Vítima por intoxicação por metanol mandou áudios para a amiga dias antes de morrer
Bruna começou a passar mal horas depois de beber vodca com suco de pêssego em um show de pagode

Vítima de intoxicação por metanol em São Bernardo do Campo (SP), Bruna Araújo de Souza, 30 anos, que morreu ontem, descreveu em áudios a evolução de seu quadro antes de ser internada em estado crítico.
Bruna começou a passar mal horas depois de beber vodca com suco de pêssego em um show de pagode. Inicialmente, ela apresentou tontura, vômitos e perda temporária da visão.
A Prefeitura de São Bernardo do Campo anunciou ontem a sua morte, em decorrência da bebida adulterada com metanol. Essa é a terceira vítima fatal confirmada por contaminação com a substância tóxica.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, Bruna morreu após a adoção de um protocolo de cuidados paliativos, em decisão tomada pela equipe médica em conjunto com a família.
A administração municipal afirmou que o hospital havia aberto protocolo de morte cerebral para a paciente na última sexta-feira.
Bruna relatou o mal-estar para uma amiga: “Estou destruída. Destruída. Parece que tomei a cachaça desse mundo todinho”, disse Bruna.
A fala foi feita na manhã do dia seguinte. Bruna relatou ter passado o dia vomitando.
À noite, ela gravou um novo áudio: “Sensação horrível. Nossa… parece que vou desmaiar. Não consigo nem olhar para a tela do celular.”
Ela estava internada desde 29 de setembro no Hospital de Urgência de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, após ser transferida já entubada por uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) na cidade.
Entenda
O que é?
O metanol é um álcool usado industrialmente em solventes e outros produtos químicos, é altamente perigoso quando ingerido.
Inicialmente, ataca o fígado, que o transforma em substâncias tóxicas que comprometem a medula, o cérebro e o nervo óptico, podendo causar cegueira, coma e até morte. Também pode provocar insuficiência pulmonar e renal.
Notificações
O Ministério da Saúde recebeu ontem 217 notificações de intoxicação por metanol após consumo de bebida alcoólica. Deste total, 17 casos foram confirmados e 200 seguem em investigação.
O estado de São Paulo concentra 82,49% das notificações, com 15 casos confirmados e 164 em investigação. Além de São Paulo, o Paraná registra dois casos confirmados e quatro em investigação.
Outros 12 estados notificaram casos em investigação: Acre, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rondônia e Rio Grande do Sul.
Além dos óbitos confirmados (o terceiro foi confirmado ontem pela Prefeitura de São Bernardo do Campo), o Ministério da Saúde diz que 12 seguem em investigação (um em Mato Grosso do Sul, três em Pernambuco, seis em São Paulo, um na Paraíba e um no Ceará).
Outros
Não é a primeira vez que o Brasil vive uma onda de preocupação como esta. Em julho de 1990, 18 pessoas morreram na Bahia depois de uma festa onde tinham bebido pinga feita com metanol.
Em dezembro de 1992, dezenas de pessoas foram internadas na madrugada do dia 26, em Diadema. Todas tinham ido a um sambão e tomado “bombeirinho”, uma bebida feita de vodca, groselha e limão. Três jovens morreram naquela mesma semana.
O maior surto de intoxicações por metanol dos últimos anos aconteceu mais recentemente, entre 2016 e 2023. Foram 11 mortes de homens pobres, em situação de rua e vulnerabilidade, dependentes químicos. O surto deixou os pesquisadores em alerta, mas não teve repercussão.
No passado, três pessoas morreram intoxicadas por metanol no Espírito Santo. Dois casos foram em 2016, do sexo masculino (um deles era usuário de droga), e o terceiro em 2018 (uma mulher estilista e usuária de drogas), segundo o Laboratório de Toxicologia Forense da Polícia Científica do Estado.
Neste ano, os primeiros casos nacionais ocorreram no fim de agosto.
Investigação
A principal linha de investigação da Polícia Civil de São Paulo é que fábricas clandestinas estariam usando metanol para higienizar garrafas falsificadas antes de enviá-las. A substância, que não está disponível legalmente no Brasil, teria sido contrabandeada e aplicada em recipientes reutilizados.
Fonte: Ministério da Saúde, Prefeitura de São Bernardo do Campo, Sesa e pesquisa A Tribuna.
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