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Cidades

“Por beber todo dia, tive que fazer transplante de fígado”, diz comerciante

Comerciante João Batista Ramos, de 57 anos, estava com cirrose em nível grave quando conseguiu transplante de órgão


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Imagem ilustrativa da imagem “Por beber todo dia, tive que fazer transplante de fígado”, diz comerciante
João Batista Ramos entre as irmãs Maria Isabel Ramos e Neuzeli Ribeiro Ramos dos Santos, que ajudaram na busca por diagnóstico e tratamento |  Foto: Leone Iglesias/AT

“Descobri que a vida é boa demais e envelhecer com qualidade de vida é ainda melhor”. Esse é o sentimento do comerciante João Batista Ramos, 57, que há um mês passou por um transplante de fígado e conseguiu uma nova chance de viver.

A cirrose, que evoluiu para um quadro grave, foi reflexo do uso de álcool desde a juventude. “Por beber todo dia, tive que fazer transplante de fígado”, contou.

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João Batista foi o primeiro paciente de transplante hepático realizado no Hospital Evangélico de Vila Velha (HEVV), no dia 18 de abril. Hoje, ele agradece à equipe do hospital e à família do doador do órgão, que em meio à dor, conseguiu ajudar outras pessoas. 

Ao lado de duas de suas irmãs, Maria Isabel Ramos, 55, e Neuzeli Ribeiro Ramos dos Santos, 48, ele revelou como foi a descoberta da doença, que começou a apresentar sintomas mais frequentes em 2021.

“Estávamos passando o Carnaval em família e ele começou a ter sangramentos no nariz. Levamos no posto de saúde e a pressão arterial estava alta”, disse Isabel.

Com outros sinais se apresentando, como inchaço e coceira nas pernas, além de fraqueza e desânimo, no ano passado um sobrinho, que é médico, insistiu para que João Batista buscasse fazer exames para investigar o quadro.

Depois de ser atendido em uma unidade de saúde, os exames de sangue apontaram alterações importantes. A família também buscou fazer exames até mesmo na rede particular, já que João Batista ficava cada vez mais debilitado. 

“No final do ano, conseguimos marcar uma endoscopia, que seria em janeiro no Hospital Evangélico de Vila Velha, mas ele já estava muito mal. Quando chegou no hospital, a pressão estava 5 por 3, então foi direto para a UTI”, lembrou  a irmã. 

No hospital, foram realizados mais exames, que comprovaram a cirrose hepática, já em níveis muito graves. De janeiro até abril, foram duas internações, até a esperada ligação em uma noite: havia um fígado disponível.

Segundo João Batista, três dias após a cirurgia, ele já estava muito melhor que antes. Hoje, com 21 quilos a menos, ele já se alimenta normalmente. “Descobri que sem a bebida a gente pode viver, mas sem a comida, não. Antes de operar, não estava podendo comer praticamente nada”.

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João Batista: "Eu bebia cerveja todos os dias"

O desânimo e o cansaço provocados pela cirrose ficaram para trás. Hoje, João Batista Ramos, de 57 anos, já faz planos de viagens em família, para rodar pelo País de carro. Casado e pai de três filhos, ele revelou que sempre achou que tinha boa saúde, por isso tinha resistência em ir a médicos 

A Tribuna – Quando descobriu que havia algo errado?

João Batista Ramos – Não sei ao certo, pois não sou de ir a médicos. Eu bebia cerveja ou alguma coisa mais todos os dias. Não era em grande quantidade, mas era sempre. Hoje, olhando para possíveis sinais, talvez tinha algo no fígado desde 2014, pois comecei a sentir uma dor na perna. Mas a doença no fígado é silenciosa, então só passei a perceber algo errado mesmo em 2021 e 2022.

O que aconteceu?  

Tive sangramentos, a pressão subiu. Na época achava que era uma ferida. Depois comecei a ter inchaço nas pernas, coceira, e muito desânimo, tive desmaio. Chegou a um ponto em que não conseguia mais escrever nada, as vistas escureciam. Eu sempre mostrava que  estava bem, mas não estava. Em janeiro, teve o diagnóstico. 

E quando soube do doador? 

Eu fiquei pasmo, sem reação. Foi tudo muito rápido. Falei para minha irmã que era melhor que ganhar na loteria, pois muito dinheiro não traz tudo. Não nos dá saúde. Já tinha colocado nas mãos de Deus que se fosse para viver mais, que ele me permitisse. Quando veio a notícia, sabia que Deus tinha preparado aquilo para mim. Três dias depois da cirurgia, já estava melhor que antes. 

E o que o transplante te trouxe de aprendizado? 

Chega uma hora que a gente paga pelos nossos hábitos de vida. Eu não pensava que aquilo poderia me fazer mal, sempre me considerei uma pessoa com muita saúde. Entendi que se a pessoa puder não começar a beber, é melhor, pois a nossa vida tem muito valor.

Cirurgia uma semana após entrar na fila de espera

A gravidade do quadro do comerciante João Batista Ramos, de 57 anos, fez com que o transplante fosse realizado uma semana após ele ter sido inscrito na fila para a cirurgia. 

O coordenador do programa Cirurgia Hepatobiliopancreática e Transplante Hepático do Hospital Evangélico de Vila Velha, Francisco Nolasco, explicou que a ordem de espera por um fígado se dá por ordem de gravidade. 

“O nosso paciente estava com um quadro tão grave que ele já ficou em quarto lugar. Como a fila andou e a disponibilidade se dá pelo tipo sanguíneo, recebi a ligação uma semana depois, dizendo que havia um órgão disponível”.

O médico explicou que nesses casos, a equipe de captação de órgãos vai até o paciente com morte encefálica para avaliar as condições do fígado.  

Após a retirada do órgão, a equipe tem 14 horas para realizar o transplante. “No caso de João Batista, ele foi chamado para a realização dos exames pré-operatórios. A cirurgia levou cerca de quatro horas, com a retirada total do fígado e transplante do novo órgão”.

Nolasco revelou, ainda, que quatro cirurgiões participaram do procedimento, que ocorreu sem complicações. 

Para ele, não tem melhor satisfação do que acompanhar os resultados a cada semana de João Batista. “Para o médico, o maior benefício do transplante é devolver a um paciente toda sua capacidade funcional perdida, sua capacidade laborativa, vida social, esportiva e a relação conjugal. A vida volta ao normal.”

Ele ressaltou que o transplante envolve uma grande equipe capacitada e comprometida para que todo o processo ocorra em uma sincronia. 

O Hospital Evangélico já realiza transplantes de rim, córnea e coração e, em dezembro de 2022, foi habilitado para realizar transplante de fígado.

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