Ufes estuda reservar cotas para pessoas trans
Se aprovado, serão reservadas 2% das vagas de cada curso. Ideia é que elas sejam ofertadas por meio do Sisu e processo seletivo
Cota para pessoas trans em cursos de graduação na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) pode ser uma realidade para 2027.
A proposta foi elaborada por uma comissão interna da reitoria, que formou um Grupo de Trabalho (GT) para estudar o tema. O documento foi entregue ao reitor da Ufes, Eustáquio de Castro, e segue para avaliação.
Se aprovada, a proposta vai reservar 2% das vagas de cada curso para pessoas travestis, mulheres trans, homens trans, pessoas transmasculinas e pessoas não binárias.
A ideia é que as vagas sejam ofertadas por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) ou, nos casos dos cursos de graduação na modalidade de ensino a distância (EAD) e demais cursos que não adotam este sistema como forma de ingresso, mediante processos seletivos específicos definidos em seus respectivos editais.
O reitor da Ufes, Eustáquio de Castro, afirmou que a atenção, neste momento, é sobre o processo de seleção e as comissões que farão as avaliações.
“Esses pontos têm sido muito questionados hoje no Brasil. Do ponto de vista da justiça social, as cotas para pessoas trans já são uma questão pacífica não só na Ufes, mas nas universidades brasileiras”, completa.
Jade da Vitoria é estudante de Pedagogia, militante do Levante Popular da Juventude, diretora LGBT+ do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Ufes e integrou o Grupo de Trabalho das cotas trans. Segundo ela, o diretório tem grandes expectativas para a aprovação do projeto.
Ela ressalta que a cota para pessoas trans, em sua opinião, é uma política de acesso à universidade que vai democratizar mais ainda o ensino público.
“As pessoas trans não estão conseguindo nem chegar no ensino superior. Muitas não conseguem concluir o ensino médio e as poucas que finalizam não conseguem entrar na universidade. A universidade é um lugar amplo, que deveria ser para todo mundo. Mas a gente não vê isso na prática”, destacou.
Se aprovada a proposta, para acessar a cota, será necessário apresentar um memorial em que o candidato conta como vive enquanto pessoa trans. “Não é comprovação, é justificativa”, finaliza.
Fique por dentro
Intercâmbio
Para a elaboração da proposta, foram necessários 12 encontros ao longo de seis meses.
Os integrantes do Grupo de Trabalho, representantes de diferentes segmentos da Universidade, dialogaram com quatro universidades que adotaram as cotas e com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), que lançou, em 2024, um manual técnico sobre ações afirmativas para pessoas trans.
Além disso, foi feita uma tabulação de todas as resoluções que tinham sido publicadas pelas universidades que já implementaram a política.
Tramitação
A partir de agora, a minuta tramitará pela Diretoria de Governança, Controles Internos e Integridade (DGCI), pela Câmara de Graduação e, em seguida, será encaminhada ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe).
Como vai funcionar
O ingresso pelas cotas trans ocorrerá por meio de um memorial no qual a pessoa deverá apresentar justificativa detalhando sua vivência enquanto pessoa trans. Não se trata de uma comprovação documental, mas de uma narrativa que contextualize sua identidade e trajetória.
Além disso, será necessário assinar uma declaração com implicações legais, prevendo que, em caso de fraude, a pessoa poderá ser desligada da universidade por ter utilizado indevidamente a política de cotas.
Fonte: Ufes
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