Cannabis medicinal é usada em tratamentos para cães e gatos no ES
Entre as indicações estão controle da dor e alterações neurológicas. Entenda
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Cães e gatos vêm sendo tratados com a cannabis medicinal, terapia que já é usada na medicina humana. As indicações mais frequentes são para controle de dor, alterações neurológicas e condições inflamatórias crônicas. Em alguns casos, tutores relatam melhora dos sintomas já no primeiro uso.
Desde 2018, mais de 1.700 animais foram tratados pela médica veterinária Emanuelle de Oliveira e Silva, pioneira no uso da cannabis medicinal no Espírito Santo.
“Já atendi um filhote de gato fêmea de 4 meses com ausência de um hemisfério cerebral, que tinha 24 crises convulsivas diárias. Não tivemos dúvidas de que a cannabis iria potencializar o tratamento alopático estabelecido. Após início do tratamento, conseguimos controlar as convulsões e ela segue estável”.
Segundo ela, a prescrição da cannabis deve ser realizada por um médico ou médica veterinária, de preferência endocanabinologista, pois o paciente precisa ser avaliado clinicamente.
“É preciso avaliar se a cannabis será associada a outros tratamentos ou se o paciente deverá passar por um tratamento preliminar. O protocolo de tratamento vai ser construído individualmente”.
A médica veterinária destaca que a cannabis, assim como qualquer outra medicação, apresenta contraindicações para algumas doenças e interações medicamentosas importantes.
“A cannabis não pode ser suspensa por médicos não habilitados sem antes consultar o médico especialista, podendo causar danos à saúde do paciente”. Ela destaca que a cannabis medicinal é indicada para todas as espécies animais, tendo sido usada até mesmo em aves e uma tartaruga.
A cannabis pode ser adquirida por três formas: via importação, associações de cannabis e cultivo doméstico. No entanto, o cultivo e a importação são inviáveis aos pacientes veterinários.
Emanuelle é presidente do Grupo de Trabalho de Cannabis Medicinal do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Espírito Santo (CRMV-ES) e professora e pesquisadora na área da Medicina Endocanabinoide.
“A Medicina Endocanabinoide está sendo reconhecida como nova especialidade da Medicina, tanto humana quanto veterinária”.
Fim das convulsões e coceira
A contadora Lubya Bosi, 30 anos, é tutora da Shitzu Bela, 12 anos. Ela conta que a cachorrinha começou a ter crises de convulsão à noite, há dois anos. “Ela ficava esticada, dura, por 10 segundos. Eu chamava, fazia carinho e ela não reagia. Demorava a entender onde estava”, conta a tutora.
Lubya conta que desde o primeiro uso do canabidiol, a cachorra não tem mais convulsão.
“Tem dois anos que ela usa. Ela tinha coceira na pele e melhorou 100%, lacrimejava muito e diminuiu bastante. A Bela também toma remédio cardíaco e o médico veterinário cardiologista dela disse que o medicamento e a cannabis vão aumentar a expectativa de vida dela”, afirma.
SAIBA MAIS
Mecanismo
a cannabis medicinal atua no sistema endocanabinoide, que integra o conjunto de sistemas de todos os animais vertebrados.
É composto por moléculas ligantes, os endocanabinoides, que podem, por exemplo, atuar como neurotransmissores, pois se ligam a receptores canabinoides, expressos nas membranas celulares de todos os órgãos e tecidos dos animais.
Esse sistema, quando prejudicado, pode ser suplementado com a planta cannabis, ou maconha, pois ela apresenta os fitocanabinoides, como exemplos mais conhecidos, CBD (Canabidiol) ou o THC (Tetrahidrocanabinol).
Proporções
“Devido às especificidades do organismo dos animais, demandam de proporções mais altas de THC do que o governo autoriza para importação”, diz a médica veterinária Emanuelle de Oliveira e Silva.
Para esses casos os óleos importados apresentam proporções muito inferiores de THC, o que os torna ineficazes para diversos tratamentos.
Associações
Nestes casos, a compra via associação é a mais indicada. Há hoje no Brasil quase 200 associações de cannabis, que além de democratizar o acesso, com produtos a preços acessíveis, fornecem matéria-prima para pesquisas em parceria com universidades.
Valores
Não há como precisar um valor pois os critérios de definição de dose da fitoterapia são diferentes da medicina alopática.
A dose da cannabis é definida por diversas variantes como doenças a serem tratadas, a localização da lesão, a cronicidade da doença, a idade do paciente, além de fatores relacionados ao produto de cannabis utilizado, como a proporção de fitocanabinoides, forma de extração do óleo, métodos de diluição, entre outros.
Fonte: Emanuelle de Oliveira e Silva, médica veterinária.
Controle de dor em pets
A gata Tara, uma vira-lata de 9 anos, tem um problema de coluna, que causa muitas dores, segundo a tutora, a aposentada Malu Silva, 69 anos.
“Ela não estava defecando, devido ao problema de coluna e sentia muita dor. Cheguei a levá-la duas vezes para fazer lavagem intestinal”, conta Malu.
A tutora então investiu em acupuntura, laser e na cannabis medicinal.
“A Tara está bem, está controlada. Realmente, melhorou muito com a cannabis. Foi um achado!”, conta a tutora.
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