“Segredo de viver mais são os hábitos”, diz geriatra
Médico destaca que rotina saudável é essencial para prolongar a vida
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A palavra envelhecer pode causar medo e até preocupação nas pessoas, afinal, normalmente, a velhice está relacionada a doenças, dependência e sofrimento.
Só que é possível mudar esta má fama ligada à terceira idade. Tudo vai depender, porém, dos hábitos de vida. Se você está com 30 ou 40 anos se perguntando se ainda dá tempo, médicos afirmam que sim.
“Os que têm 30 e 40 anos ainda são jovens. Óbvio que, quanto antes mudarmos os hábitos, mais resultados teremos a longo prazo. O envelhecimento é algo cumulativo, tanto com coisas boas quanto com as coisas ruins que dão possibilidades de adoecimento precoce”, destaca o geriatra Roni Chain Mukamal, superintendente em Medicina Preventiva da MedSênior.
O médico ressalta ainda que, apesar dos genes relacionados ao aparecimento de doenças e até mesmo algumas questões genéticas, essas situações podem ser modificadas.
“O que faz a diferença no envelhecimento é o ambiente em que vivemos e os hábitos que temos. Esses são os segredos das populações longevas”, frisa.
Segundo o geriatra, é natural que o processo de envelhecimento cause mudanças no corpo e na mente.
“À medida que o corpo envelhece, enfrentamos algumas dificuldades e limitações. Mas é preciso entender que a vida pode ser muito mais prazerosa na terceira idade se começarmos a cuidar da saúde o quanto antes”, afirma Roni.
De acordo com a geriatra Fernanda Damiani, seja qual for a idade, a prevenção é sempre a melhor forma para se chegar bem à velhice.
“Além da avaliação médica anual, também devemos ter hábitos saudáveis como prática de exercícios regularmente, alimentação balanceada, dormir bem e ter acompanhamento médico regular”.
A geriatra reforça que o acompanhamento médico anual é ainda mais importante a partir dos 40 anos, já que nessa faixa há o aumento do risco de doenças como hipertensão, que pode levar a um acidente vascular cerebral (AVC) e infartos.
O geriatra Alexandre Constantino, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, seccional do Espírito Santo (SBGG-ES), lembra ainda que há hábitos que podem acelerar o envelhecimento: cigarro, exposição solar em excesso, ingestão não moderada de bebida alcoólica e recusa de vacinas.
“Com o cartão de vacinas completo e a redução da ingestão de álcool, podemos ganhar muitos anos com qualidade para envelhecer bem, curtindo a vida com independência e autonomia”.
Dança, crochê e até costura de bonecas
Foi buscando vencer a depressão, após a perda de um filho, em 2020, que a pensionista Cedilia Rabelo de Jesus, de 77 anos, passou a participar das oficinas de arteterapia, promovidas pela MedSênior.
Segundo a sua filha, Claudia de Jesus Barreto, de 59 anos, Cedilia também faz parte de um grupo de dança e faz crochê. Além disso, costura bonecas para doar no Natal. A idosa tem uma recomendação para quem enfrenta o mesmo problema que ela enfrentou:
“Participar de atividades em grupo, se conectar com novas pessoas, fazer amizades e compartilhar experiências. Tudo isso vai gerar uma sensação de pertencimento no mundo, de maior importância, e aumentar sua vontade de viver mais e melhor”.
Atividades físicas frequentes
Com 64 anos, a fotógrafa Janete dos Santos Duarte diz que se sente com o mesmo vigor de 30 anos atrás, por causa das atividades físicas que faz frequentemente.
“Eu acho que estou até melhor. Naquela época, não tinha tanto tempo como tenho hoje. Eu sempre me exercitei, mas agora nado no mar três vezes na semana, faço rapel, e nas terças e quintas-feiras ainda faço zumba”.
O rapel, segundo ela conta, é sua paixão há 17 anos. “Tenho medo, mas vou assim mesmo”, brinca.
Apaixonada por doces, Janete conta que após os 60 está “dando uma segurada” e por isso se exercita tanto. “Quero viver até os 100 anos e ver meus netos crescerem”.
Atividade física ainda é o melhor remédio
Um estudo recente publicado no periódico The Lancet Healthy Longevity (Longevidade Saudável) encontrou pistas que podem revelar porque alguns idosos, mesmo em idade avançada, possuem memória equivalente a uma pessoa de 20 ou 30 anos.
Pesquisadores na Espanha descobriram diferenças importantes no estilo de vida que podem contribuir para as mentes aguçadas desses adultos mais velhos, como as atividades mais exigentes, por exemplo, subir escadas, além dos baixos níveis de depressão e ansiedade, e boas noites de sono.
“A atividade física possui evidências muito robustas de inúmeros estudos científicos clássicos e também atuais. Ninguém quer chegar ao fim da vida vivendo em uma cama ou no hospital, mas para isso devemos ter regularidade na atividade física ao longo da vida. Um exemplo simples é tempo fora do sofá, das telas, com o corpo em movimento ao longo do dia.
Outra forma simples são os números de passos por dia para romper as barreiras do sedentarismo”, aconselha o geriatra Alexandre Constantino.
O médico recomenda estabelecer metas simples, como tempo ativo, além das atividades físicas regulares para um melhor envelhecimento.
“Além dos benefícios óbvios para a saúde óssea e muscular na velhice, teremos sono, memória e humor melhores, bem como prevenção de doenças temidas, inclusive câncer e Alzheimer. Não existe vacina nem remédio tão eficaz quanto a atividade física. E quem anda mais, vai seguir andando por mais tempo”, destaca Constantino.
Além da atividade física, existem outros fatores que levam a um envelhecimento bem-sucedido, segundo o geriatra Roni Mukamal.
Alimentação com dietas de baixo conteúdo de gordura saturada, dietas pouco inflamatórias, com muitos vegetais verde escuro, azeite e proteínas, além de outros minerais entram na lista, segundo o médico.
Dormir bem e ter uma vida tranquila também ajudam no envelhecimento saudável, segundo Mukamal. “Também é importante ter um propósito, ou seja, ter vontade de viver. Isso é uma coisa que tem se visto em populações muito longevas: o propósito de acordar é ter alegria e vontade de viver. Então, tudo isso somado vai levar ao envelhecimento bem-sucedido”.
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