Uísques falsos são apreendidos e especialistas fazem alerta
Polícia encontrou em Viana 33 garrafas de uísque falsificado. Produto adulterado pode causar alterações em vários órgãos do corpo

A apreensão de 33 garrafas de uísque falsificado em um bar de Viana acendeu o alerta para um risco que vai além da irregularidade comercial.
Casos recentes em São Paulo – onde três pessoas morreram e 16 foram internadas após consumir bebidas com metanol – mostram que falsificações podem representar grave ameaça à saúde.
A apreensão das garrafas com sinais de falsificação em Nova Bethânia, Viana, aconteceu na noite da última sexta-feira (26), em uma operação da Comissão Interna de Fiscalização Integrada, em conjunto com a Guarda Municipal.
O comandante da Guarda, Wanderson Camporez, explicou que no caso das bebidas alguns sinais indicaram a falsificação.
“Notamos que, apesar de lacradas, o nível de líquido era diferente em cada garrafa, o que não acontece no caso de originais. Além disso, o selo de segurança, que deveria ser no mesmo papel de cédulas, parecia ser em papel comum. Por fim, a numeração dos lacres, que deveriam ser todas diferentes, eram iguais.
O proprietário foi notificado e obrigado a descartar as bebidas no local. Não há como saber se o conteúdo teria metanol.
O neurologista Marcelo Masruha ressaltou que qualquer bebida adulterada representa risco à saúde, mesmo que não contenha metanol. “O processo de adulteração pode envolver solventes, contaminantes químicos, excesso de etanol de baixa qualidade ou até mesmo substâncias tóxicas desconhecidas. Esses produtos não passam por controle sanitário”.
Para ele, a orientação mais segura é evitar o consumo de bebidas alcoólicas, como destilados, cuja procedência não seja confiável. “Em festas, bares ou eventos sem controle rigoroso, o risco aumenta muito. A recomendação é optar por bebidas lacradas, adquiridas de fornecedores conhecidos”.
O médico oftalmologista Leôncio Queiroz Neto explicou que casos de bebidas contendo o metanol – como têm sido vistas em intoxicações em São Paulo – há riscos desse consumo sem conhecer a procedência.
O metanol é um álcool usado em produtos como líquidos de limpeza de para-brisas, anticongelantes e combustíveis. “Não é seguro para consumo humano. Quando ele entra na corrente sanguínea, vira ácido fórmico, ou seja, o sangue fica ácido. Essa toxicidade atrapalha a oxigenação de vários tecidos, entre eles o nervo óptico”.
Ele explicou que o paciente pode ter sintomas como uma forte “ressaca”, além de dores nos olhos, vista “esbranquiçada”, podendo chegar a alterações hepáticas e renais. “É preciso buscar atendimento médico o quanto antes”.
O que eles dizem
Procedência

“O consumidor precisa desconfiar de preços muito baixos, procurar comprar em um local de confiança e que tenha produtos de boa procedência. Ao desconfiar, denuncie”.
Sintomas

“Ao começar com sintomas como dor de cabeça, náusea, vômito, dor abdominal, confusão mental e visão turva, a pessoa deve procurar o hospital”.
Confirmada 3ª morte em São Paulo

A Prefeitura de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, confirmou ontem a segunda morte por intoxicação com metanol na cidade.
Com isso, subiu para três o total de mortes provocadas pelo consumo da substância em bebida alcoólica adulterada no estado, sendo que uma das mortes foi registrada na capital.
Segundo a prefeitura da cidade do ABC, a primeira vítima foi um homem de 58 anos, atendido no Hospital de Urgência, que morreu em 24 de setembro. A segunda é um homem de 45 anos que foi atendido na rede privada e morreu no último domingo.
No total, seis casos de intoxicação por metanol foram confirmados no estado de São Paulo. Há também outros 10 casos sob investigação na capital, segundo o Centro de Vigilância Sanitária (CVS), ligado à Secretaria da Saúde.
O metanol é um produto químico industrial altamente tóxico.
Vítima
A terceira vítima confirmada foi o advogado e dono de imobiliária Marcelo Macedo Lombardi, 45. A irmã dele, Fernanda Lombardi, 50, revelou que, ao ser internado, o irmão estava desorientado.
“Não estava mais conseguindo falar as coisas. Só falava que queria sair dali (do hospital). Se eu perguntasse qualquer coisa para ele, ele não conseguia responder uma frase congruente com o assunto”.
Marcelo começou a sentir os primeiros sintomas na sexta-feira e deu entrada no Hospital São Bernardo no sábado, apresentando visão reduzida e enxergando apenas clarões de luz, segundo a irmã.
Tire suas dúvidas
1. Como identificar que a bebida está adulterada?
Entre os sinais de alerta de adulterações estão preço muito abaixo do mercado, ponto de venda informal, embalagens com rótulo mal impresso, torto ou com erros; ausência de CNPJ, lote ou data de validade na embalagem; lacre violado, turvação ou alteração de cor em bebidas que deveriam ser transparentes, como vodca, gin e cachaça.
2. A ausência desses sinais não garante segurança?
bebidas adulteradas podem parecer normais. Por isso, é importante comprar de fontes confiáveis, como supermercados e distribuidoras autorizadas que sejam estabelecimentos conhecidos ou dos quais tenha referência. É recomendado que se exija sempre a nota fiscal.
3. E quando a compra for em dose ou drinque?
Quando o consumo for de bebidas servidas por dose ou em drinques com misturas, como caipirinhas, o cuidado deve ser redobrado, pois o consumidor não tem como saber se a bebida no drinque é legítima.
Bares, festas e demais pontos de venda de bebida devem ser objeto de constante fiscalização.
4. É possível identificar o metanol na bebida?
O consumidor não consegue identificar metanol pelo gosto, cheiro ou aparência. Muitas vezes, a bebida contaminada tem sabor idêntico ao produto original. Por isso, confiar no paladar ou em “testes caseiros” é perigoso e pode atrasar a busca por atendimento médico adequado.
5. O que fazer quando detectar suspeita?
Se houver suspeita de adulteração, interrompa o consumo imediatamente. Caso surjam sintomas como dor de cabeça intensa, náuseas, vômitos, dor abdominal, respiração acelerada, confusão mental, convulsões ou alterações visuais (visão turva, manchas, “neve”), procure atendimento de urgência.
O tratamento pode incluir antídotos (fomepizol ou etanol sob prescrição médica) e hemodiálise.
No Espírito Santo, também é possível ligar para o CIATox-ES , que orienta sobre intoxicações 24 horas pelo número 0800 283 9904.
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