Motorista vira artesão de miniaturas após doença
Carmélio Jorge Morais, que precisou passar por cirurgia após hemorragia e anemia, faz réplicas de aviões, automóveis e barcos
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O que veículos terrestres, aéreos e marítimos do Exército, locomotivas de uma mineradora, um disco voador, o Titanic e o Titan têm em comum? Eles estão reunidos em um cômodo da casa do artesão Carmélio Jorge Morais, de 60 anos, localizada em Cariacica.
Ele, que trabalhava como motorista, começou a fazer as réplicas depois de ser demitido, em 2021, e passar por uma cirurgia. “Tive muita hemorragia e anemia. Fui parar no hospital, fiz transfusão de sangue e até cirurgia. Graças a Deus, estou melhor”, afirma.
Ele conta que foi começando a fazer as réplicas e deixando em casa, sem contar para ninguém. “Foi com as madeiras que eu ganhava ou achava pela rua. Trazia para casa e moldava em trabalhos. Eu sou autodidata. Vejo uma foto e tenho facilidade em reproduzir”, diz.
Hoje, seu acervo tem 70 peças, sendo que a menor é conhecida como “Scania Jacaré”, de 30 cm, e a maior é o protótipo de um veículo para pessoa com deficiência, que espera patrocínio para ir adiante, de 1,20m.
Uma das peças vendidas por Carmélio foi a réplica do caminhão da fabricante americana Kenworth de 1m de comprimento e 14 kg. Ele demorou três dias para fazer e vendeu por R$ 800.
Entre os veículos também estão um caminhão da Caterpillar, fabricante americana de veículos pesados para construção civil e mineração, carros de bois e um carro do Corpo de Bombeiros.
Todas as suas reproduções são funcionais. Porém, não são brinquedos. “São para colecionadores que, por exemplo, têm um pai que trabalha numa Caterpillar, numa patrol (motoniveladora), aí eu faço a réplica com todo um funcionamento normal, para ele guardar de lembrança de um pai, de um tio. Mas se pedir para criança, eu faço mais reforçado para brincar. Se precisar, eu faço”, afirma.
E o próximo projeto já foi escolhido: é uma carroça de faroeste, em tamanho real.
“A minha próxima produção agora vai ser aquela carroça de faroeste, de tempo antigo. Vou fazer de tamanho real e miniatura. Um amigo meu me desafiou e eu vou mostrar para ele que eu sou capaz de fazer do tamanho real e em miniatura”, completa.
"Quero ser conhecido"
A Tribuna - De onde vem sua inspiração?
Carmélio Jorge Morais – "Sou autodidata. Tenho o Exército inteiro, a equipe da Caterpillar, carro funerário, carro de Fórmula 1. O que eu vejo na rua ou em foto, eu já gravo na minha mente, chego em casa e já passo para a madeira. Basta eu olhar."
- Onde o senhor nasceu?
"Nasci em Viana. Passei 30 anos em Marechal Floriano, onde trabalhava como motorista de ambulância. Tenho um filho de 28 anos. E, daqui a 60 dias, vou me casar com a Adriana.
Nós nos conhecemos há seis meses. Ela também é artesã e minha grande parceira."
- O que mais te inspira?
"Na realidade, é vontade de vencer e querer ser conhecido. Mas até hoje não fui. Então, eu fico batendo nessa tecla ainda, até alguém me reconhecer como um artista. É o meu sonho."
- Você pretende fazer alguma exposição, por exemplo?
"Olha, gostaria, mas hoje eu não sei como faria isso. Eu tenho que ter alguns contatos para ver se alguém se interessa em querer fazer uma exposição com o meu trabalho, colocar num shopping, colocar numa feira, enfim, para que as pessoas pudessem conhecer e ver os meus trabalhos diferenciados."
- O senhor faz todas as réplicas?
"Hoje eu sou capaz de fazer qualquer tipo de réplica, mesmo dos mais antigos. Inclusive, eu sou o único restaurador de carrinhos de ferro importados aqui em Campo Grande."
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