Descarte de abacate vira azeite de sucesso
Irmãos se destacam ao transformar a fruta que não poderia ser vendida para o comércio em um produto de qualidade
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Após 40 anos vendendo abacate com a família, os irmãos Peterle decidiram usar a fruta que era descartada da venda para os supermercados e criar o primeiro azeite de abacate do Espírito Santo.
Fabricado em Venda Nova do Imigrante, pelas mãos dos irmãos Maico Peterle, 39 anos, e Jean Carlos Peterle, 42, o produto já é entregue de norte a sul capixaba, e virou sucesso.
“A ideia era usar o descarte do abacate, que são as frutas que levaram alguma pancada, tiveram algum defeito mecânico e que não são enviadas aos supermercados. Esses abacates que passamos a usar no azeite”, explica Maico.
O projeto da fábrica começou em 2018, quando os irmãos passaram a estudar sobre a produção do azeite. A venda, com o CNPJ pronto, passou a acontecer há dois anos, quando Maico e Jean descobriram ao longo do processo que é necessário cerca de 5 kg de abacate com casca e caroço para entregar 250 ml de azeite da fruta.
“A irmã da Débora (esposa do Jean) veio com a ideia e contratamos um projeto do Ifes. Custou R$ 25 mil na época. Eles montaram todo o projeto, desde a lavagem do produto e a logística da fábrica até o produto final. No projeto a rentabilidade era de 10%, mas foi diferente da realidade, as contas mudaram bastante, e descobrimos que é necessário cerca de 5 kg de abacate, com casca e caroço, para entregar 250 ml do azeite pronto”, revela Jean.
Por dia, a produção chega a 50 litros e, além do azeite convencional, os irmãos passaram a produzir azeites saborizados, o que também já desperta interesse dos clientes.
Os primeiros saborizados são de socol, orégano, cebola, alho e bacon. Além disso, a próxima novidade deles é fazer linha de óleo composto.
“Já começamos os estudos e a ideia é que saia mais óleo de abacate, e com outra mistura boa, para ficar mais acessível para a população. Os saborizados já temos prontos, e estamos em fase de aprovação com clientes”, completa Maico Peterle.
Nos supermercados da Grande Vitória, o azeite é encontrado por uma média de R$ 45 a R$ 50.
No Sul do Estado, onde é fabricado, o preço é um pouco menor, e fica em torno de R$ 40 nos mercados da região.
Mais de 10 mil pés em 40 anos
Os abacates que saem da propriedade dos irmãos Peterle, em Venda Nova do Imigrante, são levados para todos os estados brasileiros e chegam na maioria dos supermercados capixabas.
Na propriedade, que começou com os pais de Jean e Maico, o produtor Deolindo José Peterle, 71 anos, e Maria da Penha Altafim Peterle, 60, são mais de 10 mil pés de abacate cultivados ao longo dos 40 anos de produtividade.
“Trabalhamos com o abacate in natura há 40 anos. Tudo começou com meus pais, e hoje eu e meu irmão tocamos o negócio com a ajuda de nossas esposas e três funcionários. Na década de 80, meu pai começou com alguns pés, e crescemos na plantação, onde temos mais de 10 mil pés”, destaca Maico.
Toda semana saem da propriedade dezenas de caminhões carregados com a fruta para todo o Brasil e para a Ceasa, em Vitória. A colheita é manual e organizada para o ano todo. Somente os abacates com avarias, que não estão nos padrões de entrega, é que seguem para a fábrica de azeite, para a produção dos irmãos.
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Aquecido em temperatura mais alta
Os benefícios dos azeites de forma geral são parecidos e o que difere o de abacate de outros é que ele pode ser aquecido em temperatura mais alta.
“A principal diferença do azeite de abacate é o ponto de fumaça. Ele pode ser aquecido até 270 graus, sem perder os benefícios. Diferente dos demais azeites, que podem ser aquecidos a no máximo 180 graus”, explica a administradora Débora Possebon, 41, esposa do Jean.
Segundo pesquisas realizadas por nutricionistas, um azeite quando passa do seu ponto de fumaça pode perder as propriedades e virar óleo comum.
Entre os benefícios do óleo de abacate está a vitamina da fruta, que é um antioxidante natural, capaz de prevenir doenças oftalmológicas, além de favorecer o emagrecimento, pois auxilia na diminuição da absorção de colesterol pelo intestino.
A administradora Carla Zardo, 37, esposa de Maico, destaca que assim como os bons azeites de oliva não possuem o sabor da azeitona, o de abacate não leva o gosto da fruta.
“No Brasil não temos fiscalização de degustação, mas desde que passamos a estudar sobre o assunto, vimos que o bom azeite não poderia ter o gosto de azeitona, por exemplo. Então o azeite de abacate não leva propriamente o gosto da fruta”, frisa Carla.
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