Mudanças nas famílias: número de casais sem filhos dobra nos últimos anos
No censo de 2000, a proporção era de 14,9% do total de casais sem filhos. Já em 2022, esse percentual saltou para 26,9%
A quantidade de casais sem filhos no Brasil quase dobrou nos últimos anos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no censo de 2000, a proporção era de 14,9% do total de casais brasileiros sem filhos. Já em 2022, esse número saltou para 26,9%.
O Instituto afirmou que a maior participação da mulher no mercado de trabalho, baixas taxas de fecundidade, e o envelhecimento da população são os principais fatores que influenciaram o aumento desse percentual.
“Há uma clara tendência de crescimento do número de casais sem filhos. Uma explicação se deve ao fenômeno do adiamento do casamento ou da união estável, após os 30 anos, ou de ter o primeiro filho em uma idade mais adulta, fenômeno parecido ao que se vê em países desenvolvidos”, explicou o doutor em Demografia do Laboratório de Análises Geográficas, Demográficas e da População da Universidade Federal do Espírito Santo (Lagedep/Ufes), Cimar Alejandro Prieto Aparicio.
Em 2000, os lares que abrigavam casais com filhos eram 63,6%. Dez anos depois, a parcela era de 54,9%. Já o Censo 2022 revela 45,4%. O levantamento do IBGE considera famílias apenas pessoas que moram juntas e têm relação de parentesco entre si, isto é, não leva em conta, por exemplo, dois estudantes que compartilham um imóvel.
“Tudo indica que essa tendência irá se intensificar nos próximos anos e, na década de 2040, a população do Brasil e do Espírito Santo começará a reduzir. Estamos passando por um momento de transição demográfica”, afirmou o diretor-geral do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) Pablo Lira.
Essa transição demográfica indica melhoras estruturais no País, e aumento da expectativa de vida.
“Por mais que sejam lentas, o Brasil está tendo melhorias em educação, medicamentos contraceptivos e novas tecnologias que estão corroborando para a redução na taxa de fecundidade. Aliada a isso, o Espírito Santo, junto com Santa Catarina, são os estados com a maior esperança de vida ao nascer, chegando perto dos 80 anos”, disse Pablo.
Casais também estão em processo de individualização, priorizando necessidades pessoais, destaca o psicólogo Gerson Abarca.
“Um filho representa ter que dar atenção e cuidado, e os casais estão optando por aproveitar a vida conjugal plenamente. Além disso, medo do futuro, da economia, e até de catástrofes naturais, estão entre as justificativas dos casais para optarem não ter filhos”, disse.
Adiando planos
Márcia Littig e Adriano Alves são casados há 25 anos. Eles planejavam ter filhos após cinco anos de união, mas postergaram tanto os planos que acabaram sem ter crianças. “Quando eu queria, ele não queria, e vice-versa. Nós adiávamos os planos de ter filhos para fazer faculdade, mobiliar a casa, viajar e curtir a vida. Sempre quis ter gêmeos, e não descarto a possibilidade da adoção algum dia”, diz Márcia.
Saiba mais
Taxa de fecundidade em queda no País
Casais sem filhos
O suplemento Nupcialidade e Família, do Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado ontem, mostrou que, nas últimas décadas, o número de casais sem filhos dobrou no Brasil.
No Censo de 2000, a proporção era de 14,9%. Já em 2022, esse número saltou para 26,9%, quase dobrando a quantidade de casais sem filhos em todo o Brasil.
Redução de fecundidade
No Estado, a tendência é similar. A taxa de fecundidade é de 1,6 filho por mulher. No Brasil, a taxa é de 1,55 filho por mulher.
Na década de 80, a taxa era de 7 filhos por mulher em todo o Brasil.
Desde 2010, a taxa de fecundidade brasileira está abaixo da chamada taxa de reposição populacional, ou seja, da média de filhos por mulher necessária para manter a população estável, que é de 2,1.
Maternidade tardia
A pesquisa não apenas observou a continuidade da queda da taxa de fecundidade, como também revela que as mulheres estão tendo filhos com idades mais avançadas.
A idade média da fecundidade no Brasil passou de 26,3 anos em 2000 para 28,1 em 2022. A tendência foi observada em todas as regiões.
Em 2022, o Norte apresentou a menor idade (27 anos) enquanto o Sudeste e o Sul mostram as maiores (28,7 anos). Entre as unidades da federação, a idade média de fecundidade mais alta foi a do Distrito Federal (29,3 anos) e a mais baixa, do Pará (26,8 anos).
Sem filhos
O levantamento aponta ainda que cresce o grupo daquelas que chegam ao fim da idade reprodutiva sem filhos. O percentual de mulheres com 50 a 59 anos que não tiveram filhos nascidos vivos segue em alta.
Em 2000 era 10%, passou para 11,8% em 2010 e apresentou um aumento ainda mais expressivo em 2022, chegando a 16,1%.
No Norte, o percentual passou de 6,1% para 13,9%. No Sudeste, subiu de 11% para 18%.
Entre as unidades da federação, o Rio de Janeiro tinha, em 2022, o maior percentual (21%) de mulheres sem filhos e Tocantins, o menor (11,8%).
Fonte: IBGE e Agência Brasil.
MATÉRIAS RELACIONADAS:
Comentários