Mais jovens brasileiros buscam ajuda contra depressão
No Brasil, existem 39% mais pessoas de 18 a 24 anos com queixas de problema mental em relação à faixa etária de 55 a 64 anos
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“Eu sentia uma sensação de angústia permanente, vontade de chorar, não sentia fome e não tinha ânimo”. O desabafo é de uma arquiteta de 29 anos que foi diagnosticada com depressão aos 25.
Ela conta que o término de um namoro de sete anos foi o gatilho, mas a pandemia agravou o quadro. Assim como ela, mais jovens estão buscando ajuda para tratar fobia, ansiedade e depressão.
Um relatório anual do Estado Mental do Mundo, divulgado pela organização de pesquisa sem fins lucrativos Sapien Labs, mostra que os jovens são os mais afetados pela pandemia, realidade confirmada por médicos no Espírito Santo.
O Brasil, inclusive, teve o terceiro pior índice de saúde mental dentro de um ranking com 64 países, à frente apenas do Reino Unido e da África do Sul e 11 pontos abaixo da média geral.
“Não há uma única região, grupo linguístico ou país onde o declínio do bem-estar mental em gerações sucessivamente mais jovens não é aparente. Isso se traduz em um aumento na porcentagem de cada geração mais jovem que está mentalmente angustiada ou lutando em um nível qualificável como de natureza clínica ou requerendo ajuda profissional”, aponta o estudo.
No caso da arquiteta, a pandemia contribuiu para uma recaída. “Em 2019 eu fiz o processo seletivo de mestrado e passei. As aulas iriam iniciar em março de 2020, quando teve o primeiro lockdown. A pandemia atrapalhou muito na pesquisa. Cobrança de prazos e outros fatores me fizeram ter uma recaída em 2022. Voltei a tomar medicamentos e hoje a doença está controlada”.
O médico psiquiatra Vicente Ramatis ressalta que há casos de pais que buscam ajuda para adolescentes. Ele conta que, em média, dos 15 pacientes diários que passam pelo seu consultório, quatro são jovens, especialmente do sexo feminino.
Ele destaca que o tratamento é fundamental. “É preciso identificar a causa. O tratamento conta com uso medicamentos antidepressivos, ansiolíticos e fitoterápicos”.
A psiquiatra Letícia Mameri percebe um aumento de jovens procurando ajuda. Nos atendimentos, cerca de 30% a 40% são desse público. “Antes da pandemia, o percentual de jovens era de 20%, se comparado com pacientes de outras idades”.
Jairo Navarro, médico psiquiatra, recomenda que as pessoas que enfrentam essas doenças busquem, além do tratamento, uma alimentação saudável e façam atividade física.
Doença pode ter sintomas diferentes nos idosos
Doenças relacionadas à saúde mental como a depressão, que atinge pessoas de todas as faixas etárias, podem apresentar sintomas diferentes em idosos.
“Esquecimentos, que levam o paciente e familiares a desconfiarem de demência; movimentos mais lentos, falta de vontade para realizar atividades antes consideradas prazerosas e isolamento podem ser sintomas de depressão”, alerta o geriatra e superintendente de Medicina Preventiva da MedSênior, Roni Chaim Mukamal.
Mas ele observa: “É importante ficar atento e entender que o envelhecimento saudável não traz a depressão por si só. O paciente precisa de cuidado como em qualquer outra idade para superar a doença e restabelecer a saúde”.
Roni Mukamal explica ainda que a depressão também pode surgir como um dos primeiros sintomas de um quadro demencial. “Essa agilidade no diagnóstico faz toda a diferença, e ter um acompanhamento próximo, de um geriatra, é fundamental”.
A MedSênior destaca que trabalha a assistência do beneficiário com base no cuidado integral.
Letícia Mameri, médica psiquiatra, também percebe o aumento de casos nessa faixa etária. Segundo ela, os gatilhos normalmente são variações hormonais inerentes da idade, solidão, uso de álcool e drogas (inclusive nos idosos que usam medicações de tarja preta).
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Estudo
Relatório anual do Estado Mental do Mundo divulgado recentemente pela organização de pesquisa sem fins lucrativos Sapien Labs revela que os jovens são a parcela da população mais afetada pela crise de saúde causada pela pandemia da covid-19.
No Brasil, o estudo mostrou que existem 39% mais pessoas de 18 a 24 anos de idade relatando queixas de saúde mental quando comparadas à faixa etária de 55 a 64 anos.
Ainda de acordo com o estudo, a população jovem, especialmente entre 18 e 24 anos, tem uma probabilidade cinco vezes maior de relatar queixas de saúde mental em comparação com a geração de seus avós.
Serviços oferecidos
Governo do Estado
A Secretaria da Saúde esclarece que atua no cuidado em saúde mental seguindo a política nacional. A porta de entrada da Rede de Atenção Psicossocial é a atenção primária em saúde, dentro do município.
Os pacientes são acolhidos e acompanhados nas unidades de saúde e pelas equipes de Saúde da Família. Conforme o caso, é encaminhado para atenção especializada e atendido em Centros de Atenção Psicossocial.
Casos de surto são atendidos via Samu 192 e encaminhados para a rede de urgência e emergência.
A Sesa conta hoje com leitos psiquiátricos para adultos no Hospital de Atenção Clínica e no Centro de Atendimento Psiquiátrico Aristides Alexandre Campos, e leitos de saúde mental infantojuvenis no Hospital Estadual Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba).
Além dos leitos próprios, a Sesa conta com os filantrópicos contratualizados e clínicas credenciadas.
Vitória
O município conta com uma rede de atenção à saúde que também oferta cuidados em saúde mental. A porta de entrada é a unidade de saúde. Todas as 29 unidades contam com equipes multiprofissionais.
Vitória também tem o Centro de Atenção Psicossocial, para os casos de transtorno mental grave. A porta de entrada preferencial é a unidade de saúde, mas as pessoas podem buscar o serviço diretamente.
Serra
A Secretaria de Saúde do município informa que a rede de atenção psicossocial conta com os serviços de atenção primária em saúde, com atendimento disponibilizado nas 40 unidades de saúde e, em seis delas, nas unidades de Boa Vista, Jacaraípe, Novo Horizonte, Feu Rosa, Serra Dourada e Serra-Sede, com equipes de saúde mental.
Na Atenção secundária à saúde, conta com três Centros de Atenção Psicossocial (Caps Infantojuvenil, Álcool e Drogas e Mestre Álvaro). A Serra tem, ainda, três unidades de pronto atendimento: em Carapina, Castelândia e Serra-Sede. Todos os serviços são porta aberta.
A Prefeitura da Serra tem trabalhado pela ampliação dos serviços prestados na unidade Caps de atendimento a álcool e drogas e, também, nos casos de transtorno adulto, tratados pela unidade Mestre Álvaro. Os dois centros passarão a atender também casos de manejo de crise e urgência 24 horas. As unidades utilizarão o espaço reformado da antiga Maternidade de Carapina, localizada em Jardim Limoeiro.
Cariacica
A Secretaria de Saúde conta com seis equipes psicossociais que atuam no âmbito da atenção básica e uma exclusiva para atendimento de usuários de álcool e drogas. A porta de entrada é a unidade de saúde.
Quem apresentar necessidade de tratamento psicossocial é encaminhado aos serviços. Além disso, estão localizados no município dois Centros de Atenção Psicossocial do tipo II, de atendimento a usuários com transtorno mental, e um Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil.
Planos de saúde
Unimed Vitória
Oferece serviços voltados para a saúde mental de forma individual e coletiva. Por meio do Viver Unimed, são realizados atendimentos individuais, presenciais e on-line. Também realiza palestras com psicólogos voltadas para a saúde mental.
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