José Antônio Bof Buffon: “Presenciei a expulsão das famílias do campo”
José Antônio Bof Buffon lembra as transformações sociais e econômicas no Estado durante os anos 60, 70 e 80
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“O desenvolvimento do Espírito Santo tem relações profundas com o ciclo de produção cafeeira. Foi a produção de café que trouxe os imigrantes para cá, e não foi diferente com a minha família.
As transformações econômicas e sociais dos anos 60, 70 e 80, contudo, mudaram o rumo do Estado e, assim como milhares de pessoas, vivi a expulsão das famílias do campo para as cidades.
Nasci em uma colônia italiana no interior de Guaraná, em Aracruz, e, desde cedo, ajudei a minha família no cultivo de café.
O que, no passado, representou a maior riqueza para o comércio exterior brasileiro sofreu transformações com o avanço tecnológico e forçou um êxodo rural, que afetou a minha família.
Mudança
Após perder meu pai, aos 15 anos, minha mãe, meus dois irmãos, meu primo e eu viemos para Goiabeiras, em Vitória. Vivíamos um processo de transformação no mundo e, no Brasil, as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília cresceram muito, e não foi diferente para a Grande Vitória.
Na época, o governo federal iniciou um programa de erradicação dos cafezais produtivos. Isso gerou uma massa de migração muito forte. Essa mudança não é fácil.
Rapidamente, as casas do meu povoado foram abandonadas no mato e o café, que eu colhi e vi ser moído, virou lenha. Foi um lugar que sumiu do mapa.
Ao chegar em Vitória, tivemos de nos adaptar a um novo estilo de vida. Quando eu era adolescente, a diversão acessível às famílias era ir à Praia de Camburi aos fins de semana.
Lembro-me que atravessávamos em meio ao mato para chegar às areias. Ir a pé era sempre melhor do que pegar os ônibus, porque era impossível entrar neles.
Minha memória da adolescência de Vitória é, antes de tudo, do sol forte e do cheiro do mar, que contrastavam com os aromas do campo e com o clima do povoado.
Com essa mudança para as cidades, fui um dos primeiros da família a cursar o ensino superior.
Eu saí da roça, que não tinha energia elétrica e ficava a oito quilômetros a pé da escola, para, no início da vida adulta, estudar Ciências Econômicas na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Mais tarde, embora eu nem imaginasse, eu me tornaria professor de Economia da Ufes, instituição em que lecionei por cerca de 36 anos.
Crescimento de Vitória
Nos anos 70 e 80, tínhamos cerca de quatro opções de bares em Vitória. Embora fosse uma capital, nossa cidade tinha poucas opções de serviços. Vi nascer, por exemplo, a Rua da Lama.
Minha família foi para Goiabeiras, mas, em geral, as famílias do campo iam para Campo Grande, em Cariacica, além de bairros de Vila Velha e da Serra. Naquela época, o centro de animação da Região Metropolitana era o centro de Vitória.
Era um lugar de negócios, de lazer, de movimento da vizinhança, de ouvir música e de comércio. A construção do Complexo de Tubarão, contudo, fortaleceu o desenvolvimento urbano para os bairros ao norte, como Jardim Camburi, por exemplo.
Esse é um movimento natural em cidades de todo o mundo, mas devemos construir políticas de revitalização, que priorizem, especificamente, a habitação das antigas regiões centrais, além de espetáculos, eventos e shows.
Em visitas recentes a outras cidades, principalmente a Curitiba e a Florianópolis, que estão em amplo crescimento do turismo e do ecossistema de inovação, vejo que estamos no caminho certo para potencializar os pontos fortes de Vitória.
Nos próximos anos, toda a Grande Vitória viverá novas transformações e, se estivermos atentos às novas dinâmicas econômicas, podemos aproveitar o potencial de inovação, de capital humano e de turismo que temos a oferecer ao País. Todos os capixabas serão beneficiados”.
Depoimento ao repórter Jonathas Gomes.
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