Motoristas cada vez mais intolerantes no trânsito
Especialista explica que a falta de paciência ficou mais evidente após o período de isolamento social causado pela pandemia
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Pressa, estresse e falta de gentileza. O conjunto desses fatores no trânsito não é bem uma novidade, mas tem se agravado e até feito vítimas no Estado.
No último domingo, o frentista Leandro Assis Ferreira, de 28 anos, foi morto com cinco tiros após uma discussão de trânsito, em Parque Residencial Laranjeiras, na Serra. A briga teria começado após o carro dele ter sido “fechado” por outro automóvel.
O diretor do Departamento de Operações de Trânsito da Serra, Fábio Alves, explica que, quando visualizada uma situação de conflito, a força de segurança mais próxima é acionada, como guardas municipais, agentes de trânsito ou até mesmo a Polícia Militar.
“Muitas dessas brigas não são vistas, já que começam de vidro para vidro do carro. Além disso, não existe uma infração específica pela discussão em si”, pontuou.
O diretor destaca que, após o período de isolamento social em razão da pandemia de covid-19, os condutores têm apresentado comportamentos ainda mais apressados e imprudentes.
“A intolerância e a falta de paciência são evidentes, principalmente no pós-pandemia. Passamos por um período difícil, fechados dentro de casa, lidando com perdas e com a falta de contato humano. Agora que retornamos, é perceptível que o lado psicológico ainda está abalado”, avaliou.
Para o subinspetor Jobson Meirelles, da Inspetoria de Educação para o Trânsito de Vila Velha, os maiores motivos de confusões no trânsito são o excesso de velocidade, o álcool, a falta de civilidade e o estresse. “Quando chegamos ao local de conflito, o protocolo é tentar apaziguar e acalmar os ânimos dos condutores”, disse.
O subinspetor aponta ainda que a violência de gênero também é comum em brigas de trânsito. “Existe muita violência verbal de homens contra mulheres. Por vezes, o homem tenta intimidá-la ou faz ameaças. A situação muda com a chegada dos agentes”, observou.
O chefe de Comunicação do BPTran, capitão Anthony Moraes, ressalta que as pessoas se sentem ofendidas ao perderem uma vaga de estacionamento, um espaço prioritário na via e até com a lentidão no tráfego.
“Acontece que o trânsito é um exercício de cidadania e ser cidadão também passa por ser tolerante e agir com racionalidade”, afirmou.
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Você sabia?
Um projeto de lei (4187/21) apresentado na Câmara dos Deputados, em Brasília, previa multa e até a suspensão do direito de dirigir para quem parasse o veículo na pista ou no acostamento em razão de discussão ou briga no trânsito. O projeto, no entanto, foi arquivado no início deste ano.
Morto com cinco tiros após briga
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A Polícia Civil investiga a morte do frentista Leandro Assis Ferreira, de 28 anos. No domingo, o posto de combustível onde ele trabalhava, no bairro Morada de Laranjeiras, na Serra, ficou fechado, com um cartaz indicando luto.
Uma mulher de 44 anos que estava junto com a vítima no momento do crime contou que Leandro recebeu uma “fechada” por outro carro e os motoristas iniciaram uma discussão.
Após a confusão, Leandro seguiu viagem e parou em uma distribuidora de bebidas. Logo após estacionar o veículo, ele foi abordado por homens, que desceram de um carro e o levaram para o meio da avenida, atirando várias vezes. O jovem foi atingido com cinco tiros.
A vítima chegou a dar entrada no Hospital Jayme dos Santos Neves e recebeu os primeiros socorros, mas não resistiu.
O diretor do Departamento de Operações de Trânsito da Serra, Fábio Alves, explica que, em caso de fechadas no trânsito, como a que ocasionou a discussão que levou à morte de Leandro, os motoristas podem descer do carro e analisar se houve choque ou prejuízo, o que configura um acidente de trânsito. No entanto, caso não haja colisão nem vítimas, a orientação é desobstruir a via e optar pela empatia.
“Pessoas estão suscetíveis a falhas, e o importante é se colocar no lugar do outro. Apenas com práticas seguras e cautela é que conseguimos ter um ambiente mais humano e saudável”, afirmou.
Principais causas de brigas
Excesso de velocidade: Motivado pela pressa, o comportamento de se colocar sempre em primeiro lugar no fluxo do trânsito leva às conhecidas “fechadas” e até colisões.
Álcool: A combinação entre bebida alcoólica e direção, além de perigosa e ilegal, também muda o comportamento dos condutores, tornando-os mais agressivos.
Falta da seta: A seta é necessária quando o condutor for mudar de posição ou direção na via. Deixar de dar seta é infração grave, segundo o Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
Vagas de estacionamento: A disputa por um local para estacionar é um fator de estresse. Soma-se a isso o desrespeito às vagas destinadas a idosos e pessoas com deficiência.
Buzina: Não deve ser utilizada para descarregar o estresse de um congestionamento, mas sim como forma de comunicação ou alerta.
Prevenção
Respeito às regras: O primeiro passo para se evitar conflitos é respeitar a lei de trânsito. Motoristas, motociclistas, ciclistas e até mesmo pedestres são responsáveis por isso.
Cuidado extra com pedestre e ciclista: A lei prevê que o mais forte deve proteger o menos forte. Pedestres e ciclistas, por exemplo, estão em condição de vulnerabilidade maior.
Se beber, não dirija: A opção por um carro por aplicativo após a ingestão de bebida alcoólica pode evitar acidentes e salvar vidas.
Mantenha a calma: A comunicação baseada na gentileza e na paciência é fundamental para lidar com qualquer conflito.
Fonte: Especialistas consultados.
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