Não escovar os dentes aumenta risco de câncer, afirma médico cirurgião
Segundo estudo, negligenciar a higiene bucal pode aumentar em até 50% o risco de câncer de cabeça e pescoço
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Quantas vezes por dia você escova os dentes? Pesquisa feita pelo Ministério da Saúde apontou que nove em cada 10 brasileiros escova menos do que o necessário.
Ainda que existam pessoas que não dão a devida importância à limpeza correta dos dentes, não cuidar adequadamente da boca pode, até mesmo, aumentar o risco de câncer, conforme apontou um estudo publicado no periódico Jama Oncology.
Segundo o trabalho, negligenciar a higiene bucal pode aumentar em até 50% o risco de câncer de cabeça e pescoço, principalmente quando a escovação não é feita adequadamente pela manhã.
O cirurgião de cabeça e pescoço Marco Homero Sá Santos explica que a relação entre a má higiene bucal e o câncer de cabeça e pescoço, especialmente o câncer de boca, está associada a agressões crônicas.
O médico esclarece que essas agressões, causadas pela má higiene e pela presença de bactérias, elevam a produção de moléculas que danificam os tecidos.
“Ao longo do tempo, esse dano crônico pode afetar as células da mucosa e outros componentes da cavidade oral. Esse processo aumenta o risco de células danificadas e mutadas se tornarem precursoras do desenvolvimento do câncer”, explica.
A Tribuna Existem outros hábitos que, combinados com a má higiene, aumentam o risco de câncer?
Marco Homero A má higiene bucal, isoladamente, não é o principal fator associado ao desenvolvimento de cânceres de boca. Os fatores mais relevantes e amplamente consolidados na literatura científica são o consumo de tabaco e álcool, especialmente quando utilizados de forma concomitante. Estima-se que cerca de 80% dos casos de câncer de boca estejam relacionados ao hábito de fumar.
Além disso, a infecção pelo vírus HPV é um fator importante, especialmente em casos de câncer na base de língua e na orofaringe.
Quais os sinais que podem indicar um possível câncer de boca? Ele pode aparecer em qualquer parte da boca?
Úlceras ou feridas na boca que persistem por mais de 14 dias devem ser investigadas. Outros sinais incluem sangramentos inexplicáveis, dor ao engolir, dificuldade para mover a mandíbula, mudanças na voz, inchaço ou nódulos na boca, e manchas brancas ou vermelhas nas gengivas, língua ou palato.
O câncer de boca pode surgir em qualquer parte da cavidade oral, mas os locais mais comuns são língua e lábios.
Afta persistente pode ser sinal de câncer?
Afta é afta; no entanto, úlceras que se parecem com aftas podem, em alguns casos, representar as fases iniciais de um câncer de boca. A afta tradicional, ou lesão aftosa real, é autolimitada, ou seja, um processo que dura, no máximo, 14 dias e se resolve espontaneamente.
Já as lesões que persistem por mais tempo podem não ser aftas, mas sim sinais iniciais de um câncer. Por isso, qualquer lesão bucal que dure mais de duas semanas deve ser avaliada por um especialista, a fim de descartar a possibilidade de ser o início de um câncer de boca.
Quais as sequelas que o câncer de boca pode causar?
Algumas sequelas podem ser originadas de defeitos cirúrgicos após a ressecção do tumor, como a redução do comprimento ou da extensão da língua.
A radioterapia, por exemplo, pode causar danos às glândulas salivares, resultando na diminuição da produção de saliva e, consequentemente, em boca seca, o que pode afetar a mastigação. Também podem ocorrer perdas dentárias devido à radioterapia.
Tumores na mandíbula podem resultar em deformidades faciais, caso haja perda do osso, afetando o contorno facial. Ou seja, as sequelas vão variar conforme o tamanho e a localização do tumor.
Como é o tratamento para esse tipo de tumor?
Os tratamentos para o câncer de boca podem incluir cirurgia, radioterapia, quimioterapia, imunoterapia e terapia alvo.
A escolha do tratamento depende do estágio do câncer, da localização do tumor e da saúde geral do paciente. Em muitos casos, a combinação desses tratamentos é utilizada para maximizar as chances de sucesso no tratamento e melhorar a qualidade de vida do paciente.
Existe medida preventiva para esse tipo de câncer?
O paciente pode realizar o autoexame da boca como uma medida preventiva. O autoexame consiste em observar, diante do espelho, toda a cavidade oral, incluindo lábios, língua (principalmente as bordas laterais e a parte inferior), gengivas, bochechas, céu da boca e assoalho da boca.
É importante verificar a presença de manchas, feridas que não cicatrizam, áreas esbranquiçadas ou avermelhadas, caroços ou qualquer alteração incomum. Caso identifique algo anormal, é essencial procurar um dentista ou médico especializado para uma avaliação detalhada.
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