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Cidades

Sonho de mudar de vida em Portugal vira pesadelo para capixabas

Especialistas elaboraram cinco dicas, a pedido do jornal A Tribuna, para orientar capixabas e brasileiros que desejam emigrar com segurança


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Lidia de Lima Pereira, 44, auxiliar de cozinha, posa em frente ao Castelo de Pombal, na cidade homônima, em Portugal |  Foto: Acervo Pessoal

“Qualidade de vida, moeda valorizada, empregos e oportunidades!”. A vida em Portugal, descrita por muitos influenciadores digitais nas redes sociais, cria sonhos em capixabas em busca de crescimento profissional, educacional e pessoal. O sonho de mudar de vida, contudo, pode virar um pesadelo. 

É que, após a pandemia e o início da Guerra na Ucrânia, o país do velho continente está sendo afetado por uma onda de preços altos: aluguéis, comida, gasolina e gás natural. Tudo está caríssimo, de acordo com relatos. 

Tanto que, em 2022, 903 brasileiros que vivem em Portugal entraram com pedidos de apoio à Organização Internacional para Migrações (OIM) para retornar ao Brasil. A principal queixa é a falta de dinheiro para arcar com os custos de moradia e de alimentação. 

A auxiliar de cozinha Lídia de Lima Pereira, de 44 anos, se mudou para Portugal em 2018, com o sonho de oferecer melhores condições de vida para os filhos. Os dois primeiros anos foram de adaptação e de avanços, mas com a pandemia e a Guerra da Ucrânia, a situação do país ficou difícil e afetou as condições de vida dela.

A capixaba vive em Pombal, uma pequena cidade no Centro de Portugal, e conta que tem planos de retornar ao Espírito Santo, mas ainda não tem recursos financeiros para isso. Até xenofobia se tornou um problema para um dos sobrinhos da capixaba, que vive no país, relata. A maior reclamação dela é a inflação do país.

“Está muito diferente de quando cheguei. A inflação está muito alta!  Quando eu cheguei aqui, com 10 euros, íamos ao mercado e conseguíamos comprar alguma coisa para trazer para casa. Hoje, a gente vai com 50 euros e não traz quase nada. Tenho vontade de voltar ao Brasil e me arrependo muito de ter vindo”.

A advogada especialista em imigração e sócia do ALM Advogadas Associadas, Vanessa Lopes Gama, explica que muitos brasileiros chegam em Portugal sem documentação regular para residir e iludidos com falsas promessas de trabalho. A especialista analisa mais motivos que explicam o cenário.

“A falta de um planejamento imigratório adequado, pois muitos chegaram com poucos recursos financeiros para se manter até se estabilizar no país, além de ilusões atreladas à consultorias não habilitadas e de influencers que faziam uma falsa imagem da realidade e levavam a crer que o custo de vida seria barato”. 

Capixaba recém-chegado já quer voltar para o Brasil

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Victor Natan Lima da Silva |  Foto: Acervo Pessoal

Aos 19 anos, o jovem Victor Natan Lima da Silva, de Água Doce do Norte, no Norte do Espírito Santo, vive um dos momentos mais delicados de sua vida: o desemprego em outro país. Ele emigrou em novembro de 2022 e diz que, se pudesse, voltaria para o Brasil.

Quando vivia no Espírito Santo, Victor Natan trabalhava como chapeiro de uma lanchonete. Desde que chegou em Portugal, ele não conseguiu um emprego. Hoje, o capixaba recebe apoio de outros parentes estabilizados em Portugal. Ele conta que, para a mudança, levou apenas R$ 4 mil. 

Morador de Figueira da Foz, cidade na Região de Coimbra, o jovem alerta que a realidade do país é muito diferente da apresentada por influenciadores digitais em vídeos das redes sociais. 

“Eu via muitos vídeos de influenciadores digitais dizendo mil e uma coisas sobre Portugal. Quando cheguei, foi totalmente diferente. Me arrependo de ter vindo, mas a passagem é muito cara, né? Para voltar, eu preciso ficar um tempo, trabalhar e tentar juntar o dinheiro. A inflação é muito alta e o preço das coisas está absurdo”. 

Especialistas orientam cuidados aos planejar processo de imigração

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As advogadas ítalo-brasileiras Nytanella Casagrande e Yasmin Espigariol |  Foto: Acervo Pessoal

As advogadas ítalo-brasileiras Nytanella Casagrande e Yasmin Espigariol, especialistas em Direito Internacional da empresa Delazzari, alertam que a não observância da taxa de empregabilidade, da inflação e dos custos de moradia pode gerar a insustentabilidade da manutenção do imigrante em Portugal.

“É importante destacar que a inflação em Portugal vive um dos níveis mais elevados dos últimos 30 anos. Mesmo que o brasileiro esteja empregado, dependendo do local que mantenha residência, sua remuneração não será o suficiente para a manutenção de sua vida digna”, argumenta Nytanella Casagrande.

As especialistas elaboraram cinco dias, a pedido do jornal A Tribuna, para orientar capixabas e brasileiros que desejam imigrar com segurança. 

1) Imigrar legalmente

Estude a possibilidade de reconhecer a dupla nacionalidade de um dos países da União Europeia, via de regra, em razão de ter um ascendente estrangeiro. O Brasil foi um dos que mais recebeu imigrantes italianos, portugueses e alemães, por exemplo. Ser um cidadão europeu abre portas em qualquer país do Bloco Europeu. 

Pode-se, também, regularizar o pedido do visto, ainda no Brasil, por meio do consulado português, com a finalidade de mudança. Há vistos para trabalho, estudo, investimentos, aposentadoria, empreendedorismo, startups, busca de emprego e outros.

2) Planejamento financeiro e emocional

Antes de embarcar na jornada, é necessário levar em consideração os aspectos financeiros, como possuir um fundo de reserva para se manter durante 6 meses, mantendo condições de voltar ao Brasil, em qualquer momento, caso algo não ocorra como o planejando. 

Preparar-se emocionalmente para viver sob uma nova cultura é importante. Se for imigrar com menores de idade, deve-se saber que há diferenças no calendário escolar, que vai de setembro a julho. 

3) Busque informações sobre o local que deseja fixar residência

Grandes centros e turísticos possuem custos altos de moradia. Em contrapartida, nas cidades das regiões metropolitanas, o valor é mais em conta. 

4) Atentar-se para a formalização com o acesso à saúde

Antes de viajar, é necessário obter o certificado de direito à assistência médica, o PB4. Com ele, a pessoa terá direito a utilizar o sistema de saúde pública do país que, embora tenha custo baixo, não é inteiramente gratuito. 

5) Não compre um sonho, viva uma realidade

Busque fontes confiáveis de informação como suporte para sua mudança, ou seja, não se agarre a qualquer relato de terceiros, pois cada um tem sua própria experiência, tampouco acredite em qualquer publicação na internet. Acesse sites oficiais do governo português. Neles, é possível encontrar informações sobre documentação e exigências para todos os tipos de permanência no país.

Entenda

- Em 2022, 903 brasileiros que vivem em Portugal entraram com pedidos de apoio à Organização Internacional para Migrações (OIM) para retornar ao Brasi. A principal queixa é a falta de dinheiro para moradia e para alimentação. 

- Só em 2022, 28.444 brasileiros emigraram para Portugal. A comunidade brasileira é a maior entre os estrangeiros que vivem no país: 233.138 pessoas. No fim do ano passado, Portugal registrou 757.252 estrangeiros com residência no país, 58.365 mais (8,3%) do que em 2021. 

- O país europeu vive uma onda de preços altos, como, por exemplo, de aluguéis, de comida, de gasolina e de gás natural, em razão dos efeitos da Guerra da Ucrânia aliados aos últimos anos de pandemia da covid-19.

- A OIM, que pertence à Organização das Nações Unidas (ONU), já ajudou mais de 1.500 brasileiros a voltarem ao Brasil, desde 2016. 

Fonte: Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de Portugal (SEF) e Organização Internacional para Migrações (OIM). 

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