Enxaqueca aumenta risco de AVC e Alzheimer
A neurologista Paula Zago é a entrevistada desta semana no "Fala Doutora"
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Você já teve algum episódio de dor de cabeça? Culturalmente, no Brasil, sentir dor é considerado normal para a população.
Só que episódios frequentes de dor de cabeça, sem uma origem determinada, podem ser cefaleia. No País, este mês é dedicado ao combate à cefaleia, e entre os tipos mais comuns do problema está a enxaqueca.
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A neurologista e membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia, Paula Zago, a convite de A Tribuna, esteve no TribunaLab, e destacou que ter enxaqueca com aura (fenômenos sensoriais com alterações visuais) pode aumentar o risco de um acidente vascular cerebral (AVC).
Confira a entrevista completa
A médica, que é membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia, ressaltou ainda que a enxaqueca também está associada a um maior risco de demência, como Alzheimer.
Só no Brasil, são mais de 30 milhões de pessoas que sofrem com a doença.
A Tribuna – O que é cefaleia e quais são os tipos?
Paula Zago – Cefaleia é um incômodo que temos na região da cabeça, conhecido também como dor de cabeça. Temos as dores de cabeça primárias, ou seja, a pessoa tem uma predisposição a sentir uma dor de cabeça, sem uma lesão estrutural que justifique aquela dor. Exemplos: enxaqueca, cefaleia do tipo tensão e vários outros tipos.
Há ainda mais de 130 causas de dor de cabeça, como problemas no olho, ouvido, dente e pescoço, que são motivos secundários.
Entre as cefaleias primárias, a que mais tratamos em consultório é a enxaqueca.
Como a enxaqueca é caracterizada?
É uma dor de cabeça, na maioria das vezes, de um lado só da cabeça e não é sempre do mesmo lado. Claridade, barulho e cheiro incomodam. Pode dar enjoo, vômito, qualquer esforço pode piorar a dor que dura, pelo menos, quatro horas, podendo se prolongar por até três dias. É uma dor de moderada a forte.
Quantos episódios de dor de cabeça preciso ter para ser enxaqueca?
A enxaqueca é uma doença crônica, mas bastam cinco episódios na vida para ser considerada como enxaqueca, isso no tipo comum.
Existe um subtipo que cerca de 25% das pessoas podem ter, que são fenômenos neurológicos que podem anteceder ou acompanhar a enxaqueca, que chamamos de aura. Bastam apenas dois episódios para considerarmos enxaqueca.
Qual a causa da doença?
É genética. A pessoa tem uma predisposição para ativar o centro de dor.
Porém, temos vários fatores ambientais que atuam piorando ou deflagrando essa dor de cabeça, como alterações de luminosidade e sono, jejum, estresse e desidratação, quando a pessoa fica muito tempo sem beber água.
A alimentação também pode desencadear?
Pode. Não existe uma receita de bolo para tratar a enxaqueca. Por exemplo, quem tem intolerância à lactose e come algo com esse carboidrato, pode ter a enxaqueca intensificada.
Comidas industrializadas, realçadores de sabor, embutidos como salsicha e presunto também desencadeiam enxaqueca. Mas não precisa ser só comida industrializada, frutas como melão e melancia, além das cítricas, podem piorar o problema. Isso é individual.
Há um risco maior de AVC em quem tem enxaqueca?
A enxaqueca com aura está relacionada com episódios de AVC, principalmente em mulheres que fumam e usam anticoncepcional oral combinado com estrogênio e progesterona. A recomendação de praxe é que, se a paciente tem enxaqueca com aura, deve ser trocado o anticoncepcional por outro que não tenha o estrogênio.
A longo prazo, essa dor de cabeça pode afetar a memória?
Durante a crise da enxaqueca, é comum a dificuldade de raciocínio. Estudos apontam que quem tem o problema não tratado apresenta maior risco de demência.
Ela pode se manifestar em qualquer fase da vida?
Sim. Em crianças, a manifestação pode ser diferente. Algumas podem ter dores abdominais, vômitos e tontura. A partir da puberdade, por conta do ciclo hormonal da mulher, é que dispara a diferença, sendo mais frequente em mulher do que em homem. E tende a melhorar na menopausa.
Não tem cura? Quais os tratamentos hoje?
Não é porque não tem cura que não tem controle. Com o tratamento, o paciente pode viver muito bem. Além das medicações que não são específicas para a enxaqueca, mas apresentam efeito contra a dor, há três anos foram criados medicamentos que agem especificamente na enxaqueca, os anticorpos monoclonais.
Eles são injeções aplicadas uma vez por mês ou a cada três meses, que previnem a dor. Fora isso, temos os tratamentos não medicamentosos, como ioga, relaxamento e acupuntura.
Pergunta do leitor
Jean Ferreira, 26, analista de sistemas: É possível prevenir que a doença apareça?
Uma vez que a pessoa tem enxaqueca, é possível evitar novas crises. Hoje temos vários tratamentos que evitam com que a pessoa tenha dor de cabeça. Há um leque de medicações que mostraram ser eficazes para prevenir a dor. Esses remédios não são específicos contra enxaqueca, mas vimos terem efeito na redução da dor.
Fique por dentro
- Cefaleia é um sinônimo de dor de cabeça. Ou seja, todas as dores de cabeça podem ser denominadas cefaleia. Na atual classificação da Sociedade Internacional de Cefaleia, existem por volta de 150 a 200 tipos diferentes de cefaleias.
- A enxaqueca é uma das manifestações da cefaleia. É uma doença neurológica, genética e crônica cuja principal característica é a dor de cabeça latejante em um ou nos dois lados da cabeça.
- Além da dor, a pessoa com enxaqueca pode sentir fotofobia (aversão à luz) e fonofobia (aversão ao som). Em alguns casos, ficar com a visão turva ou enxergar pontos luminosos pode indicar uma crise e até provocar náuseas e vômitos.
- Para algumas pessoas, alimentos como queijos, chocolate, frutas cítricas, adoçante, comidas geladas ou gordurosas podem causar crises de enxaqueca.
- Aura é um subtipo de enxaqueca que pode causar alterações na visão e dores de cabeça fortes e constantes. A pessoa pode enxergar pontos brancos, cintilantes ou flashes de luz.
- 30 milhões de pessoas sofrem de enxaqueca no Brasil
- 95% da população apresentará uma dor de cabeça ao longo da vida, segundo a Sociedade Brasileira de Cefaleia
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