Sobre arte e simpatia
Evite a todo custo responder que achou “interessante”, pois, em arte, essa é uma declaração de indiferença
Uma seguidora me perguntou o que seria “simpático” dizer em um evento ligado à arte, e explicou que a empresa em que trabalha tem apoiado vários eventos artístico-culturais, muitos deles com a presença do artista que expõe e que ela, por na entender de arte, nunca sabia o que falar.
Justíssima a aflição dessa moça! Ainda mais levando em conta que, cada vez mais as empresas querem ser associadas a ações construtivas que agreguem a comunidade.
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É importante não pisar na bola em um momento em que, justamente estamos querendo mostrar empatia e fazer a ponte entre o público e o artista e seu trabalho. Aqui a boa notícia: há várias maneiras de interagir em uma exposição de arte, sem precisar mentir ou forçar a barra e, de quebra, é provável que ainda saia apreciando mais o assunto!
Não é preciso entender de arte, é possível estudar história da arte mas, arte em si é como o vinho: deve ser sentida, percebida. Ela toca o coração (ou a mente) de maneira positiva ou negativa da mesma forma que um vinho ruim cai mal ou desce deliciosamente pelo paladar.
O fato de você estar em uma mostra não implica necessariamente fazer críticas brilhantes, ao contrário: tudo o que qualquer artista quer é apenas que sua arte seja vista e sua presença já é um sinal desse reconhecimento.
É essencial, no entanto, saber o que não falar, pois artistas são pessoas sensíveis e a possibilidade de cometer gafes proferindo a frase errada é muito maior do que se você apenas se calar. Para que você interaja com segurança, aqui vão algumas dicas do que não falar:
- Não entendi - Não precisa entender a mensagem da obra, mas apreciar. Mas, como para o autor é de vital importância reconhecer que seu trabalho te tocou, declarar que não entendeu é uma das maiores ofensas que podemos fazer, esteja ele presente ou não.
- Não é meu estilo mas… - A arte não nasce para combinar com estilos, nasce da necessidade de exprimir algo vital. E, na real, o “estilo” de cada um não tem a menor importância, seja diante de coleção de arte ou apenas uma peça de obra de arte.
- Combina com - De novo: achar que uma obra de arte é melhor porque combina com o sofá, ou as cores da sua casa denota muita arrogância – para dizer o mínimo –, além de desconhecimento sobre esse universo como um todo.
Então, que raios posso falar? Qualquer crítica construtiva é bem-vinda. Diga algo como “amei as cores (ou o movimento, ou a luz)” ou: “me emocionou” ou ainda “adoro esse tema”, se for o caso. Há também declarações mais fortes como: “fiquei impactada” ou ainda “mexeu comigo”, que externam boas energias quando ditas de forma positiva.
Falar ou calar, mas evite a palavra proibida. Não importa se você apenas comparecer, sorrir e falar de outros assuntos, terá feito a sua parte. Mas, como sempre tem alguém que pergunta o que achou, evite a todo custo responder que achou “interessante”, pois, em arte, essa é uma declaração de indiferença e desconhecimento. É como dizer que tal mulher é muito simpática ou que determinado homem é superbonzinho. Fica evidente que deixa muito a desejar.
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