“Perdi um herói”, diz filho de tenente morto pelo vírus
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Mesmo com a voz embargada em vários momentos, o técnico em logística Gregory Ramos de França, 30 anos, comentou na quarta-feira (29) sobre o pai, o tenente reformado da Polícia Militar, Marcos Jorge de França, a quem se enche de orgulho de chamar de herói.
O tenente França, como era o seu nome de guerra, morreu na madrugada de quarta aos 50 anos, depois de lutar contra o novo coronavírus. Ficou oito dias internado.
Depois de quase 30 anos como militar, ele se aposentou em novembro em 2019, mesmo ano em que realizou um dos seus sonhos: ingressar na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) para cursar Gemologia.
“Meu pai também era formado em Teologia e era pastor da Assembleia de Deus de Porto Canoa (Serra). Ele angariava muitas almas para Jesus e ficava muito feliz quando uma pessoa aceitava Cristo como salvador. Falo com muito orgulho que meu pai cumpriu o papel dele nessa terra”.
O tenente era do grupo de risco, tinha hipertensão, diabetes e obesidade. Os sintomas da Covid-

19 começaram no último dia 13 e dois depois ele fez o teste, obtendo a confirmação no dia seguinte.
Inicialmente foi internado no Hospital da Polícia Militar (HPM), em Vitória, e transferido para o Hospital Estadual Dr Jayme Santos Neves, na Serra.
Durante a internação, apresentou uma pequena melhora, mas o quadro se agravou e na madrugada de ontem foi confirmada a sua morte.
“Antes ser entubado, ele conversou por videochamada com as filhas (3) e por último comigo. Ele disse que seria entubado, quando falei que seria bom, mas ele respondeu com a pergunta: 'Será?'. Insisti de que iria melhorar a respiração e ele, com um olhar perdido, respondeu: 'não sei não'”.
A conversa é finalizada depois que ele disse que amava muito o filho: “Eu respondi que também o amava muito. Por fim, ele se despede, dizendo 'amém'.”

Ao fazer a homenagem ao pai, após um pausa seguida de uma respiração profunda, Gregory disse: “Perdi um herói, que deixou um legado de um homem íntegro, honesto, fiel, que só pensava em ajudar o próximo, em ver a família feliz. O que nos conforta é saber que ele descansou com a certeza da salvação”.
Por fim, o filho deixou um recado à humanidade: “É uma doença que não escolhe sexo, idade, raça, religião, situação financeira. Não é só uma gripezinha, é uma doença devastadora. Então, o que devemos fazer é nos prevenir, cuidar dos nossos pais, avós, principalmente de quem é do grupo de risco”.
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