Nove bicicletas roubadas todos os dias no Espírito Santo
Foram 3.428 roubos no ano passado. O objetivo é trocar o veículo por drogas e vender peças de modelos mais caros, dizem os especialistas
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Há muito tempo a bicicleta é usada para prática de atividade física, lazer, para quem precisa se deslocar até o trabalho e, mais recentemente, pelas pessoas que sobrevivem fazendo entrega de alimentos e outros produtos por aplicativos.
Seja das mais simples aos modelos mais caros, elas também estão na mira dos criminosos, que roubaram, em média, nove bicicletas por dia no Estado de janeiro a dezembro do ano passado. Foram 3.428 registros no ano passado, de acordo com a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp).
Em novembro do ano passado, o operador de máquinas Rogério Santos, de 52 anos, saiu de bicicleta de casa, em Bento Ferreira, Vitória, com destino à Vila Rubim.
Como tinha tempo para chegar ao trabalho, encostou a bicicleta na mureta da avenida Beira-Mar e desceu até a maré.
“Vi um cara se aproximando, mas não imaginei o que ele iria fazer. Quando voltei, cadê minha bicicleta?”, disse Rogério.
O operador de máquinas contou que, neste momento, uma viatura da Polícia Militar passou e os policiais sinalizaram que sabiam o que estava acontecendo. O bandido foi localizado cerca de uma hora depois, em Bento Ferreira.
“No mesmo dia, eu tive a minha bicicleta de volta. É esta daqui”, disse, mostrando a sua “parceira”. “Agora só ando com cadeado. Na hora, eu não sabia o que fazer, nem para onde ir, fiquei perdido. Ainda bem que os policiais passaram”.
Em outro caso, de acordo com o delegado Diego Bermond, titular do 3º Distrito Policial (DP) de Vitória, um suspeito foi preso em flagrante, com uma bicicleta elétrica furtada de um condomínio no bairro Santa Helena, em Vitória.
Ele foi preso na Praia do Suá com a bicicleta, avaliada em R$ 5 mil. “Há cerca de três meses, quebraram o portão do condomínio e levaram a bicicleta, que estava sendo comercializada em um site de vendas. O receptador foi preso, autuado em flagrante por receptação e encaminhado ao presídio”.
Fabrício Dutra, delegado superintendente da Região Norte, conta que tanto há o roubo praticado para sustentar o vício em drogas, quanto para vender as peças dos modelos mais caros.
“A gente sabe que há um mercado por trás de peças de bicicletas, aquelas que são muito caras, de R$ 20 mil, R$ 30 mil, R$ 40 mil, R$ 50 mil. E tem o furto ou roubo para trocar em drogas”, afirma.
Olheiros ficam em praias e praças
Na busca pela bicicleta a ser roubada, seja dos modelos mais simples aos mais caros, de fibra de carbono ou elétricas, bandidos ficam como olheiros nas praias e praças à espera de seus alvos, segundo a Polícia Civil.
“Eles ficam em bicicletas, rodando pelas praias, praças, em busca de informação do pessoal que está vendendo essas bicicletas. Eles vão como compradores e acabam fazendo o roubo. E esses modelos que vêm com chassis são mais caros, eles pesquisam o mercado”, diz o delegado Fabrício Dutra.
O delegado Diego Bermond contou sobre o caso de um pai e uma filha, que estavam de bicicleta e foram até a lanchonete em uma praça na Praia do Canto, em Vitória.
“Eles deixaram a bicicleta sem travar, do lado de fora, mas sempre à vista do pai. Um minuto que ele não olhou, dois criminosos chegaram em uma bicicleta, um deles desceu e levou o veículo do pai”.
Diego Bermond conta ainda que os condomínios também são alvos. “São crimes de oportunidade. Já aconteceu de a pessoa deixar dentro do condomínio, sem cadeado, e ser levada. Um criminoso já pegou dentro da área de igreja”, diz.
Apreensões vão para projeto social
Afinal, o que acontece com as bicicletas que são apreendidas, mas a polícia não consegue localizar o proprietário?
De acordo com o delegado Diego Bermond, titular do 3º Distrito Policial (DP) de Vitória, as que são apreendidas no DP e ficam por um tempo sem que o dono procure ou seja encontrado são encaminhadas para um projeto do Ministério Público do Espírito Santo (MPES).
“Elas são enviadas para o Ministério Público. Não ficam estocadas na delegacia, até porque nós nem temos espaço para isso na unidade”, afirma o delegado Diego Bermond. Em ofício enviado ao MPES no dia 15 de dezembro do ano passado, a DP encaminhou três bicicletas ao projeto “Pedalando pela Liberdade”.
Tanto o delegado Diego Bermond quanto o delegado Fabrício Dutra destacam que os sistemas de videomonitoramento, os chassis das bicicletas mais modernas, os boletins de ocorrência, bem como as denúncias anônimas feitas pela população pelo Disque Denúncia 181 auxiliam nas investigações da polícia para identificar e prender os criminosos.
Saiba mais
Vila Velha lidera os registros
3.428 casos de furtos e roubos de bicicletas de janeiro a dezembro de 2023 no Estado ao todo.
Dos 3.428 casos, 2.748 são de furtos e 507 de roubo, e 173 foram recuperadas, segundo a Secretaria de Segurança Pública (Sesp).
Do total de casos, a maioria das bicicletas foram furtadas ou roubadas nos seguintes locais: residências (1.197); rua (1.149); e estabelecimentos comerciais (584).
Municípios1º Vila Velha- 1.056
2º Vitória- 756
3º Serra- 479
4º Linhares- 214
5º Guarapari- 189
6º Cariacica- 120
7º São Mateus- 94
8º Marataízes- 74
9º Aracruz- 45
10º Venda Nova- 26
Bairros
1º Centro de Vitória- 318
2º Jardim da Penha- 155
3º Jardim Camburi- 148
4º Praia da Costa- 122
5º Parque. Res. Laranjeiras- 102
6º Glória- 100
7º Itapuã- 81
8º Praia do Morro- 75
9º Coqueiral de Itaparica- 65
10º Praia do Canto- 56
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