Adolescentes também podem ter fibromialgia, alerta médica
Fatores hormonais e genéticos explicam a doença na fase da adolescência. Dor em todo o corpo é o principal sintoma
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A fibromialgia, doença que se manifesta com dor no corpo todo, sensibilidade generalizada, fadiga e transtorno do sono, foi reconhecida como deficiência na última semana através de uma lei aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado. Ela garante a quem tem a doença os mesmos direitos estabelecidos em legislações estaduais para as pessoas com deficiência (PcDs).
Apesar das causas ainda não terem sido bem estabelecidas, os sinais de alerta incluem até a enxaqueca. De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), a doença causa dores e desconfortos com duração superior a três meses.
Esse desconforto pode sumir e voltar, a depender de gatilhos emocionais, como o estresse e depressão. E a doença pode afetar adolescentes e crianças de 10 e 11 anos na transição para esta fase.
Em entrevista, a médica reumatologista Érica Vieira Serrano explica detalhes sobre a fibromialgia e aponta como o tratamento adequado pode ajudar para que o paciente siga a vida normalmente.
A Tribuna- O que é e o que causa a fibromialgia?
Érica Vieira Serrano- A fibromialgia é uma doença crônica reumatológica que provoca dor difusa, ou seja, em todo o corpo, não inflamatória e não autoimune, podendo ser muscular e articular. Em geral, a dor no corpo todo é associada à fadiga. É uma doença que ainda não tem uma causa bem estabelecida.
Acredita-se que, na fibromialgia, haja um defeito na percepção do estímulo da dor, ou seja, a pessoa percebe como muito doloroso um estímulo que não deveria ser doloroso. Com isso, o cérebro traz uma resposta de muita dor. Isso ocorre por deficiência de substâncias conhecidas como neurotransmissores. Os fatores hormonais e os gatilhos emocionais, como as perdas e o estresse excessivo, também estão relacionados ao desenvolvimento da doença.
Quais são os sinais de alerta para a fibromialgia?
Os principais sintomas são muita dor muscular e articular, sem sinais de inflamação, sem inchaço, sem calor ou vermelhidão, e a falta de energia, ou seja, fadiga muscular. A insônia, o sono não restaurador e as alterações da saúde mental, como depressão, ansiedade e pânico, são outros sintomas associados. Podem haver, ainda, sintomas satélite, como intestino irritável, dor na bexiga, dor miofascial, entre outros. Até a enxaqueca pode ser um sinal.
Há uma prevalência em mulheres, certo?
Sim. Geralmente, a presença do estrogênio é algo usado para a explicação desse fenômeno, porém os fatores ainda não são bem identificados. Alterações hormonais durante a vida da mulher também explicam essa prevalência.
Crianças podem ter fibromialgia?
No final da infância, pode acontecer, mas não é comum. Ela pode até acometer crianças depois dos 10 ou 11 anos, que é quando começa a transição para a adolescência. Em geral, os fatores hormonais e genéticos explicam a fibromialgia na adolescência. No caso das crianças, não há deficiências dos neurotransmissores associados à fibromialgia porque eles ainda estão em desenvolvimento.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é feito por um médico reumatologista, com a história clínica detalhada do paciente e exames físicos. Em casos duvidosos, alguns exames podem ser necessários para afastar causas que podem “imitar” os sintomas da fibromialgia, como o hipotireoidismo e outras doenças reumáticas, como a polimialgia reumática, as miopatias e as artrites inflamatórias. De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia, os critérios para identificar a fibromialgia incluem a dor por mais de três meses em todo o corpo e a presença de pontos dolorosos na musculatura - 11 pontos, de 18 que estão pré-estabelecidos.
Quais os riscos da doença?
A fibromialgia não gera deformidade articular ou perda de mobilidade definitiva, como acontece nas artrites autoimunes. Não acomete, também, órgãos internos, como acontece com o lúpus e outras doenças reumatológicas.
Quais comportamentos podem prevenir a fibromialgia?
Não há prevenção definitiva, pois isso também depende da herança genética e dos gatilhos mentais. De forma geral, aconselha-se a prática regular de atividade física e o controle do estresse.
É possível interromper a evolução da doença?
Sim. Com o tratamento adequado com um reumatologista e o suporte multidisciplinar de um fisioterapeuta, um educador físico, um psicólogo, um psiquiatra, um médico da dor e um terapeuta ocupacional. Hoje, o exercício físico, a medicação e a terapia cognitivo-comportamental são a base do tratamento para a fibromialgia.
Existe cura?
Não. Há tratamentos que podem atenuar os sintomas. Os pacientes que têm uma forma mais leve, respondem rápido ao remédio e conseguem fazer exercícios físicos. Já os pacientes que desenvolvem a doença de uma forma mais grave, principalmente com a associação de problemas de saúde mental, têm um tratamento mais difícil.
Fique por dentro
Cerca de 10% a 15% dos pacientes que vão a um consultório de reumatologia são diagnosticados com fibromialgia. O sintoma mais importante da fibromialgia é a dor generalizada por todo o corpo.
De cada 10 pacientes com fibromialgia, sete a nove são mulheres. A presença do estrogênio é algo usado para a explicação desse fenômeno, porém os fatores ainda não são bem identificados. Alterações hormonais durante a vida da mulher também explicam essa prevalência.
Sintomas como alterações de memória e atenção, ansiedade, depressão e alterações intestinais estão relacionados à fibromialgia. Especialistas apontam que quando há associação entre a fibromialgia e os problemas de saúde mental, o tratamento é mais complexo.
A terapia cognitiva-comportamental é uma aliada no controle da fibromialgia. Como o paciente diagnosticado sente dores que afetam a vida social, de trabalho, as relações familiares e a autoestima, a terapia é uma forma de mudar atitudes negativas ao lidar com a doença.
Predisposição genética- Probabilidade aumentada de se desenvolver uma determinada doença de acordo com as características genéticas.
Sintomas satélites- Sintomas indiretamente relacionados ao diagnóstico de uma doença.
Os números: 95 mil pessoas têm fibromialgia no Espírito Santo
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