Receitas de “nonnos” mantêm herança italiana no Espírito Santo
Nos fins de semana e feriados, os avós recebem visitantes na Casa Nostra, em Venda Nova do Imigrante, com comida e música típicas

Em Venda Nova do Imigrante, na região Serrana do Estado, preservar tradições passa, sobretudo, pela cozinha. Sete “nonnos” preparam polenta com fubá da roça, linguiça artesanal e massas servidas com molhos frescos, sempre feitos com ingredientes cultivados por eles próprios.
Nos fins de semana e feriados, os avós recebem visitantes em um espaço que também funciona como museu. Ali mantêm viva a herança italiana e compartilham com as novas gerações sabores que fortalecem os laços familiares e resgatam memórias afetivas.
Os encontros acontecem na Casa Nostra, sempre embalados por música típica. Um guia e um professor conduzem a experiência e apresentam a história da imigração italiana no município.
Para o nonno Arildo Altoé, de 66 anos, morador do centro de Vargem Alta e integrante do projeto desde setembro de 2024, a iniciativa tem valor especial.
“É uma forma de mostrar nossa cultura, reviver tradições e sentir a alegria das pessoas quando provam a comida feita por nós. Cada prato servido guarda uma memória da família e da infância”, afirma Arildo.
Também dão vida ao projeto as nonnas Luzia Lopes, Inês Carnielli Andrião, Adriana Falchetto, Maria das Graças Delazare, Bernadete Dal-bó Venturim e Regina Célia Casagrande.
Para elas, a mesa posta é mais que alimento: é um gesto de preservação cultural. Como resume Luzia Lopes, “a Casa Nostra não é só sobre comida, é sobre memória, união e orgulho de nossas raízes”.
Idealizada pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Espírito Santo (Sebrae), em parceria com a Prefeitura de Venda Nova do Imigrante e o Montanhas Capixabas Convention & Visitors Bureau, a Casa Nostra surgiu durante a RuralturES de 2023 como projeto-piloto.
O sucesso foi imediato e a vivência retornou na edição seguinte do evento com proposta ainda mais autêntica e envolvente, em um espaço ampliado e permanente.
As visitas ao local, que custam R$ 90 por pessoa, são realizadas em horários agendados pelo Instagram @casanostrapindobas.
Ao longo de 80 minutos, os visitantes percorrem o espaço expositivo que narra a saga da imigração italiana no Estado em um tour guiado, conhecem o casarão histórico e participam de uma experiência cultural e gastronômica que une história, música e tradição à mesa.
Unidas pela tradição

Regina Célia Casagrande é uma das nonnas da Casa Nostra. No fogão, prepara receitas que atravessaram gerações e remetem às origens italianas da região. Ao seu lado, em outro palco, está a filha Maria Eduarda Casagrande Delpupo, cantora e sanfoneira responsável por dar vida à trilha sonora das experiências gastronômicas do local.
Enquanto a mãe mantém aceso o fogo das panelas, a filha aquece os encontros com música. O repertório passeia por canções tradicionais e ritmos regionais, criando um ambiente que transporta os visitantes para um pedaço da Itália fincado nas montanhas capixabas.
“Cresci ouvindo as histórias da minha família e agora posso transformá-las em música. É emocionante ver minha mãe na cozinha enquanto eu canto, porque sei que estamos unindo duas formas diferentes de manter nossas raízes vivas”, conta Maria Eduarda.
Para Regina, ver a jovem artista ocupar esse espaço é a certeza de que a Casa Nostra também é uma ponte com o futuro. “A tradição não fica parada no tempo. Enquanto cozinhamos e mostramos aos visitantes o que aprendemos com nossos pais, nossos filhos e netos dão novos significados a tudo. É bonito perceber que a música se mistura ao cheiro da comida e vira memória”.
Paixão pela cozinha aos 72 anos

Aos 72 anos, Maria das Graças Delazare é a nonna mais velha da Casa Nostra e uma das mais queridas pelos visitantes. Guardiã de receitas que acompanham sua família há décadas, ela se dedica com paixão à cozinha, onde encontra não apenas um ofício, mas também uma forma de expressar afeto e manter vivas as raízes italianas.
Entre os pratos preparados por ela, a polenta ocupa lugar de destaque. Servida fumegante, com textura homogênea e sabor que remete às origens do interior capixaba, tornou-se uma das iguarias mais apreciadas por quem visita o espaço. “A polenta sempre esteve presente na nossa mesa. É simples, mas tem um valor enorme, porque traz lembranças da vida em família”, explica a nonna.
Dona Maria das Graças lembra com carinho das manhãs na cozinha ao lado da mãe.
“Quando eu era criança, minha mãe acordava cedo e já começava a mexer a polenta no fogão a lenha. Eu ficava do lado, aprendendo cada detalhe. Hoje, quando preparo a polenta, sinto que estou continuando essa tradição”.
Muitos visitantes dizem que o sabor da receita vai além do paladar, despertando lembranças afetivas e criando conexões entre passado e presente. Para ela, esse reconhecimento é um combustível para continuar.
“Quando vejo as pessoas elogiando e repetindo a polenta, sinto que estou fazendo a coisa certa. É como se cada colherada fosse uma forma de manter viva a memória dos nossos antepassados”, finaliza a nonna.
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