Tira-dúvidas sobre doença que pode até matar em voos
Especialista alerta que em viagens com mais de 3 horas existe maior risco de embolia pulmonar, complicação da trombose
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A repercussão da morte da fisioterapeuta capixaba Flávia Rezende, aos 45 anos, durante um voo que ia para Tóquio, no Japão, na última segunda-feira, por suspeita de uma possível embolia pulmonar – quando o coágulo vai das pernas para o pulmão –, acendeu o alerta para a doença.
Voos longos, segundo especialistas, podem provocar a condição. Mas a cirurgiã vascular Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), destaca que outras situações, como obesidade e uso de pílula anticoncepcional, também podem provocar a embolia pulmonar. Em conversa com a reportagem, a médica tirou dúvidas sobre a doença.
“Além das viagens, todas as situações onde diminuímos a velocidade do fluxo sanguíneo aumentamos a chance de lesões nas veias ou deixamos o sangue 'mais grosso', podendo aumentar o risco”.
Entre as situações que diminuem a velocidade do fluxo, a cirurgiã vascular cita ficar imobilizado, acamado, obesidade, doenças que dificultam a mobilização e pós-operatório. Além disso, uso de pílula anticoncepcional oral e uso de hormônios anabolizantes aumentam o risco da doença.
“Por outro lado, também podemos ter um grupo de pessoas que podem ter uma maior tendência à formação de trombos pela própria composição do sangue, que são denominadas trombofilias, que podem, em alguns casos, ter caráter hereditário”.
A Tribuna- O que é a embolia pulmonar?
Aline Lamaita- A embolia pulmonar é a grande complicação de uma trombose venosa profunda, que é caracterizada pelo desenvolvimento de um coágulo sanguíneo no interior das veias das pernas devido à circulação inadequada.
Em casos graves, esse coágulo se desprende da parede da veia e corre pela circulação até chegar ao pulmão, causando uma embolia pulmonar, que pode resultar até mesmo em morte súbita.
Quando ela ocorre?
O problema é mais frequente durante viagens de avião porque permanecemos muito tempo parados e sem movimentar as panturrilhas, então a velocidade do sangue dentro dos vasos diminui, favorecendo o desenvolvimento de coágulos. Além disso, a pressurização da cabine e o ar-condicionado causam desidratação e, consequentemente, aumentam a viscosidade sanguínea.
Existe uma quantidade mínima de horas de voo que pode causar risco da doença?
A trombose é mais provável de ocorrer em trechos mais longos de viagens, acima de três horas. Como cada vez mais as poltronas dos aviões estão mais restritas, o que dificulta mais ainda a movimentação adequada, a doença ficou conhecia como “síndrome da classe econômica”, já que nesse setor a probabilidade de um evento tromboembólico é maior.
Em trabalhos mais recentes já sabemos que até a posição da cadeira pode ter influência no risco, pois pessoas que sentam próximas à janela, por levantar menos, têm maior chance do que as que preferem sentar próximo ao corredor. Por isso, é tão importante tomar precauções durante a viagem.
Quais cuidados devemos tomar?
Primeiramente, é indicado beber muito líquido e evitar bebidas alcoólicas durante o voo, para não desidratar. Medicações para dormir também não são aconselhadas, pois diminuem a mobilidade. A principal dica é andar pelos corredores a cada duas horas e movimentar suas pernas enquanto estiver sentado.
Quais sinais podem indicar uma possível trombose? Ela pode se manifestar de forma súbita?
A trombose sempre se manifesta de forma aguda, sempre numa perna só, frequentemente associada a um quadro de dor insidiosa na panturrilha que não melhora com variação de posição, podendo ou não estar associada ao inchaço.
Mas, infelizmente, às vezes o primeiro sinal de uma trombose pode ser uma embolia pulmonar fatal, que vai parecer um quadro de infarto agudo do miocárdio.
Existe um grupo de maior risco para o desenvolvimento da doença?
A atenção com a doença deve ser redobrada por aqueles que possuem fatores individuais que agravam os riscos de trombose, como obesidade, tabagismo, uso de hormônios e pílulas anticoncepcionais, portadores de câncer, pessoas com maior predisposição à coagulação sanguínea, gestantes, idosos, deficientes físicos e portadores de varizes.
Como é feito o tratamento da trombose e da embolia pulmonar?
A trombose e embolia pulmonar são essencialmente de tratamento clínico, com uso de anticoagulantes e acompanhamento, mas em casos extremos pode-se fazer uso de trombolíticos (drogas que dissolvem o trombo ) em caráter sempre hospitalar.
Fique por dentro
- A trombose ocorre quando há formação de um coágulo sanguíneo em uma ou mais veias grandes das pernas e das coxas. O problema maior é quando um coágulo se desprende e se movimenta na corrente sanguínea, em um processo chamado de embolia, podendo ocorrer no cérebro, pulmão ou coração.
- A trombose, se não tratada corretamente, pode evoluir para algumas complicações como a embolia e provocar, inclusive, a morte.
- Os membros inferiores são os locais mais comuns de trombose e os principais sintomas são o edema (inchaço), a vermelhidão, a dor e o calor no local, além de dor nas pernas.
- Quando é avaliada apenas a faixa entre 20 a 40 anos, a incidência de trombose é um pouco maior nas mulheres pela maior exposição a fatores de risco, como anticoncepcionais e gestações.
Os números
Aproximadamente 15% de indivíduos não tratados da trombose venosa profunda podem morrer de embolia pulmonar
489 mil brasileiros foram internados para o tratamento de trombose venosa, de 2012 a 2023
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