Alegrias e desafios após mais de 40 anos de profissão
Médicos contam situações complicadas pelas quais já passaram e também a felicidade de um desfecho positivo

Para quem viveu uma medicina em que a internet não era tão acessível e as pesquisas, muitas vezes, se resumiam a livros e enciclopédia, há médicos no Espírito Santo que há mais de 40 anos têm acompanhado de perto todas as revoluções que a profissão tem passado. São alegrias e desafios ao longo de uma trajetória de cuidado.
Aos 70 anos, o ginecologista e obstetra Elvídio dos Santos carrega quase quatro décadas de profissão e mais de 10 mil partos na “bagagem”. Filho de lavradores de Dourados, no Mato Grosso do Sul, e primeiro médico da família, ele trocou a enxada pelo jaleco e aprendeu desde cedo que a medicina é feita de desafios, alguns que deixam marcas profundas, outros que transformam a vida para sempre.
“Quando a gente é recém-formado, acha que vai resolver tudo. Depois vem o primeiro problema, que geralmente é um grande problema. Outro desafio é estar sempre se atualizando. O médico nunca pode parar de estudar ”.
O profissional conta que hoje precisa, por exemplo, lidar com pacientes que fazem “consulta” com a Inteligência Artificial (IA).
A relação com a profissão nasceu de uma dor pessoal. Aos 13 anos, perdeu a mãe durante o parto. “Ela e o bebê morreram na mesa. Eu quis ser médico para 'salvar as minhas mães'”, relembra.
Ele iniciou sua jornada como técnico de enfermagem, aos 16 anos. Depois de muito estudo, passou para Medicina na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Durante muitos anos como obstetra, viveu histórias intensas, como o dia em que uma paciente com grave problema cardíaco morreu durante uma cesárea, mas o bebê sobreviveu.
“Era uma paciente de um colega, mas eu estava na sala com ele. Ali, de certa forma, mudei minha história ao salvar aquela criança”, diz.
Em 2016, foi o próprio médico quem precisou ser salvo. Um grave problema cardíaco o levou a uma cirurgia com cinco pontes de safena, passando por três complicações. Foram 21 dias internado, 16 deles na UTI. “Parei a obstetrícia e de operar e passei a trabalhar só com terapia hormonal e tratamento de lipedema”, relata.
“Hoje tenho mais qualidade de vida. Moro ao lado do trabalho, tenho um instituto de medicina integrativa, com mais médicos parceiros. Hoje o instituto cuida da saúde da família. Trabalho com coisa séria. Com 70 anos não podemos brincar com nosso CRM”.
"Na obstetrícia, uma das alegrias era ver pacientes que estavam há tanto tempo tentando engravidar pegarem um teste positivo”, destaca o ginecologista e obstetra.
Pouca tecnologia no início
“Estude muito e sempre!”

Prestes a completar Bodas de Ouro como médico (50 anos) em dezembro, o cardiologista Jorge França, de 75 anos, já viveu muitas alegrias e desafios na profissão.
Entre os desafios está a pouca tecnologia que havia, quando iniciou na cardiologia, comparado com que existe hoje.
“O grande desafio foi fazer cardiologia no melhor padrão da época, quando ainda não tínhamos a tecnologia de hoje com aparelhos sofisticados. O nosso ouvido, o famoso e antigo eletrocardiograma e raios-X, além da boa observação clínica, eram nossos aliados para o diagnóstico preciso”.
Também tiveram muitos aprendizados. “Um deles é saber ouvir e, principalmente, valorizar as queixas do nosso paciente. Lembrando que cada paciente tem a sua história, seu emocional e suas dúvidas. E evitar que nossas emoções interfiram na avaliação e decisão na conduta do paciente”.
Entre tantas alegrias que o médico afirma ter tido com a profissão, uma delas foi ver seus três filhos também formados médicos. E para a nova geração de profissionais ele deixa outro conselho: “Estude muito e sempre!”.
Força para cumprir missão

Com 71 anos de idade e 42 de profissão, o médico radioncologista Nivaldo Kiister atua há 38 anos no Hospital Santa Rita e já viu diversas situações dentro dos consultórios.
Um desses momentos, segundo ele, aconteceu recentemente, quando, durante uma corrida por aplicativo, o motorista contou ao médico que tinha um parente com uma afta na boca que não curava.
“Pedi ao motorista que fosse ao hospital para eu examinar e foi verificado uma lesão na cavidade oral. Encaminhei esse parente para uma biópsia, e ele está aguardando o resultado para iniciar o tratamento”.
“Apesar do câncer assustar e ainda ser um estigma, temos surpresas, como ver a cura de um paciente. Há casos também de derrotas, mas, como profissional e com a missão que temos, sempre buscamos forças para cumprir nossa missão. Fico feliz de estar há tanto anos nessa profissão para poder curar ou aliviar as dores”.
O médico conta que deseja trabalhar por um bom tempo. “Já tirei o pé do acelerador um pouco, agora trabalho apenas três vezes na semana. À tarde eu faço musculação, fisioterapia e leio”.
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