Férias escolares: você sabe como agir em caso de emergência médica?
A pedido de A Tribuna, especialistas deram dicas que podem fazer diferença em casos de desmaio, engasgo, queimadura e afogamento
Com a chegada das férias, aumenta a circulação de pessoas em estradas, praias, piscinas e espaços de lazer, e, com ela, o número de acidentes. Mesmo sem formação na área da saúde, qualquer pessoa pode se deparar com uma situação de emergência, como afogamento, engasgo, queimadura ou desmaio. Nesses casos, você saberia como agir?
Pensando nisso, A Tribuna ouviu especialistas que deram orientações práticas de primeiros socorros que podem fazer a diferença.
Só para ter uma ideia, entre 2010 e 2023, o Brasil registrou um total de 71.663 mortes por afogamento, segundo o Ministério da Saúde.
“No afogamento, a ventilação, o boca a boca, que é soprar na boca da pessoa, faz muita diferença”, destaca Carla Andresa, capitã do Corpo de Bombeiros e gerente de Integração Comunitária Institucional (GICI) da Secretaria de Segurança Pública do Estado.
“Se você retirou da água uma pessoa afogada, você tem de tapar o nariz e soprar na boca dela por cinco vezes. Então, tapa o nariz e sopra na boca. No adulto, isso é feito com o ar todo do pulmão, na criança eu puxo menos ar e no bebê é só o ar da bochecha. Eu preciso fazer primeiro essas cinco ventilações de resgate para depois iniciar a ressuscitação cardiopulmonar (RCP), que no afogado tem de ser 30 compressões por duas ventilações”, ensina ela.
Em suspeita de infarto, deve-se manter a pessoa em repouso, afrouxar roupas apertadas e acionar imediatamente o Samu 192.
Em casos de queda com trauma, especialmente com impacto na cabeça, a vítima não deve ser movimentada, salvo se houver risco iminente no local, ensina o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192).
“Em fraturas expostas, deve-se evitar manipular o osso ou tentar 'colocar no lugar', realizando apenas compressão leve ao redor para controle de sangramento”, destacou o serviço, por nota.
Ainda nesse cenário das quedas e dos acidentes de transporte, atualmente amplificado pelas bicicletas elétricas, o médico Caio Duarte Neto, cirurgião geral e emergencista do Hospital Santa Rita, destaca que são sinais de alerta na vítima a confusão mental, desorientação, falta de ar, pele pálida e fria, sangramentos visíveis, dor intensa, vômitos e deformidades importantes no corpo.
“Se houver sangramentos, manobras para contenção da hemorragia devem ser empregadas, utilizando-se da compressão das feridas com um pano limpo. Evite dar líquidos, alimentos e medicamentos às vítimas, pois podem agravar a sua situação”, orienta.
Fratura no fêmur
Jorge Luiz da Mata Oliveira, de 11 anos, enquanto jogava futebol na praia, aos 8 anos, acabou “chutando” o ar e quebrou o fêmur. Para imobilizar a perna do filho, a nutricionista Verônica da Mata, 41, usou seu antebraço como estabilizador até que a família pudesse chegar ao hospital, onde Jorge foi operado. O acidente aconteceu no dia 1º de janeiro de 2023, durante as férias, em Niterói, Rio de Janeiro.
“Na hora em que caiu, ele gritou muito alto, achei que era brincadeira. Mas ele já falou que tinha quebrado a perna. Corremos para a casa do meu sogro e pegamos os documentos. A caminho do hospital, ele chorava de dor com o balanço do carro. No instinto, eu fui com ele no banco de trás e imobilizei a coxa dele com meu antebraço durante o trajeto. Ele teve fratura total de fêmur e precisou usar duas hastes de titânio no osso, por seis meses”.
Primeiros socorros em 12 situações
Afogamento
O que fazer
Ligar para o 192 ou 193 imediatamente e, assim que a pessoa é retirada da água, é preciso primeiro fazer cinco ventilações: a respiração boca a boca. A pessoa deve englobar a boca com a boca da vítima, tampar o nariz e soprar cinco vezes. No adulto, isso é feito com o ar todo do pulmão; na criança, puxar menos ar e no bebê é só o ar da bochecha. Na sequência, checar se a vítima respira.
Em seguida, deve-se fazer primeiro as cinco ventilações de resgate, para depois iniciar a ressuscitação cardiopulmonar (RCP). São 30 compressões por duas ventilações (boca a boca). No adulto, a compressão é feita com as duas mãos, no tórax, no centro do peito e na linha dos mamilos. Em crianças, a compressão é com uma mão e em bebês, com dois dedos.
O que não fazer
Não tente fazer a ressuscitação dentro da água. Sempre que possível, retire a vítima na posição horizontal. Nunca tente salvar alguém se não tiver condições para fazer, mesmo que saiba nadar.
Queimadura
O que fazer
O primeiro cuidado é extinguir a fonte de calor, ou seja, impedir que permaneça o contato do corpo com o fogo, líquidos e superfícies aquecidas, entre outras causas do acidente. Em seguida, procure lavar o local atingido com água corrente em temperatura ambiente, de preferência por tempo suficiente até que a área queimada seja resfriada, cerca de 15 minutos, interrompendo a queimadura internamente
Em seguida, proteja com um curativo seco, de preferência gaze ou um pedaço de pano limpo. Deve-se acionar os serviços de socorro do Samu (192) ou do Corpo de Bombeiros (193) ou encaminhar a vítima para o hospital de referência, que no Espírito Santo é o Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves.
O que não fazer
Não passe no local atingido nenhum produto ou receita caseira, como pasta de dente e café.
Há alto risco de infecção por bactérias, fungos e vírus presentes nesses produtos, já que a barreira natural do organismo – a pele – está danificada. Não tente estourar as bolhas provocadas pela queimadura.
Desmaio
O que fazer
O desmaio é uma falta de oxigenação momentânea no cérebro, fazendo com que a pessoa perca a consciência. Para facilitar a volta dessa oxigenação para a cabeça, deve-se elevar um pouco as pernas, colocando algum apoio, como uma cadeira, lembrando sempre de monitorar a vítima.
Se a vítima não respira, o protocolo é outro. Precisa iniciar as compressões cardíacas, a ressuscitação cardiopulmonar. Por isso, é importante no desmaio monitorar a vítima para observar se ela vai recobrar a consciência ou não.
O que não fazer
Não se deve jogar água fria no rosto da vítima para despertar, nem oferecer álcool para cheirar ou sacudir a vítima.
Intoxicações
O que fazer
Deve-se ter cuidado com a segurança do socorrista, evitando que ele entre em contato com o produto intoxicante.
Intoxicação por contato (pele)
Lavar o local afetado com água corrente. Se os olhos forem afetados, lavar durante 15 minutos e cobri-los, sem pressão, com pano limpo ou gaze, e encaminhar ao serviço médico (pronto-socorro ou hospital).
Intoxicação por inalação
Remover a vítima para local arejado e encaminhar ao serviço médico (pronto-socorro ou hospital).
Intoxicação por ingestão
Não provocar vômito, não oferecer água, leite ou qualquer outro líquido, a não ser que tenha sido orientado por um CIATox, e encaminhar, com urgência, para serviço médico.
Picadas por animais peçonhentos
Ligar para o CIATox-ES (0800 283 9904), se possível tirar foto do animal, lavar o local com água e sabão e manter o membro acometido elevado. Em caso de contato com água-viva ou caravelas, lave o local com vinagre ou água do mar, sem esfregar. Não use água doce ou outros líquidos e procure o serviço médico.
O que não fazer
Não se deve, nos casos de picada, fazer torniquete, cortar o local da picada, perfurar ao redor da picada, colocar contaminantes como fumo, açúcar e pó de café, sugar o local e oferecer bebidas alcoólicas, querosene ou outros tóxicos.
Engasgo
O que fazer
No engasgo parcial
A pessoa ou bebê consegue emitir som, já que o objeto ou alimento obstrui parcialmente as vias aéreas. Nesses casos, deve-se estimular que a vítima tussa forte.
No caso de engasgo total
A pessoa não consegue emitir som. O bebê, por exemplo, começa a ficar arroxeado, indicando que não está respirando.
Engasgo em bebês e crianças
Para os bebês, coloque-o de bruços no antebraço, com a cabeça mais baixa que o corpo. Inicie com cinco golpes nas costas com a parte mais rígida da mão – a região hipotenar.
Coloque-o de barriga para cima no antebraço e faça cinco compressões torácicas, também com a parte mais rígida da mão, no centro do tórax do bebê. Intercale esses movimentos até o desengasgo.
Se o bebê ficar inconsciente ou não for possível desengasgar, comprima forte e rápido e inicie as compressões cardíacas, a RCP.
Adultos e crianças
Na criança, abaixe-se e posicione-se atrás dela. Tanto em adultos como crianças, comece com cinco golpes nas costas com a parte mais rígida da mão – a região hipotenar – e intercala com cinco compressões abdominais (manobra de Heimlich) e vai intercalando esses dois movimentos até o desengasgo. Se a vítima ficar inconsciente, deve-se iniciar as compressões cardíacas, a RCP, no centro do peito.
O que não fazer
Chacoalhar a vítima, usar dedos para retirar o objeto da garganta ou oferecer água.
Infarto
O que fazer
A população deve acionar imediatamente o Samu 192, pois, quanto maior o tempo de obstrução das artérias coronarianas, maior será a lesão do coração e maior o risco de uma parada cardiorrespiratória. Tempo é questão de sobrevivência.
Ações como deixar a pessoa confortável, afrouxar as roupas e manter um ambiente tranquilo auxiliam. Atue, também, conforme as orientações do médico do Samu 192.
O que não fazer
Negligenciar os sintomas: todo sintoma de dor no peito precisa ser valorizado, sendo essencial procurar atendimento imediatamente. Outra conduta que não pode acontecer é: como o tempo é crucial, não se deve perdê-lo com automedicação esperando o alívio da dor.
Hipoglicemia
O que fazer
A hipoglicemia ocorre quando a glicemia fica abaixo de 70 mg/dl e pode provocar sintomas como tremores, suor frio, tontura, confusão mental, fome intensa, taquicardia, sonolência, visão turva e dor de cabeça. Em casos mais graves, pode evoluir para convulsões e perda de consciência, configurando uma emergência médica.
Quando a pessoa está acordada e consciente, o tratamento deve ser imediato, com a ingestão de cerca de 15 g de carboidratos de rápida absorção, como açúcar dissolvido em água, refrigerante comum, suco de laranja ou balas.
Após 15 minutos, a glicemia deve ser reavaliada e, se permanecer baixa, o procedimento deve ser repetido. A confirmação com glicosímetro é recomendada, mas não deve atrasar o socorro.
Se houver perda de consciência, pode-se esfregar açúcar na mucosa da bochecha e gengiva e acionar atendimento médico imediato.
O que não fazer
Alimentos ricos em gordura, como chocolate, não são indicados, pois retardam a elevação da glicose no sangue.
Corte
O que fazer
Nas grandes hemorragias é preciso comprimir, bem forte, o local. Cortes na cabeça tendem a sangrar mais. Deve-se usar um pano limpo, fazendo pressão para que esse sangue seja estancado. Se o pano limpo encharcar de sangue, deve-se colocar outro por cima, sem retirar o que foi usado primeiro.
Depois de fazer a compressão direta, pode-se enfaixar com uma atadura elástica, fazendo um curativo mais firme, um curativo compressivo. Em seguida, leve a vítima até um hospital.
O que não fazer
Jamais coloque álcool, pomadas e outros produtos sobre o ferimento. Não use algodão para estancar o sangue, porque as fibras grudam na ferida e são difíceis de serem retiradas.
Trauma
O que fazer
Quando há impacto significante do corpo contra a superfície, a primeira orientação é tornar o ambiente seguro para a vítima e para o socorrista, sinalizando a via de trânsito, evitando-se a mobilização dessas vítimas.
Em fraturas expostas, deve-se evitar manipular o osso ou tentar “colocar no lugar”. Se houver sangramentos, contenha a hemorragia, fazendo compressão com um pano limpo.
Além das fraturas e sangramentos, confusão mental, falta de ar, pele pálida e fria e vômitos são sinais de alerta.
O que não fazer
Evitar dar líquidos, alimentos e medicamentos às vítimas, pois podem agravar a sua situação.
Choque elétrico
O que fazer
O primeiro cuidado é não tocar na pessoa sob o risco de ser atingido também. É importante desligar a fonte de energia imediatamente, para parar a transmissão elétrica.
Se por acaso esse choque é com alguma fiação de rua, como um poste, deve-se dar um jeito de afastar esse fio da pessoa, com um material isolante, como cabo de vassoura ou tapete de borracha.
É importante ligar para o Corpo de Bombeiro ou Samu, relatar o estado de saúde da vítima e mantê-la deitada de costas ou na posição mais confortável, segundo informa o Manual de Primeiros Socorros da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Se a vítima não estiver respirando, inicie as compressões cardíacas até que os seus sentidos retornem ou até o atendimento especializado chegar ao local.
No caso de choque elétrico seguido de queimadura, deve-se deitar a pessoa no chão, preparar um pano limpo e cobrir a área queimada e chamar o serviço de emergência.
O que não fazer
É importante não tocar na vítima até que ela esteja separada da corrente elétrica ou a corrente seja desligada.
Crise asmática
O que fazer
Sintomas como chiado, dificuldade para respirar, tosse persistente, sensação de aperto no peito são alertas. Manter a calma, se afastar do fator que causou a crise, usar medicamentos de alívio previamente acordado com seu médico e acionar o Samu 192 devem ser algumas das medidas iniciais.
O que não fazer
Não deite a pessoa. A posição deitada pode piorar a respiração. O ideal é manter a pessoa sentada ou levemente inclinada para frente.
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