20% das crianças e adolescentes já receberam mensagens sexuais, diz estudo
Levantamento teve o objetivo de detalhar hábitos e riscos do acesso à internet pela população brasileira na faixa dos 9 aos 17 anos
Atenção pais e responsáveis: a pesquisa Tic Kids Online Brasil 2025 mostrou que uma a cada cinco crianças e adolescentes de 11 a 17 anos já teve contato com conteúdo sexual na internet.
Entre os jovens a partir de 11 anos, 11% disseram ter visto mensagens de conteúdo sexual postadas na internet para outras pessoas verem e a mesma proporção citou ter recebido mensagens desse tipo.
O levantamento, feito pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), foi divulgado na última quarta-feira e tem o objetivo de detalhar hábitos e riscos do acesso à web pela população brasileira de 9 a 17 anos.
De acordo com o psiquiatra João Paulo Cirqueira, quando uma criança ou adolescente recebe mensagens, fotos ou convites com teor sexual, o cérebro reage como se estivesse diante de uma situação de ameaça.
“Para o jovem, esse tipo de contato é inapropriado para o desenvolvimento e pode ser vivido como um trauma, semelhante ao de testemunhar um ato de violência sexual. A exposição precoce a essas situações pode gerar medo, confusão, culpa e vergonha, além de causar retraimento emocional, agressividade ou isolamento social”, afirmou.
“Como o sistema emocional e o senso de identidade sexual ainda estão em formação, esse tipo de vivência desorganiza a forma como o jovem entende o próprio corpo, o prazer e o consentimento”, completou o profissional.
Ele disse que, em muitos casos, os efeitos são comparáveis aos de um trauma psíquico, com impacto prolongado na autoestima e nas relações interpessoais.
E como os pais podem agir para evitar que os jovens tenham contato com esses conteúdos? Renato Sardenberg, psicólogo clínico especialista em Psicopedagogia Clínica, disse que a conversa, o diálogo aberto sempre foi e sempre será a melhor ferramenta para a orientação e conscientização.
“A postura dos pais deve ser de acolhimento, buscar estreitar os laços e fortalecer a confiança mútua, para que seus filhos não sejam ‘alvos fáceis’ de pessoas mal-intencionadas, e, quando os pais não souberem como agir, é importante que eles busquem ajuda profissional, com psicólogos, para intervir da melhor maneira possível”, comentou.
FIQUE POR DENTRO
Tic Kids Online Brasil
O que é
É um levantamento do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) que detalha hábitos e riscos do acesso à web pela população brasileira de 9 a 17 anos.
É feita anualmente desde 2012 e só não foi realizada em 2020 por causa da pandemia de covid-19.
O estudo foi realizado em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) e o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).
Entrevistados
A pesquisa ouviu 2.370 crianças e adolescentes de todo o País, com idades entre 9 e 17 anos, e 2.370 pais ou responsáveis.
O estudo foi realizado entre março e setembro deste ano.
Dados
Contato com conteúdo sexual (por imagens ou vídeos)
8% de crianças e adolescentes já tiveram contato com conteúdo sexual por imagens ou vídeos, sendo um relato mais presente entre meninos, em uma porcentagem de 12%. Em meninas, a porcentagem calculada foi de 4%.
Mensagem ou solicitação com conteúdo sexual
A partir dos 9 anos
8% das crianças e adolescentes a partir dos 9 anos foram expostos a conteúdo sexual, sendo um relato mais presente entre os meninos.
A partir dos 11 anos
11% de jovens a partir de 11 anos reportaram ter visto mensagens de conteúdo sexual postadas na Internet para outras pessoas verem.
11% de jovens a partir de 11 anos citaram ter recebido mensagens de conteúdo sexual pela internet.
Entre 15 e 17 anos
18% daqueles na faixa deentre 15 e 17 anos relataram que, alguma vez, “me enviaram pela internet mensagens de conteúdo sexual”.
Outros 14% desse grupo reportaram ter visto mensagens de conteúdo sexual postadas na web.
Além disso, 9% afirmaram que “já me pediram na internet uma foto ou vídeo em que aparecia pelado(a)” e 4%, que “já me pediram para falar sobre sexo na internet”.
Denúncia
De acordo com o delegado Marcelo Cavalcanti, pais podem denunciar aquela pessoa que enviou conteúdo sexual para seu filho menor de idade e existem várias formas.
Pode ser feita na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), de maneira presencial, em Vitória; por meio do Disque 100, que é um canal gratuito e anônimo para denúncias de violações de Direitos Humanos no Brasil; pelo Disque-Denúncia 181; a pessoa também pode procurar o Conselho Tutelar.
Consequência
Aliciar, assediar, instigar ou constranger uma criança, por qualquer meio de comunicação, com o fim de com ela praticar ato libidinoso é crime segundo o artigo 214 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A pena é de reclusão, de 1 a 3 anos, e multa.
Fonte: Cetic.br, Marcelo Cavalcanti e Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
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