povo.

Apesar de termos mudado um pouco, preferindo, atualmente, carregar o vírus da dengue, a perseguição continua. Basta lembrar que os mesmos conselhos dados por aquele cidadão, são repetidos nos dias atuais.

Meus irmãos alados, leiam essa sentença de morte, publicada por aquele notório inimigo, em 1903:

“Os mosquitos se reproduzem por meio de ovos, que eles põem na superfície das águas paradas, nas tinas de lavar roupa, nos tanques, nas caixas de água, nos ralos de esgotos, nos vasilhames que são atirados fora, nas poças de água da chuva que empoça nas calhas; enfim, em qualquer parte onde fica depositada por algum tempo, um pouco de água que não se remove. 

Os ovos postos na água, dentro de poucos dias se transformam em pequenos bichinhos com a forma de lagartas, os quais se mantêm na superfície da água com a cauda para cima e a cabeça para baixo, e fogem muito depressa para o fundo, mal alguém se aproxima ou toca na vasilha.

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Essas larvas permanecem muitos dias vivendo e nadando na água, e, pouco a pouco, vão crescendo até que, em certo momento, curvam-se, mudam de posição, ficando a cabeça à superfície da água, criando uma casca ao redor de si, permanecendo boiando. Depois, a casca se rompe e, de dentro dela, como se fosse um bote, voa o mosquito novo.

Desde que são os mosquitos que passam a febre amarela dos doentes para as pessoas sãs, é de obrigação e do interesse de todos: destruir os mosquitos e as larvas, evitar que eles piquem as pessoas, porque pode acontecer que alguns deles tenham picado antes um doente de febre amarela. Para destruir dentro das casas os mosquitos adultos, o melhor meio é queimar pó-da-pérsia (antigo repelente conhecido como sentinela).

Para evitar a reprodução dos mosquitos, devem-se conservar tapados todos os depósitos de água, tanques, tinas, etc. Além disso, não esquecer de aterrar e nivelar escavações de terrenos com água acumulada.”

Aplausos eternos ao genial Oswaldo Cruz, cujo sentido de observação e capacidade de se maravilhar diante do desconhecido o fez benfeitor da humanidade.

A ciência não é perfeita, mas seria ilusão acreditar que poderemos encontrar na ignorância, o que ela não nos pode dar.

Quem a nega age como um timoneiro que entra no navio sem bússola, não conhecendo seu destino.

João Evangelista Teixeira Lima é clínico geral e gastroenterologista

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