Buenos Aires: Um pedaço da Itália em Guarapari
Localizada na região de montanhas de Guarapari, comunidade foi berço de imigrantes italianos no século XIX
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Apesar de levar o nome da capital da Argentina, a comunidade de Buenos Aires, na região de montanhas, em Guarapari, reúne um pedaço da Itália, já que o local foi habitado principalmente pelos italianos no século XIX.
Os mais antigos contam que, em busca de livrar os filhos da pobreza, da fome e das doenças que assolavam a Itália naquela época, dezenas de famílias italianas embarcaram em navios que tinham como destino o Brasil.
Existia uma grande propaganda sobre o país tropical, e o governo italiano incentivava os moradores a deixarem suas terras para procurar trabalho em solo capixaba.
Aos 94 anos, o morador vivo mais antigo da região, Virginio Brambati, lembra que o pai, Lourenço Brambati, chegou da Itália nos primeiros navios que desembarcaram os italianos no Espírito Santo e teve muita dificuldade para se instalar na comunidade.
Sem lugar para morar, as famílias iam chegando e procurando terras que não tinham dono para se apossar. Nos dias seguintes, iam construindo as moradias de madeira e estuque.
Sem energia elétrica ou água encanada, sempre procuravam terras perto de córregos, para que as plantações pudessem ser o sustento.
“Logo meu pai se casou com minha mãe, Júlia Magnago, e eles tiveram 10 filhos. Eu nasci em 1930, e era pequeno quando a igreja católica foi construída e inaugurada, em 1938. Só falávamos italiano até a chegada da primeiras professoras na comunidade, que nos obrigaram a aprender português. Sou do tempo que não tinha energia, carro, estrada, nada. Vi cada progresso acontecer com meus próprios olhos”, relembra Virginio.
A maioria dos italianos tinha plantações. Aos sábados eles desciam para a zona urbana e vendiam café, banana, mandioca, farinha e muitos outros alimentos de casa em casa e nos comércios que existiam.
“Gastávamos 4 horas para chegar com a mercadoria no lombo dos burros e dos cavalos. Era uma semana produzindo e um dia para a venda. Sou do tempo que não tinha energia, então, na volta para casa, comprávamos peixe e salgávamos, mas perdíamos a metade porque estragava”, completa ele.
Virginio casou com dona Jacila Carminati, também italiana, e hoje, com 90 anos, recebe os cuidados dos filhos. Juntos, eles tiveram 15 filhos e 88 herdeiros, entre netos, bisnetos e um tataraneto.
“Até a adolescência só falávamos italiano aqui”
O mais velho vivo da família Arpini, Antoninho Arpini, de 81 anos, lembra como era a comunicação deles até a adolescência.
Casado com Maria Helena Brambati, 75, também de família italiana, os dois só falavam italiano até os 12, 13 anos, antes de irem para a escola.
“Foi trabalhoso aprender português. Primeiro só falávamos português na escola e, quando a gente voltava para casa, falávamos italiano de novo. Então, foi muito difícil esse processo de aprendizado”.
Foram os avós de Antoninho que chegaram de navio da Itália, em 1877. Os pais dele, Arthur Arpini e Maria Tartaglia, nasceram no Brasil, mas em outras comunidades, e chegaram em Buenos Aires em 1926, onde construíram a família.
Antoninho ainda mora na casa em que os pais construíram, e onde ele nasceu, em 1943. “Meus pais chegaram aqui na região e compraram todas essas terras. Quando eles chegaram, os Brambati já estavam aqui. Nossa vida foi na plantação, tirando leite das vacas e vendendo em Guarapari”, completa.
A construção de escolas é algo bem mais recente, já que na época em que as primeiras professoras começaram a lecionar na região as aulas eram ministradas nas casas dos italianos, ou na casa das próprias professoras.
Além dos italianos, já existiam em Buenos Aires os afrodescentes. Juntos, eles buscaram o progresso para região, mantendo as tradições.
História do boi que “voou”
A história dos italianos que chegaram em Buenos Aires virou livro pelas mãos do aposentado João Bosco Brambati, de 70 anos, que reuniu por 10 anos informações contadas pelos primeiros a habitarem a região de montanhas de Guarapari. Buscando um clima mais fresco, os imigrantes encontraram Buenos Aires.
Alguns chegam a contar que o nome veio por causa do boi que saiu correndo e “voou”, se tornando “boi nos ares”. Mas o escritor lembra que tudo veio dos “bons ares”.
“O nome de Buenos Aires nasce dos ‘bons ares’ que os italianos sentiram ao chegar no alto do morro. O navio que os italianos seguiam tinha como destino a Argentina, então começaram a chamar o local de Buenos Aires, lembrando a capital argentina. A história de que o primeiro morador foi criar boi no alto do morro e o boi saiu correndo e voou fica como causos que ninguém comprovou”.
Festa italiana na comunidade
Nos dias 13 e 14 de abril, a região de Buenos Aires celebra a 3ª edição da Festa da Imigração Italiana. Realizada pela Associação de Moradores (Amproba), o evento, que conta com atrações artísticas e gastronômicas, tem a expectativa de reunir mais de 15 mil pessoas durante os dois dias.
A festa terá início ao meio-dia do dia 13 (sábado), com a abertura dos portões e da praça gastronômica, seguido de apresentação de grupos folclóricos tradicionais de outras regiões do Estado e shows musicais.
“A programação será variada com atrações locais e típicas italianas. A novidade fica por conta do tombo da polenta, que acontecerá no sábado e no domingo, além da tradicional Carretela del Vin, onde a pessoa compra a taça e serve de vinho durante a carretela”, destaca Dirceu Brambati, presidente da Amproba.
Suplemento
No próximo dia 28 de abril, A Tribuna irá publicar um suplemento especial em comemoração aos 150 anos da imigração italiana no Brasil. O caderno vai mostrar como foi a chegada dos italianos ao País e a importância que ele tiveram no desenvolvimento do Estado.
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