Musculação conquista cada vez mais idosos
Academias registraram um aumento nas matrículas de alunos com mais de 65 anos. Especialistas apontam os benefícios da prática
Durante anos a academia foi vista como um ambiente voltado à saúde dos mais jovens. Mas essa realidade está mudando! Esses espaços registraram um aumento de 57% em matrículas de idosos com mais de 65 anos.
Os dados foram levantados pelo sistema de gestão de academias Tecnofit e divulgados pela Associação Brasileira de Academias (ACAD). A pesquisa analisou a base de clientes entre os anos de 2022 e 2023.
A geriatra Fernanda Damiani afirma que a musculação é a melhor prática para evitar a sarcopenia – perda da massa e força muscular. “Os estudos mostram isso e estamos sempre tentando orientar os idosos, que eles precisam dessa atividade resistida para ganho adequado de massa muscular”.
A prática, aponta a médica, melhora também o metabolismo, a saúde óssea e, consequentemente, a densidade mineral óssea, prevenindo a osteoporose, doença muito comum com o envelhecimento.
“Percebemos melhora também da sensibilidade à insulina, no controle do diabetes, no humor, na cognição, na parte social e sintomas depressivos. É uma intervenção na saúde como um todo”, aponta a geriatra.
O profissional de Educação Física Marcelo Mascarenhas, sócio-proprietário do Qualytá Centro de Treinamento Físico, destaca que entre os motivos que têm levado os idosos a procurarem pelos treinos de musculação está a saúde, mas também a necessidade de realizar atividades rotineiras.
“Cada vez mais os idosos nos procuram, por perceberem dificuldades em realizar funções básicas do dia a dia, por exemplo, levantar da cadeira e calçar o sapato”, analisa Marcelo.
O profissional afirma que, apesar de a perda muscular acelerar após os 60 anos, com treinamento de força e uma boa alimentação, é possível não só diminuir essa perda como ter ganhos significativos de músculos.
A fisioterapeuta Renata Braz ressalta que o treinamento de resistência pode ajudar a fortalecer os ossos e reduzir o risco de fraturas.
“Além disso, a musculação ou treino de força muscular ajuda na modulação da dor por gerar estabilização articular, permitindo melhor harmonia dos músculos e articulações. Desta maneira, minimiza as dores de lesões crônicas, principalmente quando combinada com modalidades como pilates e fisioterapia”.
Orientação
Incentivada pelas sobrinhas
Motivada pelas sobrinhas, a dona de casa Luciana Pereira da Silva, 79 anos, faz musculação há oito meses na Brothers Academia. Ela treina duas vezes por semana, orientada pelo professor Jonas Ferreira.
“Nunca havia feito musculação na vida. Fazia exercícios em casa, mas, depois que iniciei a musculação, melhorei muito. Foi recomendação médica. Estou gostando muito. No dia que não treino, eu faço bicicleta, que tenho em casa. Todos os dias faço exercícios”.
Benefício
Vitalidade aos 99 anos
Aos 99 anos, o médico pediatra aposentado Lauir Machado trabalhou até os 91. Tanta vitalidade, segundo ele, está relacionada à prática de atividade física, exercida durante toda a vida.
Mesmo após o almoço ou lanches, Lauir não abria mão de realizar alguma ginástica.
Hoje, duas vezes por semana, ele faz musculação no Espaço Uno, orientado pelo personal Kelvy Pellegrini. “Como médico, sempre soube dos benefícios da atividade física para a saúde e a longevidade”, afirmou.
Especialistas apontam cuidados para evitar lesões
A ciência já demonstrou, segundo especialistas, que os exercícios de força estão longe de serem perigosos para os idosos. Ainda assim, alguns cuidados são necessários para evitar lesões.
“Não aconselho que meus pacientes realizem atividade resistida sem orientação de um profissional qualificado, a fim de evitar lesões”, orienta a geriatra Fernanda Damiani.
O profissional de Educação Física Marcelo Mascarenhas destaca ainda que todo treino, independentemente da idade, tem de ser adaptado. “E quanto mais velhos ficamos, mais propensos estamos a ter problemas musculoesqueléticos, problemas articulares, entre outros. Sendo assim, a probabilidade de termos que fazer mais adaptações no treino do idoso é maior”.
Para quem sofre com artrose e dor crônica, algumas adaptações podem ser necessárias, conforme apontou a fisioterapeuta Renata Braz, sócia-proprietária do Qualytá Centro de Treinamento Físico, como carga e intensidade – respeitando as individualidades, diagnósticos e evoluções –, controle e técnica e exercícios bem executados, com qualidade acima da quantidade.
Há casos também, segundo a profissional, em que a musculação pode ajudar até mesmo a prevenir cirurgias ortopédicas, desde que seja bem orientada, progressiva e adaptada à realidade do aluno.
“É uma das ferramentas mais eficientes que temos para evitar que problemas articulares e musculoesqueléticos evoluam a ponto de exigir intervenção cirúrgica, portanto o tratamento conservador deve ser a primeira alternativa”.
“É claro que há casos em que a cirurgia é inevitável, mas, em grande parte das situações, fortalecer pode adiá-la por muitos anos — ou até evitá-la. O fortalecimento muscular controla a dor, melhora a função, estabiliza a articulação e reduz risco de quedas e de progressão de desgaste”, esclarece Renata.
Saiba Mais
Musculação para idosos
Melhora da força muscular e do equilíbrio.
Redução significativa do risco de quedas. Aumento da capacidade funcional para atividades do dia a dia.
Melhora do metabolismo e da saúde óssea, prevenindo osteoporose.
Maior sensibilidade à insulina e melhor controle do diabetes.
Efeitos positivos no humor, na cognição e na socialização.
A musculação funciona como uma intervenção global em saúde, não é apenas exercício, mas um recurso terapêutico.
Idosos que treinam regularmente conseguem melhor força, equilíbrio e capacidade funcional, facilitando tarefas simples como levantar da cadeira, subir escadas ou carregar compras.
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