Planos de saúde batem recorde de idosos no Espírito Santo
No Espírito Santo, o número de contratos de pessoas com 60 anos ou mais passou de 114,4 mil para 165,5 mil em 10 anos
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O envelhecimento da população brasileira tem impactado diretamente nos planos de saúde, segundo especialistas. Prova disso é o expressivo aumento no número de idosos que optam por aderir a esses serviços.
Entre março de 2013 e o mesmo mês de 2023, no Espírito Santo, o número de contratos de pessoas com 60 anos ou mais passou de 114,4 mil para 165,5 mil, uma alta de 44,6%. Foram 51 mil idosos em 10 anos. Essa alta pode ter reflexo nas mensalidades, segundo especialistas.
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Já o total de beneficiários com essa faixa etária no País passou de 5,7 para 7,2 milhões, crescimento de 26,6%, entre dezembro de 2013 e dezembro de 2022. Comparando, o Estado teve alta (44,6%) acima da médica nacional (26,6%).
Os dados são do novo estudo feito pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) “Evolução do Número de Idosos em Planos de Saúde no Brasil nos últimos 10 anos”.
Para o superintendente executivo do IESS, José Cechin, a incidência de doenças crônicas com a idade aumenta muito. “É natural que as pessoas se preocupem com a assistência à saúde nessa faixa etária, especialmente as que são portadoras de doenças crônicas”.
Cechin avalia que o sistema de precificação, sabendo que os idosos têm mais doenças crônicas, necessitando de mais serviços de saúde, permitiu que os planos fossem precificados de acordo com a faixa etária.
“Eles gastam mais, mas pagam mais. Os jovens tendem a pagar um pouco mais do que custam, em média, para que os idosos possam pagar um pouco menos do que custam e permanecerem nos planos”.
Porém, esse modelo, segundo Cechin, terá de ser “equacionado” de alguma forma, por exemplo, com o aumento de preço para todas as faixas etárias.
O superintendente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), Marcos Novais, ressalta que os custos médicos hospitalares são caros para a faixa etária acima dos 60 anos.
“No caso são os jovens que financiam os idosos. Eles pagam um valor maior para custear esse público. Vemos com um pouco de preocupação, porque cada vez temos mais idosos e não temos entrada de jovens suficiente nos planos de saúde para equilibrar essa conta e ajudar no custeio das pessoas idosas”, avalia Marcos.
“O plano de saúde é sagrado”
Desde 1977, o aposentado Antonio de Castro Reis, de 80 anos, tem plano de saúde. Ele e sua esposa, a dona de casa Eunice de Castro Reis, 73, prezam por manter o plano para ter uma melhor assistência de saúde.
O aposentado conta que teve por muitos anos o plano empresarial da empresa que trabalhava, permanecendo com a operadora mesmo depois de se aposentar. Mas, devido ao alto valor, resolveu buscar, há dois anos, outra opção.
“O plano que tinha era muito bom, mas por causa da coparticipação pagávamos mais caro. Estou com outro plano em que só pago a mensalidade”, conta.
Ficar sem um plano de saúde nunca foi uma opção para o casal. “Não tem como, se formos para o Sistema Único de Saúde em caso de emergência, há muita gente para ser atendida. Prefiro sacrificar outras coisas, mas o plano de saúde é sagrado. Ficamos mais seguros”, afirma Antonio.
“Nunca precisei utilizar nenhum dos planos para ficar internado. Quando era novo pagava, agora idoso é que tenho de continuar pagando. Quando novo já passei mais de um ano sem utilizar o plano de saúde. Hoje, já preciso usar mais, mesmo que não seja para nada grave”, afirma Antonio.
Operadoras querem novos modelos de cobertura
Para tentar equilibrar o envelhecimento populacional e a quantidade de usuários nos planos de saúde, as operadoras defendem novos modelos de cobertura, como a comercialização do plano exclusivo de consultas e exames e a adoção de modelos de franquia.
“Defendemos a permissão da comercialização do plano exclusivo de consultas e exames, ou seja, mais aderentes às necessidades e às capacidades de pagamento das famílias e das empresas, que não conseguem fazer frente a serviços privados mais abrangentes”, destaca a diretora-executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), Vera Valente.
Vera cita que a Federação defende, ainda, a adoção de modelos de franquia e coparticipação, “que funcionam como instrumentos de racionalização do uso do plano e de estímulo para que o consumidor seja cada vez mais responsável por suas escolhas, para reduzir desperdícios e otimizar uso das estruturas assistenciais”.
Segundo a diretora-executiva, o aumento da proporção de idosos nos planos gera crescimento dos custos e desequilíbrio no sistema, já que os integrantes dessa faixa etária geram mais despesas.
Vera alerta que a sustentabilidade dos planos de saúde é ameaçada quanto menor for o número de jovens contribuindo para o mútuo. “É necessário, portanto, garantir seu funcionamento diante do envelhecimento populacional”, ressaltou.
“Envelhecimento deve ser encarado como algo natural”
Ainda que o envelhecimento possa ser encarado como sinônimo de maior custo à saúde, a advogada do Programa de Saúde do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Marina Paullelli, ressalta que “o número de idosos deve ser visto como reflexo social e não como problema”.
“O que deve ser analisado com muito cuidado é considerar a pessoa idosa como um risco ou fardo para os planos de saúde. O envelhecimento deve ser encarado como algo natural e as operadoras devem se estruturar para entregar um serviço de qualidade para o idoso”, ressalta a advogada.
Marina destaca que, com base nos dados, não tem havido entrada de mais idosos nos planos de saúde. “Os números indicam que esses consumidores já estão nos contratos há bastante tempo”.
“Antes de cogitar um possível reajuste é muito importante avançar em pautas como garantir um teto de reajuste anual para os contratos coletivos, que são maioria”.
Saiba mais
As adesões de planos médico-hospitalares para idosos com mais de 60 anos seguem em crescimento no Brasil e no Espírito Santo, segundo estudo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS).
Brasil
Segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), entre dezembro de 2013 e dezembro de 2022, o total de beneficiários com 60 anos ou mais passou de 5,7 para 7,2 milhões, no País, crescimento de 26,6%, enquanto o número total de beneficiários cresceu 1,9%.
Espírito Santo
Entre março de 2013 e o mesmo mês de 2023, o número de contratos desse grupo etário passou de 114,4 mil para 165,5 mil, alta de 44,6%, acima da média nacional (26,6%).
A análise revela que o grupo de pessoas com idade entre 65 e 69 anos foi o que mais cresceu no período (61,1%) – eram 24,7 mil, em 2013, e saltou para 39,8 mil, em 2023.
Fonte: IESS.
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