Primeiros sintomas de Alzheimer surgem até 18 anos antes da perda de memória
Descoberta foi publicada em artigo em fevereiro deste ano
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O estágio inicial da doença de Alzheimer nem sempre é percebido. Como o começo da doença é gradual, dificilmente os pacientes ou familiares conseguem ter certeza de quando ela se inicia.
Mas pesquisadores já descobriram que os primeiros sinais podem se manifestar até 18 anos antes da perda de memória, de acordo com o neurologista Fábio Henrique de Gobbi Porto, doutor em Neurologia pela Universidade de São Paulo (USP) e diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz), regional São Paulo.
A revelação, segundo ele, foi feita em um artigo publicado na revista New England Journal of Medicine no dia 21 de fevereiro deste ano.
“Existe uma longa fase assintomática durante a qual ocorre um acúmulo anormal de proteínas, inicialmente a amiloide. Os sintomas clínicos só começam a aparecer após anos de acúmulo dessas proteínas”, explicou.
Gobbi destaca que os estudos têm mudado o foco para encontrar pessoas assintomáticas que possuem as proteínas da doença de Alzheimer.
“A janela para agir pode ser muito grande, talvez até uma ou duas décadas. Acredita-se que o futuro do tratamento será tratar a doença e a proteína antes que os sintomas clínicos, como a perda cognitiva, apareçam”.
A presidente da Sociedade Capixaba de Neurologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Jovana Gobbi, ressalta que os estudos de biomarcadores (proteína beta-amiloide e proteína TAU) da doença de Alzheimer já permitem um diagnóstico mais precoce através de exames mais específicos, como a dosagem deles no líquor ou no sangue, ou mesmo em exames de neuroimagem com marcadores destas proteínas.
Além dos biomarcadores, para diagnóstico da doença também são feitos testes de funcionalidade, que agora já contam com a inteligência artificial, conforme aponta o geriatra Rafael Neder, pós-graduado em Neurociência e mestre em Neurologia.
Um desses testes é Altoida, que é um teste de inteligência artificial e faz um rastreio em uma listagem de diversos domínios cognitivos, explica o médico. “Como ele gera uma lista de domínio com números, eu consigo acompanhar esse paciente e, com treinamento cognitivo e remédio, posso ver em qual ponto da cognição não foi bem e melhorar”.
Quadro de demência aos 51 anos
Na semana passada, o público brasileiro foi surpreendido com a notícia de que o humorista Pedro Manso, de 51 anos, tem demência. Em sua rede social, Pedro revelou que tem se esquecido de atitudes simples do dia a dia. “Estou passando por um problema muito sério de demência, esquecimento muito sério”, afirmou.
“Não queria acreditar, mas, infelizmente, tenho que aceitar e pedir a Deus que me dê a cura e me proteja para alertar a muitos que possam estar passando por esse mesmo problema”, desabafou o humorista.
Segundo sua assessoria, Pedro está muito preocupado porque na sua família existem alguns casos de Alzheimer, mas ele ainda não tem diagnóstico fechado, porém, vai passar por exames.
Esquecimento e fraqueza
Fazer a mesma pergunta várias vezes, mesmo sendo respondida, e até magoar com palavras sem perceber. Esses foram alguns sinais que levaram a dona de casa Katia Rosane Dantas, 61, a levar sua mãe, Maria Dantas Santana, hoje com 84 anos, ao neurologista.
O diagnóstico de Alzheimer veio há 10 anos. “No decorrer dos anos ela foi esquecendo quem eram as pessoas da família. Muitas vezes se lembrava do nome das pessoas, mas não sabia, por exemplo, quem eram os seus filhos. Com o decorrer dos anos, as pernas foram enfraquecendo e ela foi deixando de andar. Há cerca de três anos ela é acamada e não faz mais nada sozinha”, conta Katia.
“Para mim, o que mais dói é não poder levá-la para passear, tê-la comigo no dia a dia, cuidando dela devido à idade, mas sem o Alzheimer. Mesmo que minha mãe não entenda mais nada, amo quando pergunto a ela se me ama e ela, às vezes, consegue dizer que sim. Eu amo cuidar da minha mãe”,
Tratamento inclui treinamento físico
Ainda que a ciência se empenhe ao máximo para impedir o progresso do Alzheimer ou até mesmo descobrir a cura da doença, médicos afirmam que o tratamento não é baseado apenas no uso de medicações.
“Falo muito que tratamento não é só remédio. O treinamento físico – já foi provada a importância do músculo para a prevenção de Alzheimer – libera substâncias como a irisina, que estimula a conectividade entre os neurônios”, destaca o geriatra Rafael Neder.
Outro ponto abordado pelo médico é o consumo de açúcar e o álcool, que são danosos para o cérebro.
“É importante o consumo moderado. Outro pilar é o treinamento cognitivo, o cérebro precisa ser exercitado. Ele precisa ter estímulo cognitivo para treinar funções cognitivas”.
A presidente da Sociedade Capixaba de Neurologia, a neurologista Jovana Gobbi, observa que fatores de risco vasculares, como hipertensão, diabetes, dislipidemia e tabagismo, podem aumentar o risco da doença de Alzheimer.
“Evidências crescentes sugerem que o tratamento agressivo desses fatores de risco tão precocemente quanto na meia-idade pode atenuar o risco de desenvolver comprometimento cognitivo na idade mais avançada”.
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