O crime de colarinho branco tem compensado no Brasil
Leitores do Jornal A Tribuna
Me lembro como se fosse ontem de uma das grandes investigações de que participei na Polícia Federal no Espírito Santo, no ano de 2009. A Operação Duty Free, como foi chamada, colocou na cadeia uma organização criminosa composta por servidores públicos, advogados e empresários corruptos. Ao todo, 17 investigados foram parar atrás das grades.
No último dia 15/12 a Polícia Civil do Espírito Santo deflagrou a Operação Pianjú. O trabalho contou com a participação do Ministério Público e teve repercussão em outros 3 estados.
Ao todo foram cumpridos 126 mandados, dentre os quais, 18 de prisão preventiva, 5 de prisão temporária, 23 sequestros de embarcações e 43 ordens de bloqueio de contas bancárias.
Trata-se de uma bela investigação que colocou na cadeia, ao menos momentaneamente, alguns figurões da lavagem de dinheiro. Estima-se que a organização criminosa tenha movimentado cerca de R$ 800 milhões.
O esquema consistiu na abertura de empresas de fachada, envio de dinheiro para outros países, utilização de laranjas e mais uma série de artimanhas usadas para a lavagem de ativos.
Para se ter uma ideia do volume de dinheiro movimentado pelos criminosos, foram apreendidos, dentre outros bens, um Porsche, uma Maserati, embarcações e outros itens de luxo.
Dentro de um carro foram encontrados 600 mil dólares. Na casa de um dos marginais foi apreendida uma coleção de canetas avaliada em 300 mil reais. É dinheiro que não acaba mais!
Em telefonema interceptado pela polícia, um dos bandidos chega a afirmar ao seu interlocutor que caso fossem presos iriam para o calabouço, tamanha a gravidade dos crimes que cometeram. Por incrível que possa parecer, no entanto, o criminoso que no grampo demonstrava tanta certeza e até receio da punição, já se encontra em liberdade.
Em comum entre os dois casos, estão o modus operandi das organizações criminosas e a participação ativa de um dos componentes (preso em ambas as operações).
Numa clara demonstração de que o crime de colarinho branco tem compensado no Brasil, Wilson Cauduro (nome e vídeos divulgados pela imprensa) foi preso na Operação Duty Free e, agora, 10 anos depois, foi preso novamente na Operação Pianjú. Em vídeos, o criminoso aparece em barcos de luxo e limosines mundo afora.
Crimes graves têm sido praticados e precisam ser exemplarmente punidos! As organizações que lavam o dinheiro dos criminosos de Wall Street são as mesmas que lavam o dinheiro dos cartéis mexicanos que decapitam e penduram cadáveres em viadutos. As organizações que lavam dinheiro de corruptos brasileiros são as mesmas que lavam os recursos do PCC e do Comando Vermelho.
Não podemos, em hipótese alguma, tratar a lavagem de ativos e outros crimes de colarinho branco como crimes de menor potencial ofensivo. Não é admissível que criminosos como esses passem dias na cadeia e anos esbanjando a fortuna amealhada com o crime. Ou endurecemos nossas leis ou seremos eternamente o país da impunidade.
EUGÊNIO RICAS é adido da Polícia Federal nos Estados Unidos.
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