“Descobri o Parkinson aos 26 anos e mudei de vida”, conta mestre sorveteira
Após diagnóstico da doença, Gabriela Ayres Maretto Zorzal decidiu largar a advocacia e investir em sua paixão: a gastronomia
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No auge da juventude, em 2015, com um escritório de advocacia em Vitória, Gabriela Ayres Maretto Zorzal, aos 26 anos, descobriu ter a doença de Parkinson.
O que para muitos pode ser uma sentença, para Gabriela foi um “empurrão” para se dedicar a um antigo sonho: a paixão pela gastronomia. “Logo que fui diagnosticada, parei tudo na minha vida e tive um insight: 'vou começar a fazer gelato'”.
A mestre sorveteira, que hoje tem 37 anos, lembra que os primeiros sintomas da doença foram dificuldade de andar de salto e enrijecimento no pescoço, seguido de tremores. Ela diz que no início achou que pudesse ser efeito do remédio contra ansiedade que tomava.
Só que mesmo após conversar com seu psiquiatra e retirar a medicação, os tremores não passaram, começando até a afetar seu trabalho. Gabriela teve de passar por vários médicos até chegar ao diagnóstico, confirmado por um médico de Belo Horizonte.
“O diagnóstico vem como uma porrada na gente, mas dá um certo alívio, porque terá um tratamento. Porque a gente passa por tantas situações, tantas provas, tantos testes, é como se fôssemos um ratinho de laboratório. Tudo é testado na gente, inclusive remédios muito fortes. Cheguei a tomar remédio até contra esquizofrenia”.
Foi durante esse processo de descoberta da doença e início de tratamento que Gabriela decidiu seguir seu sonho de investir na gastronomia. “Eu queria uma coisa mais leve para mim”.
Apoiada pelo marido, Victor Augusto Zorzal, 40, e pela família, a capixaba, ao longo de três anos, aproveitou as idas a São Paulo para tratamento da doença e para também se aperfeiçoar nos estudos. Em 2016, concluiu o curso de Fundamentos de Gelatos, ministrado por chefs com formação na Gelato University, da Bolonha, na Itália.
Gabriela, que é mãe de Maria Rosa, de 6 anos, está à frente da gelateria Blu Gelatos. A empresa, que começou em sua casa, em 2022, passou a ter como sede Pedra Azul, em Domingos Martins.
Neste ano, a mestre sorveteira mudou-se para Vila Velha e instalou a fábrica de gelato no município, ampliando suas vendas sob encomenda para toda Grande Vitória por meio de delivery.
“Foi uma luz no fim do túnel”
A Tribuna — Havia casos de doença de Parkinson em sua família?
Gabriela Maretto — Não tem casos na minha família de doença de Parkinson, só uma tia bisavó, bem distante, parente distante, que teve, mas não precoce. Ela tinha entre 70 e 80 anos.
Você contou que os primeiros sintomas foram dores no pescoço e dificuldade para andar. Quando começaram os tremores?
Depois de uns seis meses com essa dor, tentando correr atrás de médico para ter um diagnóstico mais preciso, comecei a sentir que eu estava tremendo, a mão esquerda, mas pensava que era por causa do remédio de ansiedade que eu tomava. Lembro que eu tinha uma série de complicações intestinais. Um estado de estresse, por exemplo, me dava diarreia.
Mas mesmo tirando o remédio de ansiedade, eu continuei tremendo, comecei a apresentar uma lentidão e muito sono.
O que sentiu ao receber o diagnóstico?
Eu estava cansada, essa é a palavra certa, de correr tanto atrás do diagnóstico, de não parar de tremer, de tentar esconder o tremor e a rigidez. Foi uma luz no fim do túnel. O diagnóstico vem com uma porrada, mas dá um certo alívio por saber que ia ter tratamento.
Lembro que a primeira vez que tomei a medicação eu parei de tremer e dancei a noite inteira em uma festa. Foi até engraçado, porque há muito tempo eu não sentia aquilo.
Em outubro de 2023 passei pela cirurgia para Estimulação Cerebral Profunda (DBS - eletrodos no cérebro) e com isso reduzi 75% da medicação.
E de que forma a gelateria surgiu na sua vida?
Amei o Direito, mas não achava que a advocacia era mais meu perfil. Queria uma coisa mais leve, queria seguir a minha arte. Não foi de imediato que eu quis abrir a gelateria. Eu sempre tive o sonho, comecei a fazer curso, mas só abri a gelateria em 2019. É importante falar que numa competição eu competi de igual para igual, não fui beneficiada e nem prejudicada por ter Parkinson.
Hoje, quais outros sonhos você tem?
Meu sonho é continuar tendo uma família equilibrada, com um casamento equilibrado, e poder ver minha filha crescer feliz. Além disso, é ter o melhor gelato do Brasil, independente de concurso.
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