Dieta mediterrânea diminui em 23% o risco de demência, aponta estudo
A dieta consiste em comer produtos típicos das regiões do sul da Europa. Veja os alimentos mais indicados pelos especialistas
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Pesquisadores do Reino Unido acompanharam os hábitos alimentares de mais de 60 mil pessoas e concluíram que a dieta mediterrânea pode reduzir em até 23% o risco de demência. Especialistas concordam que a boa alimentação é fundamental na manutenção da boa saúde mental e pode evitar problemas como o Alzheimer.
A dieta consiste em comer produtos típicos das regiões do sul da Europa, principalmente peixes, castanhas, legumes, verduras e o azeite. Além disso, prevê o consumo reduzido de carnes vermelhas e produtos com gorduras saturadas, como a manteiga e a margarina.
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Naomi Vidal Ferreira, doutora e pesquisadora em neuropsicologia e estilo de vida, ressalta que não é preciso aderir totalmente a planos alimentares como esse para usufruir dos resultados oferecidos. Atitudes simples, como trocar o pão branco pelo integral, consumir mais salada, voltar a comer feijão e trocar o óleo pelo azeite já podem trazer benefícios para a saúde.
Segundo Rita Cecília Ferreira, psiquiatra do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), o mérito do trabalho está no seu tamanho, além dos resultados confirmarem evidências prévias.
Publicado na revista científica BMC Medicine, o estudo usou quase uma década de dados de homens e mulheres de 40 a 69 anos, que foram classificados entre aqueles que chegavam em níveis mais próximos ou distantes da dieta mediterrânea ideal.
O programa alimentar foi mais significativos para os pacientes sem predisposição genética. Por outro lado, os voluntários com alto risco poligenético, isto é, com genes favoráveis à demência, tiveram resultados inconsistentes, uma vez que a alimentação estimula de forma diferente a expressão dessas moléculas.
"Óbvio que não é só a dieta", afirma Ferreira. Atividade física, escolaridade e estímulo intelectual também estão relacionados ao avanço da degeneração do cérebro. "Mas o que comemos é um dos fatores. Refeições saudáveis são fundamentais para além da demência. Reduzem o risco de obesidade, diabetes, hipertensão e são ótimas para a saúde em geral, inclusive a do cérebro."
Entre as limitações do estudo está a falta de diversidade dos participantes, que são todos brancos. Para a psiquiatra da USP, um trabalho ideal consideraria diversas etnias, embora não exista comprovação de maior incidência de qualquer tipo de demência por raça ou cor.
Para ela, faltam estudos sobre o efeito de outros hábitos alimentares na prevenção da doença. Ferreira afirma que uma refeição composta de arroz, feijão, verdura verde, legumes coloridos e uma proteína está longe de pertencer à dieta europeia, mas pode ser considerada saudável.
A especialista em envelhecimento saudável e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ann Kristine Jansen, diz que é possível, entretanto, envelhecer com saúde com uma alimentação baseada em produtos nacionais. "As frutas brasileiras também têm grande potencial oxidante", destaca.
Através de uma revisão abrangente de estudos, pesquisadores de diferentes partes do mundo chegaram à conclusão de que um cardápio personalizado pode ser melhor do que prescrições genéricas para os pacientes para a prevenção à demência. Eles afirmam que é necessário identificar os ingredientes mais propícios à neuroproteção e a idade adequada para realizar a intervenção nutricional.
Mais importante do que a comida que está no prato é o comportamento diante dela, segundo Jansen. A cientista ressalta que o preparo caseiro deve ser priorizado, enquanto os ultraprocessados evitados. "No estresse da correria do dia a dia, reduzimos muito o nosso tempo dedicado à alimentação. Não planejamos mais nosso cardápio diário, com prejuízo imenso ao nosso padrão alimentar e à saúde".
Os autores do trabalho, publicado na revista Journal of the Alzheimer's Association, também destacam limites das pesquisas científicas conduzidas até hoje sobre o assunto. Afirmam que é preciso produzir dados sobre populações de diferentes etnias e grupos genéticos, em primeiro lugar. Além disso, apontam a falta de estudos controlados e randomizados mais robustos que façam um acompanhamento adequado da dieta dos voluntários com base em tecnologia de ponta.
Apesar disso, os especialistas destacam que trabalhos como esse ajudam a entender como a comida atua no corpo evitando a neuroinflamação e a formação de radicais livres que levam à degeneração do cérebro.
As cientistas ouvidas acrescentam que a prevenção deve ser feita a vida inteira. O ideal é que seja iniciada na juventude ou na idade adulta, porque quanto mais precoce, maior a garantia de resultados. Exercícios físicos, atividades sociais, boa alimentação, sono adequado e controle de diabetes, hipertensão e lipidemias são alguns dos hábitos que podem ser adotados por quem quer envelhecer de forma saudável.
"Mas quem não fez e já está com 40, pode iniciar agora. Aos 50 ou aos 60, nunca é tarde para começar", diz Ferreira.
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