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Cidades

Da enfermagem para a moda sustentável após 20 anos em hospitais

Elki Zanandrea trabalhava na área de enfermagem quando foi demitida. Como gostava de moda, decidiu abrir um brechó


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Imagem ilustrativa da imagem Da enfermagem para a moda sustentável após 20 anos em hospitais
Elki Zanandrea se surpreendeu com a quantidade de pessoas que se identificam com moda sustentável |  Foto: Leone Iglesias/ AT

“Estava segura na área da enfermagem, tinha medo de arriscar, largar tudo e começar de novo, porque já estava há muito tempo na mesma empresa, com um bom salário. Vivenciava aquele hospital, comandava uma equipe de mais de 700 funcionários. Mas a vida tomou essa decisão por mim.

No ano passado, quando houve uma troca de diretoria, eles fizeram o desligamento de vários gestores e eu estava entre eles. Não sabia o que ia ser da minha vida naquele momento, depois de 20 anos na área da saúde. Pensei: 'E agora? Continuo na minha área ou é a oportunidade de empreender como tinha vontade?'.

Resolvi, então, ir para São Paulo participar da ABF Franchising Expo, a maior feira de franquias da América Latina. Rodei a semana inteira e cada dia via uma coisa diferente e nada me agradava profundamente. No último dia, vi o estande do brechó Peça Rara e não tive dúvidas de que era isso que eu queria, que tinha tudo a ver comigo trabalhar com a moda sustentável. Me encontrei!

Tudo aconteceu de uma hora para outra, foi tudo muito rápido: fui à feira em junho do ano passado e em novembro a loja já estava inaugurada.

Carreira

Sempre gostei de moda, desde pequena. De gostar de me vestir, fazer combinações, saber sobre tipos de tecido e construir looks para as bonecas. Mas nunca enxerguei a moda como uma carreira porque via ela como um hobbie, então acabei seguindo a área da saúde.

Saí de Lorena, no interior de São Paulo, para fazer cursinho pré-vestibular, porque queria muito estudar na Universidade de São Paulo. Era o sonho da minha vida. Por me identificar com a área da saúde, decidi fazer Enfermagem. Estagiei no Hospital das Clínicas da USP e logo fui contratada como enfermeira no Departamento de Gastroenterologia.

Fui coordenadora de pesquisa clínica até que vim morar em Vitória. Aqui, trabalhei 17 anos num mesmo hospital. Fui enfermeira de educação continuada e fui crescendo dentro da empresa até virar gerente administrativa. Imaginava que terminaria minha vida na enfermagem.

Pandemia

A pandemia da covid-19 foi um momento que vivi muito intensamente. Estava na linha de frente, então foi muito pesado para mim e minha família. Tive que me afastar da minha filha durante um mês porque ficava muito tempo no hospital.

Foi bem difícil tanto pra mim quanto para o meu marido, que é médico. Apesar de sempre ter amado a profissão, nessa época eu já comecei a me questionar se estar naquela área valia a pena.

Quando fui desligada, em março do ano passado e, antes de decidir o que fazer, fiquei um tempo em casa, porque não tinha clareza do que faria. Fiquei um tempo perdida. Estava totalmente sem chão.

Mas até esse tempo perdido foi importante, porque nunca fiquei parada, sempre estava me movimentando muito. Então, finalmente parei para fazer uma reflexão do que queria fazer. Essas pausas são importantes e a gente muitas vezes não se dá conta disso.

Mas acho que foi importante tudo que passei até aqui, porque carrego também muita bagagem da enfermagem. Embora sejam áreas diferentes, trago para o meu dia a dia muito do que aprendi na profissão anterior.

Tanto na Enfermagem, quanto na loja, a gente lida com pessoas o tempo todo. Às vezes, as pessoas falam pra mim: 'nossa, você é tão carinhosa, atenciosa'. E percebo que isso vem muito do que aprendi na enfermagem. Todo esse cuidado faz com que eu ofereça um atendimento diferenciado para os meus clientes. E isso faz a diferença!

Hoje, não sinto mais vontade de voltar para a enfermagem. Foi gostoso tudo que passei, mas é uma página importante da minha vida que passou.

Sustentabilidade

Descobri a moda sustentável na feira de franquias, embora já fizesse parte do meu estilo de vida, que é muito peculiar. Prezo muito pelo minimalismo. E vem me surpreendendo a quantidade de pessoas que se identificam com a marca.

A quantidade de peças que a gente recebe aqui na loja é absurda, um volume muito grande. E são peças que são praticamente novas, não tem por que descartar, jogar fora, sendo que elas estão aptas para uso. A moda sustentável é uma forma da gente repensar nossos hábitos.

Trabalhar com isso vem me satisfazendo por inteira, tanto pessoalmente quanto profissionalmente. As coisas não são fáceis, mas todo desafio pode ser superado. Eu me empenho muito no que faço, vivo isso aqui com muita intensidade. É algo que me satisfaz.

Casamento

Conheci meu marido quando ambos trabalhavam no Hospital das Clínicas da USP. Ele é capixaba e me deu um xeque-mate com um ano de namoro. Disse: 'vamos casar e vamos embora para Vitória'.

Não foi uma decisão fácil, ninguém da minha família queria que eu viesse. Minha carreira em São Paulo estava indo muito bem. Mas eu era aquela jovem apaixonada e não pensei duas vezes.

E ainda bem que a gente não pensa, porque não me arrependo. Sou muito feliz com o meu casamento e sou apaixonada por Vitória, brinco que já ganhei a cidadania”.

Depoimento concedido ao repórter Flávio Carvalho.

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