Mais capixabas partem para recomeçar a vida em Portugal
Famílias inteiras têm deixado o Brasil em busca de emprego com melhor remuneração, qualidade de vida, segurança e saúde
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Recomeçar uma vida, às vezes iniciando do zero, em um país diferente, faz parte do sonho de muitos brasileiros. Mesmo sabendo dos desafios, mais capixabas têm escolhido Portugal como esse destino.
O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) confirma que os números são crescentes nos últimos anos com relação a cidadãos brasileiros com autorização de residência em Portugal.
No ano passado, 233.138 brasileiros mudaram de endereço. Em 2018, o número era de 105.423.
As advogadas Ítalo-brasileiras Nytanella Casagrande e Yasmin Espigariol dizem que o número de estrangeiros tem aumentado em Portugal.
“Este cenário não é diferente quando observamos o Espírito Santo, já que quando o assunto é mudar de país, Portugal está entre os principais destinos”, diz Nytanella.
Sobre o perfil de brasileiros que decidiram migrar, elas verificam que tem um cenário heterogêneo.
Isso porque, em sua grande maioria, tratavam-se de pessoas de baixa escolaridade que possuíam a expectativa de encontrar empregos domésticos, no setor de serviços ou construção civil, ou aqueles que possuíam qualificações em áreas específicas que tinham bom acolhimento no país.
“No entanto, vê-se que, cada vez mais, Portugal tem sido o destino de estudantes de graduação, mestrado e doutorado, além de investidores, empreendedores e aposentados”, complementa Yasmin.
Entre as principais áreas de maior empregabilidade por ausência de mão de obra local ou crescimento do setor estão restaurantes, hotéis, o segmento de turismo, que sempre está em alta, além de nichos específicos como profissionais na área de tecnologia da informação, engenheiros, marketing e comunicação.
Mas elas observam que não é fácil conseguir emprego, a não ser que o candidato tenha qualificação de alto nível ou que a área de trabalho tenha escassez profissional.
Quem está com as malas prontas é um autônomo de 39 anos, que mora em Vila Velha. Dia 24 de abril ele embarca para Lisboa.
“Vou em busca de oportunidades. Vou abrir uma empresa de tecnologia 5G com dois sócios capixabas, que estão lá. Tem muita gente indo. Em 2022, oito amigos daqui foram para Portugal”.
“A vida aqui é mais calma” - Samara Camilo Cordeiro da Silva
Nascida na Serra, Samara Camilo Cordeiro da Silva, 42 anos, deixou o Espírito Santo em outubro de 2018, carregando no colo o pequeno Murilo Cordeiro de Souza, que hoje tem 5 anos.
Seu marido, o capixaba Pedro Antônio de Souza, 36, que trabalha como técnico em manutenção industrial, foi quatro meses antes. O casal, que morava em Porto Canoa, reside em Vialonga, Vila Franca de Xira, Portugal.
À reportagem, Samara contou detalhes desse recomeço.
A Tribuna – Por que decidiu ir para outro país?
Samara Camilo Cordeiro da Silva – Eu trabalhava há muitos anos em uma multinacional no Espírito Santo, era agente patrimonial. Depois de sete anos, engravidei e decidimos morar em outro país, um local com menos violência, buscava paz de espírito. Queria que o meu filho vivesse uma outra realidade.
Viemos com uma mão na frente e outra atrás. Pegamos a rescisão, vendemos dois carros e uma moto e alugamos a nossa casa na Serra.
Conhecia alguém aí?
O meu irmão mora aqui em Portugal há 11 anos. Eu tinha um apoio para começar do zero, o que é fundamental.
Em algum momento se arrependeu?
Bom, aqui temos um inverno rigoroso, bem diferente do Brasil. No primeiro inverno, descobri uma sinusite e foi muito complicado. Eu fiquei muito doente.
À época, falei para o meu marido que queria voltar para o Brasil, mas ele já estava com o emprego, as coisas estavam caminhando bem para o lado dele. Felizmente, melhorei após tomar remédios. Foi aí que a vida começou a tomar um novo rumo e desisti de voltar. Tenho emprego na área administrativa aqui.
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É fácil se estabilizar aí?
Eu trouxe R$ 60 mil do Brasil. Com esse dinheiro, eu consegui mobiliar a casa, arrumar um aluguel, pagar quatro cauções de renda, começar a comprar roupas para suportar o inverno, que chega a ser negativo.
Hoje, acredito que precisa até mais que R$ 60 mil. Quando cheguei não tinha guerra, não tinha covid e depois da pandemia as coisas aumentaram. Então, agora eu acho que para vir precisa ser uma coisa muito bem organizada.
Faria tudo de novo?
Sim, a vida aqui é mais calma, podemos andar com celular na rua, não fico o tempo todo preocupada se vão te roubar.
Raio-X de Portugal
Imigração
Anos brasileiros
2022 233.138
2021 204.694
2020 183.993
2019 151.304
2018 105.423
Pontos positivos
Verifica-se que a qualidade de vida oferecida por Portugal se destaca. Vê-se que as remunerações no país, mesmo não sendo altas, possibilitam um padrão de vida bom sem necessidade de se ganhar muito. Além disso, destaca-se a qualidade de educação, segurança e custos com saúde.
Pontos negativos
Importante ter em mente que nenhum país é um paraíso isento de problemas. Ser um estrangeiro implica em uma série de burocracias para a permanência no local, esse é um ponto importante para quem dependerá do governo português para pedidos de residência, prorrogação de vistos e outros elementos, muitas vezes com grandes prazos de espera.
Vale ainda mencionar que o clima em Portugal é bem diferente do clima brasileiro, a temperatura, as chuvas podem ser um desafio na permanência. Além disso, alguns portugueses não são tão acolhedores com os estrangeiros.
É necessário ter uma preparação emocional para a mudança, considerando que estará recomeçando a vida do zero, em um país com normas e costumes diferentes, e longe da família e amigos.
Salário médio
O salário mínimo português é de 760 euros (R$ 4.207), sendo que a média salarial dependerá da profissão. Segundo o https://meusalario.pt/ segue alguns exemplos das médias:
Profissão Euro / Real
Garçom € 679 / R$ 3.759
Vendedor € 703 / R$ 3.892
Técnico de contabilidade € 703 / R$ 3.892
Ajudante de cozinha € 721 R$ 3.992
Secretária € 759 / R$ 4.202
Administrador de sistemas € 823 / R$ 4.556
Designer gráfico € 852 / R$ 4.717
Mudança
Busca por segurança
Morando em Portugal há 11 meses, a pedagoga Mayra Ferreira Gonçalves, 25, conta que hoje consegue andar pelas ruas à noite sem sentir medo. A insegurança foi um dos pontos que levou a capixaba a buscar um novo começo. “Fui assaltada seis vezes no meu bairro, na Serra. Isso afetava minha vida”.
Segundo ela, apesar do custo de vida alto, ela consegue ter melhor qualidade de vida. “Quero fazer mestrado, validar meu diploma e atuar na área da educação, que é minha paixão”.
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