Piloto que ficou sem andar após acidente recebe tratamento inédito
Luiz Fernando Mozer recebeu a polilaminina, remédio feito de proteína da placenta e que promete restaurar lesão medular recente
Após perder os movimentos das pernas por causa de um grave acidente de motocross no Sul do Espírito Santo, o piloto capixaba Luiz Fernando do Nascimento Mozer, 37, conseguiu na Justiça o direito de receber um tratamento inédito: a polilaminina.
O medicamento – uma proteína extraída da placenta humana – ainda é experimental, fruto de 25 anos de pesquisa liderada por Tatiana Coelho de Sampaio, professora doutora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com o laboratório Cristália.
Luiz Fernando teve uma lesão medular completa, considerada grave e irreversível, após um acidente no dia 7 de dezembro, em Vargem Alta.
Como a polilaminina ainda não é liberada para ser comercializada, a família de Luiz Fernando correu contra o tempo para acionar a Justiça e conseguir acesso ao tratamento.
No último sábado (15), após uma decisão favorável, dois médicos que fazem parte da equipe de pesquisadores da nova droga estiveram na Santa Casa de Misericórdia de Cachoeiro de Itapemirim, onde aplicaram a medicação.
Um dos médicos, Olavo Borges Franco, da UFRJ, revelou que a medicação é aplicada dentro da medula do paciente. “Ela foi bem-sucedida, mas a recuperação depende também de fatores anatômicos da lesão. Se houver uma recuperação, ela será gradual e ao longo das sessões de fisioterapia”.
A professora doutora Tatiana Coelho de Sampaio explicou que a aplicação, no caso do paciente capixaba, não faz parte de estudos clínicos da medicação. “Esse foi um procedimento isolado, autorizado pela Justiça, em que a Cristália disponibilizou a medicação. O que sabemos é que outros três pacientes tiveram liminar favorável, mas ainda não receberam”.
Para liberação para uso no País, o medicamento ainda aguarda autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar novos estudos clínicos regulatórios. “Até o momento, dentro de estudo clínico, oito pacientes já receberam a medicação”.
Representantes do governo Estadual, do laboratório da UFRJ e da indústria Cristália realizaram ontem uma visita técnica para conhecer a infraestrutura do Estado.
O assessor de relações institucionais da Casa Civil, Mitter Mayer, revelou que o Espírito Santo se prepara para ser um “braço auxiliar” na pesquisa da polilaminina.
“Queremos colocar cinco hospitais de referência na questão de trauma para participar da validação da medicação, antes do uso comercial. No entanto, ainda dependemos do aval da Anvisa para liberar os estudos”.
“A medicação devolveu a esperança para meu irmão”
Após o grave acidente que deixou o piloto capixaba Luiz Fernando do Nascimento, 37, sem os movimentos das pernas, a família correu contra o tempo em busca de uma alternativa que pudesse mudar o prognóstico.
Enfermeira, a irmã dele, Carla do Nascimento Mozer, 34, foi peça-chave na mobilização que resultou na decisão judicial.
A Tribuna — Como foi o acidente com seu irmão?
Carla do Nascimento Mozer — Foi durante um evento de motocross em Vargem Alta. Ele participa dessas provas há bastante tempo. Não é algo profissional, nem com objetivo de ganhar troféu. É uma paixão mesmo.
A família estava no local?
Sim. Meu pai, minha mãe e a noiva dele estavam assistindo. Foi desesperador para eles, porque a corrida precisou ser interrompida para a ambulância entrar na pista.
Já na hora do socorro ele percebeu que não conseguia se levantar. Ele perdeu a sensibilidade do umbigo para baixo.
Os médicos confirmaram que era uma lesão medular completa, causada por uma lesão na vértebra L1. É um tipo de lesão irreversível.
Ele estava consciente?
Sim, o tempo todo. Ele perguntava o tempo inteiro se voltaria a andar. Como sou enfermeira, eu já sabia do diagnóstico, mas preferi esperar a cirurgia para que os médicos explicassem tudo para ele.
Ele chegou a operar?
Sim. Na quinta-feira ele fez a cirurgia para estabilização da coluna, para que ele pudesse sentar.
Quando surgiu a ideia de buscar a polilaminina?
Quando eu tive a confirmação do diagnóstico, um dia após o acidente. Já tinha ouvido falar e fui atrás. Conversei com um paciente que já tinha recebido a polilaminina, com pessoas do laboratório, da UFRJ. Via o tratamento como esperança e teria que ser rápido.
Como seu irmão está hoje?
Ele acabou de chegar em casa, está em Iconha. Agora começamos a correr atrás da fisioterapia. Sabemos que tem uma longa recuperação pela frente, mas a gente sonha em dar logo a notícia de que ele voltou a sentir alguma coisa. A medicação devolveu esperança ao meu irmão.
Saiba Mais
O que é a polilaminina
É um medicamento inédito e inovador desenvolvido no Brasil a partir da proteína laminina, extraída da placenta humana.
Para os pesquisadores, representa esperança para restauração de lesões medulares recém-ocorridas, possibilitando a recuperação total ou parcial de movimentos.
A substância tem ação direta sobre o sistema nervoso, estimulando neurônios já maduros a rejuvenescerem e criarem novos axônios, responsáveis por transmitir os impulsos elétricos do corpo.
O fármaco é resultado de 25 anos de pesquisa liderada pela professora doutora Tatiana Coelho de Sampaio, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com o laboratório Cristália.
Resultados de pesquisas
Os primeiros testes foram realizados em animais e mostraram efeitos promissores. Em ratos, a recuperação ocorreu em 24 horas; em cães houve retomada da marcha.
Já nos estudos clínicos iniciais em humanos, oito voluntários receberam o medicamento.
A ideia é que ele seja aplicado três meses após a lesão, já que os resultados foram mais expressivos.
As pesquisas ainda revelaram que lesões mais antigas também foram impactadas, com um grau de melhora, mas os resultados são melhores quando aplicados rapidamente.
Caminho para liberação
O laboratório cristália, parceiro no desenvolvimento do fármaco, já está produzindo a polilaminina a partir de placentas doadas por mulheres saudáveis. No entanto, aguarda a aprovação da Anvisa para iniciar estudos clínicos regulatórios.
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