Por que alguns bebês choram mais que outros?
Ambiente familiar tem grande peso no início da vida, mas influência genética ganha força com passar dos meses, de acordo com estudo
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É por meio do choro que os bebês expressam sentimentos ou necessidades, como fome, desconforto e sono.
Há bebês, no entanto, que choram mais que outros. Para tentar explicar esse fenômeno, pesquisadores da Suécia realizaram um estudo e constataram que a genética pode ser a principal responsável por alguns bebês chorarem mais.
Publicado na revista JCPP Advances, o estudo, com 998 pares de gêmeos fraternos e idênticos, analisou o comportamento de bebês entre 2 e 5 meses de vida.
Os resultados mostram que o ambiente familiar tem grande peso no início da vida, mas a influência genética ganha força conforme os meses passam.
Segundo a pesquisa, aos cinco meses, a genética começa a ter papel central, principalmente na capacidade de o bebê se acalmar durante a noite. A duração do choro em diferentes momentos do dia também mostrou forte influência hereditária.
De acordo com o levantamento, nos primeiros dois meses de vida, 50% dos choros estão relacionadas com o DNA. Já aos cinco, a estimativa sobe para 70%. Segundo os pesquisadores, o choro excessivo na infância tem um impacto emocional nos pais e em seus relacionamentos.
A pesquisa aponta que as causas que influenciam o desenvolvimento do bebê costumam mudar entre os 2 e 5 meses de idade, refletindo uma fase em que o cérebro é muito sensível e adaptável às interações com o ambiente.
A pediatra Bethania Ohnesorge Rucci Villaschi, do Hospital São José, em Colatina, explica que o comportamento dos pais pode ter influência no choro da criança.
“O choro existe como uma forma de comunicação, mas como os pais lidam com isso faz total diferença. Pais mais ansiosos, que ficam mais desesperados, tendem a deixar a criança mais agitada. Com isso, ela chora mais”.
Sandra Albano Scherrer Lopes, coordenadora médica da Pediatria, Maternidade, Pronto-Socorro e Utinp do Hospital Santa Rita, destaca que é importante os pais terem informações de confiança para saberem como agir e, se possível, terem rede de apoio. “A identificação do tipo de choro eles vão aprender com o tempo. O choro de dor, por exemplo, é mais agudo, inconsolável”.
Só acorda para mamar
Rotina estabelecida para ajudar no sono

Há dois meses, com a chegada da pequena Maria Luiza, a consultora de vendas Lorrane Narcizo, de 25 anos, está experimentando uma nova rotina.
Entre fraldas, mamadas e choro, Lorrane vai conhecendo mais a filha. “Maria é um bebê bem calmo. Ela chora mais quando quer mamar ou tem cólica. Fora isso, ela é bem tranquila e quase não chora”.
Desde o nascimento, Lorrane conta que estabelece uma rotina para a filha, que tem ajudado no sono.
“Ela acorda só para mamar e depois volta a dormir. A rotina ajuda muito o bebê. Claro que nem sempre tudo sai 100%, mas tentar manter a rotina, estimulá-la durante o dia e dar um banho relaxante antes de dormir ajudam”.
Saiba mais
Pesquisa
Influências genéticas e ambientais nos comportamentos de sono, acomodação e choro, aos 2 e 5 meses, foram examinadas em 998 gêmeos, na Suécia.
De acordo com o levantamento, nos primeiros dois meses de vida, 50% dos choros estão relacionadas com o DNA. Já aos cinco, a estimativa sobe para 70%.
A pesquisa aponta que as causas que influenciam o desenvolvimento do bebê costumam mudar entre os dois e cinco meses de idade, refletindo uma fase em que o cérebro é muito sensível e adaptável às interações com o ambiente.
Influência
Aos 2 meses, os dados indicam que o ambiente vivido pelos gêmeos — rotina familiar, local de sono, presença dos pais no quarto e estilo de cuidado — tem grande peso na maioria das variáveis analisadas, como número de despertares e capacidade de se acalmar. Em algumas medidas, o ambiente foi responsável por 90% da variação, o que mostra o impacto do contexto familiar sobre o bebê nessa fase.
Por exemplo, bebês que acordam muito à noite têm mais chance de serem amamentados e de ter mães com depressão do que bebês que dormem a noite toda, segundo a pesquisa.
Também foi descoberto que bebês cujo berço ficava no quarto dos pais tinham mais chance de não se acalmarem sozinhos durante a noite, em relação aos bebês que não dormiam no mesmo quarto que os pais.
Resultados
Os dados ressaltam ainda a importância de um ambiente estável e acolhedor, principalmente nos primeiros meses, quando o cérebro do bebê está em rápida formação e é muito sensível a experiências externas.
O estudo aponta ainda a possibilidade de que o choro noturno possa ter pistas sobre o risco genético para transtornos do neurodesenvolvimento, como autismo, mas os pesquisadores afirmam que ainda é preciso mais estudos para confirmação.
Ambiente calmo ajuda o bebê a dormir melhor

A pesquisa realizada na Suécia reforça ainda o que muitos pais já suspeitavam: o ambiente em que o bebê dorme influencia diretamente a qualidade do sono.
Segundo os pesquisadores, há vários outros fatores que podem influenciar os despertares noturnos e o tempo que leva para o bebê voltar dormir depois de acordar.
Por exemplo, bebês que acordam frequentemente durante a noite têm mais probabilidade de serem amamentados e de ter mães com depressão do que bebês que dormem a noite toda.
Também foi descoberto que bebês cujo berço ficava no quarto dos pais tinham maior probabilidade de não se acalmarem sozinhos durante a noite, em comparação com bebês que não dormiam no mesmo quarto que seus pais.
A pediatra Sandra Albano Scherrer Lopes explica que, nos primeiros dias de vida, o bebê tem um sono “mais picadinho”.
“Com o passar dos meses o sono vai amadurecendo. A partir dos três meses, o bebê tem uma rotina de sono melhor à noite, com sonecas maiores. Isso acontece porque o bebê não produz a melatonina logo que nasce, que é o hormônio responsável pelo ritmo circadiano. E muitos pais não estão preparados para a privação de sono”.
“Claro que há bebês que sempre dormiram bem, sem esforço para uma rotina de sono, mas há bebês que demandam mais, por questões genéticas e também ambientais”.
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