Adaptação de idosos a uma residência coletiva é um dos desafios
Desafios e preconceitos marcam a adaptação de idosos, enquanto cuidados especializados garantem bem-estar
Escute essa reportagem

Instituições privadas e filantrópicas enfrentam desafios diferentes. Enquanto na primeira opção o preço pode ser um impeditivo, na segunda, a dificuldade é angariar fundos para cuidar dos idosos.
Entretanto, elas também têm desafios comuns. Um deles é a adaptação, ou seja, a pessoa idosa se acostumar com a mudança de ambiente. O principal, entretanto, é o preconceito da sociedade, das famílias e do próprio idoso.
“O maior desafio é o preconceito que as pessoas ainda têm. Julgam sem conhecer o serviço. Ficam surpresas quando veem um local arejado, limpo e feliz. Às vezes o próprio idoso chega com esse preconceito, porque pensa que vai ser abandonado. Não é isso que acontece”, explica Paola Oliveira, especialista em gestão de Instituições de Longa Permanência para Idosos.
O preconceito dificulta a adaptação, mas não é o único fator. Diretora administrativa da Mo’ã, Gabriela Taquetti acrescenta que os idosos sentem que perdem a autonomia.
Edna Barcellos, 91, e Ruth Medeiros, 93, são duas hóspedes fixas do local. “Estou gostando de ficar aqui. Eles cuidam bem de mim”, conta Edna.
Sua filha, Monica Barcellos, 60, é sócia-proprietária da Pharmic. “Trabalho muito. Depois que minha mãe caiu, percebi que ela precisava de cuidados que não poderia ter em casa. Estamos testando ainda, mas na primeira semana já vi um bem-estar muito grande”, conta Monica.
Com 13 anos de experiência na área, a assistente social Patrícia Benevesuth percebe que a adaptação demora de 3 a 5 meses. Como outras instituições filantrópicas no Estado, o Abrigo Lar Pouso da Esperança, na Serra, recebe pessoas que sofreram violações de direitos.
No início do acolhimento, é comum haver sofrimento e frustração, pois a pessoa sente a perda de sua realidade anterior. Além disso, aprender a viver em um espaço coletivo também não é fácil.
Por esses motivos, o abrigo nunca acolhe dois idosos de uma vez em um período curto. “Quanto mais tempo aqui, mais felizes são”.
Apesar da parceria com a Prefeitura da Serra, Patrícia conta que um dos maiores desafios são os recursos. Ela complementa que a sociedade ajuda com doações e visitas, como nos dias de passeio. “Temos 11 acolhidos e um carro de cinco lugares. Sempre tem um voluntário que vem com outro”.
Day care

O casal Ronaldo e Iracema da Penha, 76, utiliza a modalidade day care do Mo’ã Residência de Vida Ativa. Isso significa que eles passam o dia. “Das 7 horas às 19 horas. Três vezes por semana”, conta Ronaldo. Casados há 45 anos, participam das sessões em grupo de fisioterapia, adoram a comida e até pescar o Ronaldo já tentou. “Gostamos muito daqui”, completa Iracema.
Sonho de casar

Feliz, apaixonada por forró e com um sonho: casar com o sanfoneiro. É assim que Maria Brito de Jesus, de 110 anos, diz que está.
“Idoso merece muito carinho e respeito”, reforça. Faz 9 anos que ela chegou no Instituto Franciscano, em Nova Almeida, na Serra. A casa de acolhida recebe idosas que foram vítimas de violações de direitos.
Dona Maria chegou ao abrigo após denúncia de ser abandonada em casa acamada, por dias, pelo filho, que teria problemas com drogas.
Raio X
Viver mais
Melhorias no acesso à saúde, avanços médicos, maior conscientização sobre hábitos alimentares e atividade física são alguns dos motivos pelos quais as pessoas vivem mais, segundo especialistas.
Crescimento de idosos no Espírito Santo
O crescimento no número de idosos entre 2010 e 2022 foi de 73,1%, segundo dados do Panorama do Idoso no Espírito Santo, divulgado pelo Instituto Jones dos Santos Neves.
Saltou de 364.745 idosos para 631.398. Os dados têm como base o Censo de 2022 do IBGE.
Estado têm o 6º maior índice de envelhecimento do País — indicador que mostra quantos idosos existem para cada 100 jovens de 0 a 14 anos.
Expectativa de vida
No início dos anos 2000, quem nascia no Estado tinha expectativa de viver, em média, 70,3 anos.
Em 2022, esse índice subiu para 79,8 anos, a segunda maior esperança de vida ao nascer entre os estados brasileiros.
77 anos é a expectativa de vida média atual no brasil.
Mundo
Até 2025, a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que a população do mundo com 65 anos ou mais deve aumentar de 10%, em 2022, para 16% em 2050.
Brasil
Em 2010 havia 20.588.891 idosos no Brasil.
Eles representavam 10,79% do total da população.
O aumento no Estado acompanha o crescimento no País.
Esse número saltou para 32.113.490 de pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, segundo o Censo mais recente, representando que 15,8% da população está na faixa etária de 60 ou mais.
“É um ato de amar e cuidar”
Está tudo bem precisar de um suporte para cuidar dos pais, assim como um dia eles necessitaram ao educar os filhos, informam especialistas em residências coletivas para idosos.
“Trazer para uma casa de repouso também é um ato de amar e cuidar. As famílias não precisam se sentir culpadas. Pelo contrário, em muitos casos estão fazendo o melhor para o idoso”, afirma Gabriela Taquetti, diretora administrativa da Mo’ã.
Ela explica que os cuidados que esses espaços oferecem nem sempre poderiam ser proporcionados pelas famílias, como segurança e supervisão constante. Um deles é a socialização, cuja falta acarreta vários prejuízos.
“O idoso diminui a quantidade de vezes que se comunica, afetando seu cognitivo. Pode ficar muito ligado na televisão ou procurar coisas mais simples e fáceis de fazer. Até deixar de andar. Casas de repouso estimulam. Há aulas, atividades, música, estão socializando e vivendo experiências. Coisas que no dia a dia, as famílias não poderiam proporcionar”, afirma.
Já a assistente social Patrícia Benevesuth acrescenta que uma das grandes queixas das pessoas idosas que não residem em uma instituição é a solidão.
Além disso, também é preciso considerar que cuidar de um idoso dependente gera uma sobrecarga no familiar responsável que pode causar desde problemas físicos, como dores nas costas, até psicológicos.
“Há estudos que comprovam que cuidar sozinho é desgastante e estressante. A família precisa de um suporte, senão ela adoece”, informa Talitha Dettmam, uma das sócias da Casa de repouso Aconchego.
MATÉRIAS RELACIONADAS:




Comentários