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Cidades

Aos 89 anos, freira caminha 6 km todos os dias para visitar doentes no ES

Irmã Maria Joana Otília mantém rotina de oração e de assistência a pacientes de hospital em Cachoeiro, além de costurar e fazer crochê


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Irmã Maria Joana mantém rotina de oração e assistência a pacientes em hospital de Cachoeiro de Itapemirim |  Foto: Divulgação/Acervo Santa Casa de Cachoeiro de Itapemirim

Nos últimos 60 anos, com passos firmes durante todos os dias, a Irmã Maria Joana Otília, ou simplesmente Irmã Otília, dedica-se à oração e ao cuidado dos pacientes da Santa Casa de Misericórdia de Cachoeiro de Itapemirim, na região Sul do Estado, além de ajudar nos trabalhos da “Casa das Irmãs”, onde mora (no Colégio Jesus Cristo Rei) e é a residente mais antiga.

Aos 89 anos, a religiosa diz que pensa que ela não merece elogios por suas benfeitorias. “Sou uma pessoa simples e só cumpro o que Jesus me mandou fazer”, disse. 

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Ela revela com orgulho o versículo da bíblia do livro de Lucas que a move até os dias de hoje.  “Se alguém quiser me acompanhar, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”.

Irmã Otília é conhecida por muitos cachoeirenses, especialmente aqueles que atravessam a ponte municipal, trajeto da freira quando sai a pé rumo à Santa Casa para o cumprimento de seu trabalho de confortar pacientes e até trabalhadores do hospital. São seis quilômetros de sua casa ao hospital, sendo uma hora de caminhada. 

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Irmã Maria Joana vai a pé por 6 km visitar pacientes internados em hospital |  Foto: Divulgação/Acervo Santa Casa de Cachoeiro de Itapemirim

A Irmã é  descrita pelos que convivem com ela como anjo da guarda que ilumina e alegra os ambientes. 

De acordo com Irmã Otília, a rotina de ir diariamente ao hospital só foi interrompida nos anos da pandemia de covid-19, o que lhe  causou tristeza, já que gostaria de ter continuado a dar assistência espiritual aos internados. 

Ela está sempre em movimento ou recolhida para  seus momentos de oração, mas entre 20h e 21h, todos os dias, dedica-se a algum trabalho manual, como crochê e bordado. “Faço isso só para quebrar o galho. É bom fazer alguma coisa”. 

Outro costume que mantém é costurar os próprios “hábitos”, as roupas que freiras usam, e outras peças para a Casa das Irmãs, além de ajudar nos serviços domésticos, muitas vezes contra a vontade das pessoas, segundo ela. “Faço questão de ajudar. Elas não querem. Mas eu posso e quero fazer isso”.

Além de costurar, ela faz trabalhos manuais e os doa. “Tudo que faço, eu dou de presente. As pessoas gostam das coisas feitas pelas minhas mãos”, enfatizou.

Irmã Otília conta que não tem nenhum problema de saúde, não toma medicamentos e sobe e desce as escadas com muita desenvoltura.

“Cumpro minha missão de assistir aos doentes e Deus me deu o privilégio de assistir ao meu pai e a minha mãe na hora da morte”.

“Anjo de Cachoeiro” é seu apelido

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caminhada em Cachoeiro: a irmã visita todas as enfermarias de hospital |  Foto: Divulgação/Acervo Santa Casa de Cachoeiro de Itapemirim

A Irmã Maria Joana Otília ganhou o apelido carinhoso de “Anjo de Cachoeiro”. Conhecida e muito querida por todos, a religiosa garante que não mede esforços para levar o bem para os pacientes internados na Santa Casa de Misericórdia de Cachoeiro de Itapemirim.

Apesar da idade, não lhe falta disposição para percorrer todas as enfermarias do hospital, segundo ela.

“Esqueço-me de mim para o bem do doente, vou em todos os leitos. Seja que doença for, seja quem for. Aqui é como se fosse minha segunda casa”, disse ela.

A sétima de 14 irmãos, Irmã Otília revela que começou sua vida religiosa trabalhando com os doentes em Belo Horizonte. Em 1960, recebeu o Santo Hábito e, nove anos mais tarde, fez os votos perpétuos de pobreza, castidade e obediência.

A religiosa conta que, durante sua vida, levou conforto aos enfermeiros em vários locais, como Colatina, Vitória, Araxá, Governador Valadares e Rio de Janeiro. 

Desde 1966, está em Cachoeiro de Itapemirim e, a partir daí, visita diariamente os pacientes internados na Santa Casa do município.

Por onde passa, a religiosa confidenciou que é recebida com carinho, tanto pelos funcionários do hospital, quanto pelos doentes. Assim como acontece todos os dias, Irmã Otília segue mantendo suas orações pela recuperação daqueles que estão internados.

“É de domingo a domingo, sem folga, sem nada. O meu coração não aceita folga, porque, para o doente, não existe folga. Quando eu morrer, eu paro”.

Abriu mão de colégio de luxo para ajudar os necessitados

A Irmã Maria Joana Otília conta que, quando tinha 17 anos, aproveitou a presença de um bispo em seu estado natal, Minas Gerais, para falar para ele sobre  o desejo de ser freira. Após isso, segundo ela, ele a encaminhou para um colégio religioso no mesmo estado. 

“Era tudo muito bonito, de muito luxo. Conheci tudo, mas sabia que aquele não era o meu lugar. Por mim, vendia aquelas coisas todas e dava tudo aos pobres. Voltei ao bispo e falei para ele que aquele não era o meu lugar.

De acordo com a religiosa, o bispo em questão entendeu o problema e a encaminhou para outro local, não sem alertá-la de que lá eram tratadas crianças com transtornos psiquiátricos.

Assustador

“Fui conhecer e era uma situação muito triste, até assustadora na maioria das vezes porque as crianças gritavam, faziam as necessidades no chão e, apesar de tudo estar lavado, o cheiro desagradável era muito forte”, disse. 

“Mas senti no meu coração que ali eu seria útil e poderia abençoar a vida daquelas crianças. Pensei que as irmãs que iam envelhecendo precisariam de ajuda. Então, comuniquei ao bispo. Os meus pais entenderam, apesar da preocupação, e eu fiquei. Foi um tempo de muito aprendizado”.

Após isso, Irmã Otília revelou que veio para o Colégio Jesus Cristo Rei, onde já funcionava a Congregação Jesus de Santíssima Eucaristia, fundada há 95 anos em Cachoeiro de Itapemirim.  

“Fui aprendendo e me dedicando à minha vocação”.

Homenagem para mineira que escolheu Sul do Estado

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Vereadores Brás Zagotto e Paulinho Careca homenagearam a Irmã Maria Joana Otília como Cidadã Cachoeirense |  Foto: Divulgação/Acervo Santa Casa de Cachoeiro de Itapemirim

Nascida em Oliveira, cidade  a 150 km de Belo Horizonte,  Minas Gerais, a Irmã Maria Joana Otília  recebeu em março, da Câmara Municipal de Cachoeiro de Itapemirim, o título de Cidadã Cachoeirense.

O certificado foi entregue pelo vereador Paulinho Careca em solenidade de homenagens da Câmara pela emancipação política do município. O documento é destinado a pessoas nascidas em outras cidades, mas que vivem na “capital secreta”. 

Ainda em março, a religiosa recebeu outra homenagem, desta vez, pelas mãos do vereador Paulo Grola, que a entregou o título de Mulher Cachoeirense. 

Na mesma oportunidade, a Santa Casa de Misericórdia de Cachoeiro, onde Irmã Otília visita enfermos há 60 anos, foi homenageada pelos relevantes serviços prestados à população. Foi entregue uma placa de reconhecimento e valorização do trabalho feito pelo hospital. 

Segundo o presidente da Câmara, Brás Zagotto, essas homenagens são formas de reconhecer o serviço que a Santa Casa e a freira oferecem  para os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).

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