Artesã do Estado transforma escamas de peixes até em buquê
A artesã Cristina Maria Ribeiro, de Anchieta, faz sucesso no Brasil e no exterior com objetos como enfeites de cabelo e brincos
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É do fundo do mar que vem a principal matéria prima das flores artesanais feitas pelas mãos da Cristina Maria Ribeiro Lauteman, de 64 anos, em Anchieta, no litoral Sul capixaba.
As flores de escamas de peixe viram brincos, objetos decorativos, enfeites de cabelo, sandálias e até buquê de noivas.
Os adereços são escolhidos por muitas noivas, principalmente as que se casam em praias como as de Fernando de Noronha. Mas uma cliente especial fez a artesã sonhar junto com o buquê e toda a ornamentação da festa de casamento: a filha, a psicóloga e esteticista Fabiane Ribeiro Lima Pianzola, 25.
“Quando começamos a pensar em tudo que precisaríamos para o casamento, eu disse: ‘mãe, meu casamento tem que ter o seu trabalho’. Começamos a sonhar, sonhar, e eu não imaginava que seria tanta coisa. No final, além do buquê, tivemos a maior parte da decoração toda feita pelas mãos dela. Até o lustre, forminhas de bombom. Todo mundo ficou encantado”, disse Fabiane.
Além dos produtos artesanais feitos de escama de peixes, Cristina também trabalha com conchas. Essas também viram flores e já teve quem encomendou um buquê com flores de conchinhas.
A produção da artesã é diária e, em dias mais inspirados, ela chega a trabalhar por 14 horas. São 12 tipos de flores de escama de peixes e nove cores de flores de conchas.
Para as flores feitas de escama, a artesã conta que é possível fazer com qualquer peixe, e até com escamas de peixes menores. As mais vendidas vêm de um peixe chamado bodião. O processo é longo, e cada etapa foi desenvolvida pela própria Cristina, há 35 anos.
Após um curso de internacionalização que a artesã fez pelo Sebrae, Cristina passou a exportar para oito países, e foi referência em exportação pelos Correios.
Somente para os EUA, eram enviadas 12 mil flores de escamas de peixes mensalmente. E foi o olhar de empreendedora que acabou trazendo seu trabalho de volta para o Brasil. “A minha meta lá atrás era exportar. E hoje vejo que não preciso mais exportar, o mercado nacional já consome todo meu trabalho”, explica ela.
Atualmente, as peças de Cristina são vendidas também para a Tok Stok, uma rede de lojas com mais de 80 unidades em todo o Brasil. As flores vendidas nessas lojas são exclusivas.
Arte após perda do marido com dois meses de união
Cristina Maria Ribeiro Lauteman conta que conheceu o artesanato aos 11 anos de idade. “Minha mãe trabalhava com um grupo de mães e eu sempre participava com elas. Sempre pintando”.
Mas foi após ficar viúva, dois meses e 21 dias depois do casamento, é que Cristina, andando pela praia, pegou as conchinhas e transformou em uma bela flor.
“Eu andava na praia muito triste, com cabeça baixa e chorando. Namorei 10 anos, e depois de casar fiquei viúva com dois meses e 21 dias de casada. Olhando as conchinhas no chão, peguei as rosas e coloquei na mão. Quando fechei a mão, apareceu uma florzinha. Vim para casa e comecei a fazer isso e passei a viver de artesanato”, conta.
O marido de Cristina faleceu em decorrência de uma hepatite B. Na época, ela lembra que era uma doença pouco conhecida e com poucos recursos de tratamento.
“Fazendo as flores de conchas, fui para um evento em Vila Velha e o filho do governador na época veio buscar as flores de helicóptero aqui em Anchieta”, lembra. Cristina ouviu falar de umas freiras que vieram de Portugal e faziam flores de escamas de peixe. Sem saber por onde começar, a artesã começou a fazer experimentos.
Referência em exportação
Após um curso de internacionalização que a artesã fez pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Cristina conta que passou a exportar para oito países, e foi referência em exportação pelo Correios.
“Fizemos um curso de internacionalização pelo Sebrae e isso nos levou para fazer uma feira na África. Na época, o presidente de lá ganhou um buquê de escamas, veio no nosso estande nos agradecer. Fizemos feiras na Argentina, e exportamos principalmente para Itália e Estados Unidos”, contou a artesã.
Somente para os Estados Unidos, eram enviadas 12 mil flores de escamas de peixes mensalmente. E foi através do olhar de empreendedora, do conhecimento adquirido nos cursos do Sebrae, que Cristina acabou trazendo seu trabalho de volta para o Brasil.
“A minha meta lá atrás era exportar. E hoje vejo que não preciso mais exportar, e o mercado nacional já consome todo meu trabalho”, explica ela.
A artesã faz parte da Agência de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas e do Empreendedorismo (Aderes), e do Programa do Artesanato Brasileiro (PAB). Em 2010, a artesã recebeu o Prêmio Mulher Empreendedora do Sebrae, e é referência no trabalho com conchas e escamas de peixes.
“Depois do prêmio eu fiz muitos cursos pelo Sebrae. Os cursos só fazem com que a gente cresça. A gente aprende a colocar preço nas nossas coisas, organizar o ateliê, e cresce como empreendedora. Acho que todo o artesão não pode perder a oportunidade de fazer cursos, porque a única coisa que não ocupa espaço é o aprendizado. O Sebrae nos dá a oportunidade de ampliar nossos horizontes, por isso que ele mexe com o pequeno empreendedor. Eu era um MEI (microempreendedor individual), e tive que virar ME (microempresária) com o aumento das vendas. Isso também significa crescimento”.
A analista do Sebrae Espírito Santo, Renata Braga Rodrigues ressaltou a importância do artesanato para a economia e da parceria com os artesãos.
“O artesanato tem crescido bastante nos últimos anos, é uma porta de entrada para a formalização. O artesanato é uma alavanca para a economia, fomenta a cultura local. O Sebrae é uma porta de conhecimento, de capacitação desses pequenos empreendedores. O importante é que o empreendedor esteja com vontade de aprender”, declarou Renata.
Atualmente as peças de Cristina são vendidas também para a Tok STok, uma rede de lojas com mais de 80 unidades em todo o Brasil. As flores vendidas nessas lojas são exclusivas.
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