Minimuseu e cinema dentro de casa
São cinco cômodos com peças que ajudam a contar a história da arte e ainda tem o astro principal do lugar: o “Cine Milton”
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Mais do que uma paixão de infância, a sétima arte tirou o aposentado Amilton Sebastião Simmer, 64, da depressão. Depois que ele construiu, dentro da própria casa, um cinema e um minimuseu com mais de mil peças, sua vida foi transformada. A residência fica em Cariacica.
“Valeu a pena cada gasto. Antes de montar isso daqui, eu tinha depressão. Depois que montei, não precisei mais tomar remédios. Eles foram a minha cura. Tudo isso é o céu para mim”, revela Simmer ao jornal A Tribuna.
São cinco cômodos com peças que ajudam a contar a história da arte e ainda tem o astro principal da casa: o “Cine Milton”, um cinema com 18 poltronas, todas recicláveis. A sala conta com a reprodução do teto da Capela Sistina. Nas paredes, imagens de estrelas como Sophia Loren e Brigitte Bardot.
Quando abertas, as cortinas importadas da França revelam o filme escolhido pelo telespectador, que precisa ser alguém próximo do anfitrião. Ali, há sete anos, o aposentado pode assistir a sua produção cinematográfica preferida: o clássico “Ben Hur”, de 1959. “É um filme que tem tudo: drama, aventura e é bíblico. Já vi umas 50 vezes”, diz.
Já o minimuseu é composto por mais mil peças, muitas delas raras, e há artigos até do século 19. As relíquias foram arrematadas em leilões, compradas em sites ou ainda adquiridas durante suas viagens pelo mundo. Em suas andanças, conheceu 25 países.
“Busco peças inusitadas, difíceis de serem achadas. Me defino como um 'colecionador de coleções', porque há objetos de vários temas. Mas todas as peças têm algo relacionado com o cinema, como é o caso das máquinas de jukebox, ou com a minha vida”, conta, emocionado.
"Não tenho interesse em vender essas peças"
A Tribuna – Como começou a sua paixão pelo cinema?
Amilton Simmer - Eu tinha 5 anos quando chegou um alemão lá em Paraju, Domingos Martins, com uma câmera fotográfica lambe-lambe, um gramofone e um projetor na bagagem. Eu nem sabia o que era cinema.
Todo domingo, ele levava esse projetor na escola para passar curtas. Quando ele ligou e eu ouvi o barulho da máquina, veio dentro de mim o pensamento: “é isso que eu quero”.
- E a primeira vez que foi ao cinema?
Foi já em Cariacica, no Cine Colorado, inaugurado em 1970. Quando entrei no cinema, queria saber qual era aquela mágica que fazia aquela imagem aparecer. Comecei a puxar o saco do projecionista, pedia para ir lá em cima ver como era aquela sala, mas ele não deixava eu entrar. Aquilo ficou marcado na minha cabeça.
Até que montei uma sala de projeção igual a do Colorado na minha casa. (Risos) Só pra ficar namorando e matando aquela vontade que eu tinha de quando era criança.
- Quando começou a colecionar peças?
Comecei pelos projetores grandes. Depois que começaram a aparecer as outras peças. As pessoas descobriam que eu gostava e ofereciam. Muita coisa foi achada em ferro-velho e eu mandava para um restaurador de São Paulo.
- Quanto já gastou com esses artefatos?
Nem sei quanto gastei, nunca calculei. Não tenho interesse em saber porque não tenho interesse em vender essas peças. O que o colecionador mais gosta é de mostrar a sua coleção, essa é sua paixão.
São peças conectadas com o cinema ou com minha história. O carro-chefe aqui é o cinema. São peças que vejo em alguns filmes e vou atrás. Muitas fazem um resgate do meu passado, são coisas que eu queria ter quando era criança, mas não tinha oportunidade.
- Seus pais apoiaram sua paixão pelo cinema?
Quando era menino, eu gostava de três coisas: circo, parque e cinema. Você acredita que levei três grandes surras só porque fui em cada uma delas? Tudo isso é cultura, mas naquela época ele achava que era coisa errada. Meu pai morreu em 1994 e não chegou a ver meu sonho realizado. O negócio dele era trabalhar. Trabalhou tanto que não aproveitou a vida.
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