Ensino superior: pais devem respeitar a escolha dos filhos
Especialistas alertam que o papel dos pais é orientar, não decidir; jovens precisam de espaço para se conhecer e escolher com autonomia
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Quem conhece melhor um filho do que quem o criou? Pais e mães acompanham gostos, manias, preferências. É quase como se fossem testes vocacionais ambulantes. Por isso, é comum querer ajudar na hora da decisão sobre o futuro. Mas especialistas alertam: por mais bem-intencionado que seja, o desejo dos pais não pode se sobrepor ao desejo do jovem.
“Os pais devem respeitar as escolhas dos filhos”, destaca Ana Rita Gomes, psicóloga da Escola Monteiro. “Sempre digo aos meus estudantes que eles podem escolher ser qualquer coisa. Mas ninguém pode escolher por eles. Nem o professor, nem o psicólogo, nem os pais”.
Segundo ela, é comum que famílias com negócios próprios ou profissões consolidadas desejem ver os filhos seguindo os mesmos passos. “Isso influencia, claro. Mas a escolha final deve ser por amor. O jovem precisa conhecer suas habilidades e explorar outras possibilidades também”.
A psicóloga escolar Renata Junger, do Colégio Madan, vê isso com frequência nos encontros de orientação profissional.
“Escuto frases como ‘minha família é de médicos, então também quero ser’ ou ‘preciso escolher o que meus pais fazem’. Eles ainda estão muito comprometidos com o desejo dos pais. Isso é natural, porque ainda estão se conhecendo”.
Para ajudar nesse processo, Renata promove dinâmicas que incentivam o autoconhecimento e também faz questão de apresentar exemplos reais de transição de carreira.
“Levo profissionais que não atuam na área em que se formaram. Mostro que mudar de escolha não é fracasso. Hoje, é comum ver pessoas felizes e realizadas em novos caminhos. A escolha não precisa ser um ultimato”.
Mário Broetto, diretor do Centro Educacional Leonardo da Vinci, acrescenta que a escolha da profissão pode gerar angústia e preocupação nos alunos e em sua famílias. “É um momento de grande importância na vida de qualquer pessoa, por isso, algumas vezes isso pode acontecer”.
Especialista, ele destaca que é importante ter um ambiente acolhedor tanto na família quanto na escola para tratar as dúvidas, sem impor direções, mas ampliando possibilidades.
“É útil observar os interesses e as afinidades do aluno, mostrar a ele como é o dia a dia das profissões, analisar o mercado de trabalho pretendido e, se necessário, até contar com testes vocacionais”.
Salário não deve ser fator decisivo

Embora muitos jovens apontem o retorno financeiro como um dos critérios na hora de escolher uma profissão, especialistas alertam que esse não deve ser o principal fator.
“No nosso projeto, o Conexões, perguntamos aos estudantes quais são seus critérios de escolha. Eles trazem essa dimensão financeira, mas nós acreditamos que ela não deve ser o principal motor”, afirma Renata Junger, psicóloga clínica e escolar do Colégio Madan.
Psiquiatra e presidente do Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo, Fernando Tonelli compartilha da mesma visão. “Ninguém deveria entrar no mercado pensando apenas em dinheiro. Ele deve ser consequência de um trabalho bem feito”.
Segundo ele, o foco exclusivo em status e retorno financeiro tem gerado frustração em muitos jovens. Tonelli cita como exemplo a área médica.
“Hoje há uma disputa enorme no mercado. Vemos uma proliferação de faculdades de medicina, e nem todas têm boa formação. Isso resulta em profissionais inseguros, que acabam aceitando condições abusivas de trabalho. Eles trabalham muitas horas, seguem para outro plantão e não têm perspectiva”, avalia.
Exemplo do pai e aptidão para a área

Estudante do 8º período de Administração na Multivix, Bruno Thebaldi Gudi, 23, escolheu seu curso para seguir o exemplo do pai, mas conta que não foi o único motivo. “Escolhi porque acreditava que era uma área com muitas oportunidades no mercado que me permitia atuar em diversos setores nas empresas”.
Ele fez o teste de carreira pela primeira vez quando teve a oportunidade de fazer uma 2ª graduação. “O teste confirmou aptidão para a Gestão de Recursos Humanos que eu já imaginava. Receber essa confirmação foi muito positivo. Me deixou mais confiante”.
Conselhos para escolher carreira
Auto conhecimento
Do que você gosta? Quem você admira? O que gostaria de mudar no mundo? Como se imagina daqui a 10 anos? Prefere trabalhar em um escritório ou ao ar livre? Refletir sobre seus gostos, valores e estilo de vida é o primeiro passo para descobrir sua carreira.
Entenda as possibilidades da carreira
Você pode seguir uma mesma profissão por vários caminhos. Um médico pode atuar na gestão hospitalar. Um fisioterapeuta pode trabalhar com atletas de alto rendimento. Um contador pode virar criador de conteúdo sobre finanças.
Conhecer os diferentes campos de atuação pode abrir portas e mostrar opções que você nem imaginava.
Pesquise sobre as universidades
Depois de entender quem você é e o que quer, é hora de olhar para as instituições de ensino. Pesquise quais são as mais reconhecidas em sua área, quais oferecem programas de extensão, iniciação científica ou intercâmbio.
“Falta de aptidão pode exigir um esforço maior”
É bom em matemática, mas quer ser professor de biologia? A escolha deve ser do jovem, reforçam especialistas. Entretanto, optar por uma área na qual não tem aptidão exigirá um esforço maior.
“Podem escolher uma área na qual não tenham desenvolvimento alto? Podem. Mas vão ter que disponibilizar mais tempo nesse objetivo. Falta de aptidão, exige esforço maior”, explica Ana Rita Gomes, psicóloga e fundadora da Escola Monteiro.
O diretor geral da Escola Americana de Vitória, Cristiano Carvalho, reforça que a ideia de carreira vai muito além de profissão.
“O aluno pode escolher engenharia e seguir na área acadêmica, empreender ou trabalhar em gestão. O importante é prepará-los para navegar em um mundo em constante mudança, e não encaixotá-los em uma decisão única. Nosso papel é ajudá-lo a fazer as perguntas corretas”.
Atualmente, acrescenta, novas carreiras estão surgindo e a habilidade de adaptação é um dos recursos mais importantes para os estudantes.
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