Arte e história nos monumentos de cemitérios
Pesquisadora explica que esculturas que enfeitam túmulos mais antigos são obras que foram encomendadas e a maioria é arte sacra
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Andar entre os túmulos e mausoléus de cemitérios é como fazer uma viagem no tempo. O Cemitério de Santo Antônio, em Vitória, por exemplo, é um verdadeiro museu de arte a céu aberto, de acordo com a professora de Arte Isis Santana Rodrigues, que é mestre e pesquisadora em arte cemiterial.
De acordo com ela, o Cemitério de Santo Antônio foi inaugurado em 1912, sendo o mais antigo do Espírito Santo, mas em fotos anteriores à data, de acordo com ela, é possível observar que, antes mesmo da inauguração, já existiam sinais de que corpos estavam sendo enterradas no local.
“Ele foi construído por conta das questões sanitárias mesmo. Se olharmos a história, até a metade do século 19, os enterros eram feitos nas igrejas. Posteriormente, começaram a ser realizados em campos santos administrados pelas igrejas. Só depois que o poder público assume e constrói os cemitérios fora do ambiente religioso”, explica.
Uma das obras encontradas no local é a Pietà, representando uma mãe que tem seu filho morto no colo, fazendo alusão à obra Pietà, do escultor e pintor renascentista Michelangelo. É possível ainda observar outros detalhes esculpidos nos túmulos, que retratam passagens bíblicas.
Isis explica que a presença das esculturas revela bastante sobre o morto e sobre sua família.
“As esculturas daqui geralmente não são assinadas pelos autores. São obras que as famílias encomendaram aos artistas da época e a maioria é arte sacra, com anjos e passagens bíblicas. O tamanho e o material utilizado também variam bastante de acordo com a condição econômica de cada família”.
A importância histórica das obras encontradas no local, de acordo com a pesquisadora, se junta à emoção.
“Além de revelar muito sobre a história da arte e do estilo clássico das esculturas da época, elas representam ainda a lembrança dos entes queridos já falecidos, que serão lembrados em mais um Dia de Finados”, observa.
Finados
O Dia de Finados, que será lembrado nesta quinta-feira (02), carrega a tradição da visitação aos túmulos e mausoléus onde estão sepultados os entes já mortos.
Na terça-feira (31), profissionais contratados por famílias já estavam no local fazendo a limpeza das sepulturas para esta quinta (02).
Esculturas
Anjinhos
Geralmente são utilizados em túmulos de crianças. Nessas situações, acredita-se estar invertendo a ordem da vida. Por essa razão, a escolha de imagens frequentemente apinhadas de afetividade.
Mulher de vestido longo
Na obra, que fica logo na entrada do cemitério, a imagem pagã, no sentido de não pertencer exatamente à fé cristã, representa uma mulher idealizada. A representação feminina que lamenta a morte aparece literalmente velando os túmulos.
Barco para navegador
A escultura fica sobre o túmulo de Wilson Freitas, piloto e navegador morto em 1945, após um acidente de avião. Uma de suas últimas frases antes de partir foi: “Ouço minha voz, mas não sinto meu corpo”. Sua história foi encontrada no Arquivo Público.
Cristo crucificado
É um símbolo muito forte no cristianismo que lembra o sacrifício que Jesus Cristo fez para a humanidade. Cristo crucificado é o tema de mais de uma escultura no local.
“Ele possui diferentes formas de apresentação, mas todas parecem relembrar o sofrimento de Cristo pela humanidade. O sacrifício para salvar todos”, diz Isis.
Jesus Misericordioso
As imagens, no geral, trazem uma reflexão sobre a infinitude e a humanização de Cristo.
“Representa o Cristo misericordioso e que perdoa a humanidade. A mão direita de Jesus levantada é o gesto de abençoar, derramando sobre nós sua misericórdia. A mão esquerda de Jesus sobre o peito aponta para o seu Sagrado Coração, de onde emana todo o seu amor”, segundo Isis Santana.
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